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A economia e o poeta

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Mensagem por Admin Seg Jan 12, 2015 5:36 pm

Só os bons alunos, que passam o julgamento dos mercados, são premiados, o que vai cortar muita conversa sobre a obrigação dos credores aceitarem reestruturações impostas pelos devedores.


Para a economia europeia, 2015 é mais um ano de expectativa. Isto porque 2014 não foi um ano de valor acrescentado: um ano depois, estamos na casa da partida. Não houve progressos na frente das finanças públicas europeias ou na recuperação da economia privada, o que faz o PIB europeu estar a crescer a um ritmo fraco e estamos assombrados pelos mesmos problemas, com as mesmas hesitações: se em Portugal, Irlanda e Espanha houve progresso, na Grécia andámos para trás, a Itália está "gripada" e a França já espirra. Perdemos até na comparação: a economia americana está a crescer e vai continuar acima de 3% (no terceiro trimestre de 2014 cresceu 5% em ritmo anualizado e criou mais de três milhões de empregos em 2014, o que não acontecia desde o século anterior, um quarto deste número em empregos altamente qualificados).

Mesmo os factores positivos actuais, como a queda dos custos da energia, têm custos de longo prazo: como escreveu John Schwartz, o mais estranho efeito da queda do preço do petróleo é fazer cair o QI dos americanos, que deixam os carros mais económicos e amigos do ambiente para usarem os sorvedouros de gasolina, uma vitória de pirro da esperança sobre a experiência. Combustíveis e electricidade mais baratos afastam investimentos favoráveis ao ambiente, quando 2014 terá sido o ano mais quente desde que há registo. Algo mais vai ter que ser feito na frente ambiental, estamos para ver o quê.

O próximo dia 22 de Janeiro vai ser muito importante para nós, europeus. É o dia em que o BCE vai decidir sobre o seu programa de ‘quantitative easing', ou seja, o montante que vai aplicar na compra de dívida dos países da UE e as regras. Isto é o mais perto que chegaremos da mutualização da dívida pública europeia, até porque é certa a oposição do Bundesbank. E cria um novo tipo de condicionalidade: só países cuja dívida tem ‘ratings' entre AAA e BBB- vão beneficiar desta medida, os outros ficam por conta dos seus bancos centrais. Só os bons alunos, que passam o julgamento dos mercados, são premiados, o que vai cortar muita conversa sobre a obrigação dos credores aceitarem reestruturações impostas pelos devedores. Dos fracos não reza a história, quem não cumprir sofre as consequências e adiar reformas não é opção.


Necessitamos de um novo modelo de desenvolvimento, mas não sabemos em que o vamos assentar. Dizer coisas como é preciso mais empreendedorismo são vazias quando não conseguimos dar sinais sobre quais são as direções de mudança, quando se espera mais de Estados que têm pouca capacidade de acção e quando o sector financeiro está mais interessado em financiar sectores e empresas maduros do que em apostar no que envolve riscos, quando a única certeza a curto prazo é a incerteza - a volatilidade é a única dimensão que não vai cair em 2015. O futuro é mais aleatório e o passado tem um valor preditivo menor, quando ainda tem algum. Como vai a economia europeia em 2015? Como dizia o poeta, vai formosa e não segura, e a dúvida é na parte da "formosa".

Fernando Pacheco
00.05 h
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