Europa

Um espectro ronda a Europa – o espectro da miséria e da guerra. Os povos do Sul foram pauperizados pela doutrina moralista do cá se fazem cá se pagam. A leste, a Rússia anexou os territórios russófonos da Ucrânia, enquanto estende uma mão amiga à Frente Nacional e ao UKIP. A equação que resolve o futuro da Europa não se joga apenas com variáveis financeiras e económicas, mas também numa dimensão geopolítica. Para Putin, a implosão do euro e da integração europeia significa a destruição do bloco político, económico e militar que se opõe aos seus planos hegemónicos.

Para o conseguir, financia partidos anti-União Europeia e está disponível para ajudar os gregos (com que partilha a ortodoxia cristã) na luta antiausteridade. Enquanto a guerra larvar que alastra na Ucrânia se incendeia, os russos vão jogando outras fichas contra Berlim. Os alemães têm por isso motivos de sobra para estar preocupados – uma saída da Grécia da moeda única e da Europa terá um efeito de dominó sobre a estabilidade financeira e política em toda a Europa meridional, abrindo eventualmente uma fissura irreversível entre Norte e Sul. Se a Alemanha ainda quiser salvar o projecto europeu, será sempre mais barato pagar agora as exigências gregas que enfrentar um surto de instabilidade em Espanha, Portugal, Itália e França.

Independentemente de quaisquer considerações éticas, económicas ou políticas, há um custo inerente à integridade do euro e da União Europeia. E isso será sempre pago por Berlim e pelos seus aliados do Centro e do Norte. Gostem ou não, são eles que custearão um espaço de moeda única e de livre circulação de mercadorias, de que aliás são os grandes beneficiários. Terão de ser tomadas decisões nas próximas semanas. E será um tudo ou nada, porque o destino da Europa decide-se de novo agora.

Escreve à sexta-feira

Por José Diogo Madeira
publicado em 6 Fev 2015 - 08:00
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