Ambição

Necessitamos de um sentido de possibilidade renovado." Esta frase de W. Gillies, presidente da Fundação Kauffman foi proferida no âmbito do seu discurso de abertura do congresso anual da Fundação há duas semanas, nos EUA. E defendia que a via para levar a cabo essa renovação era com o empreendedorismo. Com a criação e desenvolvimento de novas empresas, com a criação de novos postos de trabalho, com a renovação da dinâmica do espírito inovador. 

O discurso era contextualizado pelas dificuldades a serem vividas na economia americana. Mas poderia ter sido proferida em Portugal. Aqui, também necessitamos (desesperadamente) de uma orientação empreendedora para dinamizar o aparecimento e o crescimento de novas empresas e aumentar a prosperidade das várias regiões e o progresso do país.

Como a investigação tem vindo a demonstrar, existem vários tipos de empreendedores que tendem a estar associados a actividades de natureza diferenciada. O recente estudo do World Economic Forum é, neste caso, bem elucidativo (Leveraging Entrepreneurial Ambition and Innovation). Particularmente interessante é a categoria que identifica como "empreendedores ambiciosos" que são os empreendedores que desejam criar uma organização que possa empregar vinte ou mais pessoas no horizonte de cinco anos.

Apesar de não se poder estabelecer uma relação causal, constata-se que quanto mais competitiva é uma economia maior é a percentagem de empreendedores deste tipo. E que conforme um país vai aumentando a sua competitividade aumenta a proporção de empreendedores ambiciosos. É interessante constatar que nos cinco primeiros lugares, nesta relação, se encontram a China/Taiwan, Colômbia, Lituânia, Japão e República Popular da China. Como seria expectável, os dados evidenciam que a economia portuguesa também não está bem posicionada nesta categoria.


Conforme a competitividade de um país aumenta e a situação económica em global melhora, o custo de oportunidade para potencial empreendedor tende a aumentar pois tendem a aparecer mais oportunidades de emprego e de carreira nas organizações existentes. Assim, tende a verificar-se que os indivíduos que iniciam uma nova actividade num ambiente mais competitivo o fazem com maior ambição e com motivos que vão para além da subsistência. Isto é, os "empreendedores ambiciosos" tendem a ultrapassar os "empreendedores por necessidade", aqueles que criam o seu próprio emprego. "Ser feliz, rico, amado, reconhecido, poderoso, apaixonado, útil, deixar rasto, não sofrer: serão estas as ambições da maioria" (J. Attali). Necessitamos que a ambição aumente em Portugal. E necessitamos muito de empreendedores ambiciosos.