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A dança das cadeiras
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A dança das cadeiras
Com o desfolhar dos últimos dias do calendário gregoriano, reaparecem os balanços nos media, cumprindo o ritual da praxe. É a memória de um ciclo temporal, expressa de uma forma cronológica ou consoante o estatuto e a relevância dos factos e acontecimentos.
A TVI, que foi fustigada por Sócrates, vai ser dirigida por um amigo do ex-primeiro-ministro
O Observador, em formato exclusivamente digital, foi uma dessas novidades, que apareceu de rompante. Inovador e ambicioso. Ao instalar-se na antiga sede do Diário Popular - vespertino que foi um study case de tiragem e vendas antes do 25 de Abril -, juntou-se assim a A Bola, único sobrevivente da tradição da grande imprensa no coração do Bairro Alto.
O 'bairro da tinta', que abrigava boa parte dos jornais lisboetas, reabriu uma porta por entre várias que continuam fechadas.
Projecto financiado por accionistas sem histórico na imprensa, reconhece-se, sem complexos, numa orientação editorial conservadora, e de feitio liberal. Fazia falta num sector onde, ressalvadas as excepções, tem prevalecido um falso pluralismo.
Ao apostar num jornalismo ágil e criativo e num elenco escolhido de colunistas - ao estilo do Huffington Post -, o Observador atraiu, em pouco tempo, a curiosidade de uma audiência em crescendo. Deixou para trás o Diário Digital, que o antecedeu no espaço online, sem nunca ultrapassar o patamar residual.
A nova proposta editorial não ficaria isolada. O apelo digital despertaria outras iniciativas não menos interessantes, como a do Expresso diário, a par da renovação profunda da versão digital do SOL.
Dois semanários concorrentes em suporte papel, envolveram-se, quase em simultâneo, na mesma ambição do jornalismo instantâneo, que está a ganhar espaço às televisões, mais lentas a reagir.
Tanto bastou para que houvesse um assinalável incremento da publicidade online, beneficiando, também, outros formatos, como os do Público ou do DN, que também enveredaram, juntamente com o Expresso, pelo acesso condicionado (uma outra tendência muito activa no mercado dos media, confirmados os bons resultados da televisão paga).
Mas 2014 foi igualmente um ano agitado na estrutura accionista dos media, com modificações que vieram a repercutir-se na substituição expedita de direcções editoriais. Foi o que se verificou no DN - apesar das comemorações dos 150 anos gizadas pela direcção cessante - e no JN.
A dança das cadeiras não ficaria por aí. A revista Sábado, o matutino i, o Jornal de Negócios e o desportivo Record conheceram, também, por diferentes razões, novos nomes no cabeçalho. A questão da confiança e a queda de vendas e de circulação terão feito o seu caminho .
Na Controlinvest - agora rebaptizada Global Media Group -, as mudanças editoriais coincidiram com a entrada de novos accionistas, sendo Daniel Proença de Carvalho o portador do cheque principal.
Aos 73 anos, o advogado e testamentário de Champalimaud - ligado à Fundação com o nome do grande empresário - está de volta a um meio que conhece bem e do qual nunca esteve verdadeiramente divorciado. Veremos que marca consegue deixar.
Entretanto, um admirador confesso de José Sócrates assumiu ontem a direcção de informação da TVI.
Sérgio Figueiredo abandonou o conforto da Fundação EDP, onde permaneceu alguns anos, aparentemente esquecido das lides jornalísticas, para abraçar um desígnio sem experiência anterior.
Foi, aliás, ainda na qualidade de administrador da Fundação que publicou, recentemente, um texto intitulado Gosto de Sócrates, que provocaria não poucas perplexidades.
Substituído na EDP por Miguel Coutinho - outro jornalista oriundo da imprensa económica, com passagem fugaz pela direcção do DN -, Sérgio Figueiredo apresta-se para dirigir uma redacção que foi fustigada, há não muito tempo, quando o ex-primeiro-ministro queria, obcecadamente, controlar a TVI - forçando as demissões de José Eduardo Moniz e Manuela Moura Guedes.
Malhas que o destino tece… Numa altura em que Sócrates está detido e impedido de dar entrevistas, Figueiredo ocupa uma posição-chave na informação da TVI. Soa como uma espécie de prémio de consolação para quem queria domesticar aquela estação, como parte integrante de uma estratégia de poder.
No limiar de 2015, há várias cartas baralhadas sobre a mesa dos media. O futuro próximo revelará o desfecho para este complexo puzzle. Com as eleições legislativas e as presidenciais no horizonte, há quem se apresse a tomar posições. As transferências de 2014 podem ter sido um sinal. Não vamos esperar muito para ver…
Dinis de Abreu | 06/01/2015 20:30:19
SOL
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