Procurar
Entrar
Últimos assuntos
Tópicos mais visitados
Quem está conectado?
Há 289 usuários online :: 0 registrados, 0 invisíveis e 289 visitantes :: 1 motor de buscaNenhum
O recorde de usuários online foi de 864 em Sex Fev 03, 2017 11:03 pm
Comediantes
Página 1 de 1
Comediantes
O que interessa é que o designado comentador político entretenha os espectadores. O rigor da informação ou a veracidade do comentário é irrelevante
Em Portugal a opinião política divide-se entre o tosco sectarismo oculto na agenda partidária dos intervenientes e a indústria do entretenimento.
Hoje impera um populismo mediático alimentado por simplificações propositadamente demagógicas em que a atrevida ignorância e um estilo vaudeville se impõem aos argumentos e às ideias.
As estratégias de captação de audiências predominam sobre o discurso político, sobre a reflexão e argumentação critica.
Tudo se passa num cenário onde o que importa é parecer mais que ser, controlar a pose, dominar a forma, o espaço e a técnica mais que a métrica, e em extremo pode mesmo não saber nada, tem que dar é um bom "boneco".
A inqualificável "Barca do Inferno" na RTP informação e o "Eixo do Mal" da SIC Noticias, apesar das diferenças de estilo, são dois produtos de entretenimento vendidos como espaços de debate político, mas de facto não o são.
É a subordinação do debate e da análise politica ao show. O que interessa é que o designado comentador político entretenha os espectadores. O rigor da informação ou a veracidade do comentário é irrelevante.
Marcelo Rebelo de Sousa é mestre desta subversão de valores. O que faz todas as semanas ao domingo num evangelho televisivo é ressuscitar a voz, os tiques e as carrancas do boneco contratado para entreter audiências que sabem não ir assistir ao comentário político isento e rigoroso, mas a um boneco a vender o professor.
O medíocre celebrado como categoria de comunicação e o vazio elevado a escola de pensamento.
Esta realidade só é possível com a participação activa do político actor de televisão.
O professor e politólogo francês Bernard Manin chama "democracia de audiências" à constante necessidade de determinados políticos, quase de forma esquizofrénica, marcarem presença no espaço televisivo.
Esperam, e de facto em alguns casos conseguem aumentar o seu capital simbólico mediante uma presença permanente nas televisões. Isso não seria nada de mais numa sociedade de massas mediática, são as condições a que se tem que adaptar a política hoje.
O questionável é quando ao rigor argumentativo e de ideias se sobrepõe o critério do espectáculo.
Nesse momento os políticos convidados ou residentes, deixam de ser portadores de conceitos e ideias políticas para passar a entretainer e de quem se espera que mantenham as audiências ao nível da publicidade desejada.
De tal forma assim é, que os comentadores políticos, e nunca houve tantos nas televisões portuguesas, não consideram a sua intervenção televisiva como uma oportunidade de divulgar ao público os seus programas, mobilizar simpatias e apoios, tratam de negociar contractos com os respectivos canais onde se estabelecem os valores e as obrigações.
Estabelecem um vínculo em que a sua liberdade depende exclusivamente das estratégias comerciais ou do enquadramento ideológico do grupo de comunicação a que pertence o canal.
Por sua vez o político contratado sujeita-se e aceita adequar e mutilar a verdade na esperança que a sua presença em antena lhe valha a notoriedade necessária para traficar posições no partido da sua devoção.
É uma relação perversa onde o princípio é simples, só há dinheiro se houver palhaços. A concorrência entre grupos mediáticos leva a que se abandone o seu "objectivo cívico" o que conta é a rentabilidade económica.
A informação e o entretenimento tendem cada vez mais a confundir-se. Os pretensos comentadores e analistas sabem-no.
Dizem todos o mesmo, com variações que resultam de ego, níveis de iliteracia, ajustes de conta ou afeição partidária. Protegem-se em círculos de compadres de ofício.
Participam e vivem da mistificação da ideia de debate político, fazem parte do esforço e da máquina de manipulação. Servem a casta. São pagos pela casta. São o extracto inferior da casta.
Consultor de comunicação
Escreve às quintas-feiras
Por Artur Pereira
publicado em 26 Fev 2015 - 08:00
Jornal i
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
Qui Dez 28, 2017 3:16 pm por Admin
» Apanhar o comboio
Seg Abr 17, 2017 11:24 am por Admin
» O que pode Lisboa aprender com Berlim
Seg Abr 17, 2017 11:20 am por Admin
» A outra austeridade
Seg Abr 17, 2017 11:16 am por Admin
» Artigo de opinião de Maria Otília de Souza: «O papel dos custos na economia das empresas»
Seg Abr 17, 2017 10:57 am por Admin
» Recorde de maior porta-contentores volta a 'cair' com entrega do Maersk Madrid de 20.568 TEU
Seg Abr 17, 2017 10:50 am por Admin
» Siemens instalou software de controlo avançado para movimentações no porto de Sines
Seg Abr 17, 2017 10:49 am por Admin
» Pelos caminhos
Seg Abr 17, 2017 10:45 am por Admin
» Alta velocidade: o grande assunto pendente
Seg Abr 17, 2017 10:41 am por Admin