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A bazuca e a bisnaga
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A bazuca e a bisnaga
Agora sim é tempo de falarmos da Grécia. Um povo que esteve na génese desta Europa que conhecemos, um povo que nos deu debates filosóficos de grande profundidade, onde nasceu a democracia e a retórica.
A Grécia é um país fascinante. Quer pela sua história, quer pela sua cultura. É um Estado-Membro de pleno direito, sujeito de direitos e obrigações neste espaço comum, neste sonho de União Europeia. E um Estado soberano, tem o direito de escolher os seus. Quem deseja ver à frente do seu governo, para representar os seus interesses. Sim, o contexto importa. É um país com uma dívida pública na ordem dos 177% do PIB, que já conheceu uma reestruturação da dívida pública, detida pelos seus dos credores do sector privado. Um povo que sofre duramente com o ajustamento decorrente de dois resgates. Que vive com a Troika às costas. Um povo que se revoltou, depois de todos os indicadores económicos entrarem em colapso, com o desemprego disparar, o acesso e qualidade dos cuidados de saúde a deteriorarem-se, que viu casos de corrupção e escândalos económicos gritantes e a manutenção persistente de uma significativa fuga aos impostos. É um povo irreverente, mas que está desiludido. Foi esse sentimento que, através do voto, se materializou na vitória do Syriza, foi esse o voto que penalizou Samaras e a Nova Democracia, depois de avançarem com as medidas de austeridade, iniciadas no Governo do PASOK, liderado por George Papandreou, partido que quase desapareceu nas eleições. Durante anos a alternância PASOK Nova Democracia liderou os destinos do país e muito contribuiu para o crescimento desta dívida e para um país sem rei nem roque.
A vitória do Syriza veio colocar todos em sentido. Pela Europa fora, assistimos ao natural período de adaptação. Não é só a falta de gravata de Alexis Tsipras ou a camisa para fora do Ministro das Finanças Yanis Varoufakis. É a nova linguagem, o novo estilo, as novas ideias, a força e a rapidez com que chegam. Querer ignorar esta mudança é querer tapar o sol com a peneira. Estamos verdadeiramente a presenciar uma nova forma de estar na Europa. Tudo é posto em causa, tudo é alvo de novas respostas.
A tão famosa bazuca de Draghi, que oportunamente foi anunciada poucos dias antes das eleições gregas, chegou também deste movimento das placas tectónicas da União Europeia, em que a Sul se move a esquerda com partidos como o Syriza e movimentos como o Podemos e a Norte se move a direita com o Alternativa para a Alemanha e a Frente Nacional, para falar apenas de alguns. Já não há espaço para a linguagem técnica da Europa e para eurocratas engravatados distantes da realidade das pessoas, urge dar lugar à política, pois é de política e de poder que se moldam os próximos passos da saga europeia. É um enorme desafio para o projecto europeu. A Europa bateu contra a parede. Viveu um sonho de integração de diferentes países e culturas, mas chocou com a realidade de uma moeda comum, mas com realidades fragmentadas, veja-se a diferença de taxas de juro praticadas a crédito a uma PME alemã ou a uma italiana. Nestes tempos, tudo está em fluxo. A abrupta descida do preço do petróleo já provocou ondas que ainda estarão para chegar. Países a fecharem a torneira do investimento, ao verem o preço do ouro negro a descer. A China a olhar com cautela para o mundo, os EUA a recuperarem economicamente, com valores de crescimento na ordem dos 5% e uma Europa cada vez mais anémica.
Ora, todos estes desafios, levam ao repensar do projecto europeu. O mais preocupante é ver que não bastam as boas intenções, um hino e alguns Tratados para o projecto europeu seguir em frente. É preciso um plano estratégico coerente e solidário. Não dá para vender submarinos e helicópteros aos que menos têm, provocando o aumento da dívida, para depois exigir cortes e medidas que colocam as pessoas na pobreza e no desespero. A raiva e a humilhação são más conselheiras.
E é este o drama do projecto europeu e também de Portugal. É a busca da melhor resposta a dar à pobreza. É o desaparecimento da classe média, o motor de uma economia pujante e de uma democracia funcional, que enfraquece este sonho europeu.
Comecemos por aí. Mais do que simplificar o que é complexo em conto de crianças, temos sim, muitas crianças que já nascem endividadas, mas pior, nascem com fome, com pais desfeitos sem emprego, sem dinheiro e sem esperança. Bem podem vir os Costas desta vida festejar vitórias alheias ou as estridentes Catarinas saltarem à procura do melhor canto na fotografia grega. O problema é de todos.
Não alinho no sentimento dos que querem ver se Tsipras falha ou trai o seu povo. Alinho num optimismo moderado como expresso na semana passada na The Economist .
Espero que esta convulsão seja aproveitada para obter um resultado benéfico na construção do Euro e da União Europeia. Não podemos viver ao sabor dos humores de Berlim, nem em guerra permanente entre Estados-Membros. A história demonstra bem o quão explosivo é o clima de confrontação no Continente Europeu, sobretudo quando se alimentam os extremismos. Temos uma moeda comum para gerir, temos agora a bazuca de Draghi, que nos dá tempo limitado para reformar, onde o desafio é ver os 1,1 biliões de euros chegar à economia real, saindo dos bancos para as empresas e para as pessoas. Se Draghi tem a bazuca, cada país tem a sua bisnaga. Hoje, com as várias transferências de soberania económica, cada país depende do seu Orçamento de Estado para gerir a sua economia. É curto, o que obriga a um enorme controlo orçamental. Esta é a medida dos nossos problemas. É este o trapézio europeu que enfrentamos. Nem a Grécia pode ser beneficiária exclusiva, apenas por ter um governo com uma estratégia mais hostil, nem Portugal pode ser prejudicado por ter passado nas avaliações periódicas do Memorando de Entendimento, tendo hoje as taxas de juro da divida a dois e dez anos em mínimos históricos, que possibilitam o pagamento antecipado ao FMI, dos empréstimos recebidos.
É a tão sonhada solidariedade europeia que está em causa. Uma equação a ter de ser resolvida nos próximos Conselhos Europeus.
7:00 Segunda feira, 2 de fevereiro de 2015
Expresso
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