Leve leve

Pode significar muita coisa, mas para algumas pessoas significa apenas uma, tem apenas um enquadramento e representa um único estado de espírito – São Tomé e Príncipe. Mais que uma expressão é um estado de alma, de tempo e espaço, em que tudo se resolve, mais cedo ou mais tarde, numa terra em que não há lugar nenhum para ir, apenas estar.

Uma terra pertença da natureza e que o homem tomou, construiu e povoou. Tirou partido dela mas não a conquistou. Pelo contrário, abraça edifícios, cobre linhas férreas e vive no seu esplendor nos olhos e nos rostos das gentes. Vivi São Tomé durante a última semana, da mesma forma que o vivo sempre que aqui venho – Leve Leve.

Partilhei os sorrisos contagiantes das crianças que correm nas ruas do seu pequeno mundo. Partilhei as mágoas espelhadas nos olhos dos mais velhos, que parecem perdidos entre um tempo que não era deles e um que não compreendem mais. Senti o cansaço das mães que carregam o filho às costas enquanto esperam a sua vez para encher a bacia de água.

E vale a pena. Vale a pena viver São Tomé, as suas gentes e as suas vidas – Acorda-nos! Faz-nos parar e pensar na vida – na nossa, aquela que temos e a que não damos o mínimo valor. Aquela em que não sorrimos às pessoas, em que não paramos, que não apreciamos, de que nos queixamos e em que nunca temos tempo para nada.

Vale a pena acordar e perceber a vida, essa que nós levamos, e que não passa “leve leve”. Que é movida a impressões e vivida para impressionar. Aprende-se muito aqui: um jovem a quem pedi uma indicação e se ofereceu para me levar despediu-se com um simples “de nada… amanhã posso precisar de ti! Leve Leve estamos aí!”

Secretário da ARCTEL-CPLP 
Escreve ao sábado

Por Filipe Baptista
publicado em 7 Fev 2015 - 08:00
Jornal i