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Mensagem por Admin Qui Fev 26, 2015 12:24 pm

     Comediantes 14249007632644

O que interessa é que o designado comentador político entretenha os espectadores. O rigor da informação ou a veracidade do comentário é irrelevante


Em Portugal a opinião política divide-se entre o tosco sectarismo oculto na agenda partidária dos intervenientes e a indústria do entretenimento.

Hoje impera um populismo mediático alimentado por simplificações propositadamente demagógicas em que a atrevida ignorância e um estilo vaudeville se impõem aos argumentos e às ideias.

As estratégias de captação de audiências predominam sobre o discurso político, sobre a reflexão e argumentação critica.

Tudo se passa num cenário onde o que importa é parecer mais que ser, controlar a pose, dominar a forma, o espaço e a técnica mais que a métrica, e em extremo pode mesmo não saber nada, tem que dar é um bom "boneco".

A inqualificável "Barca do Inferno" na RTP informação e o "Eixo do Mal" da SIC Noticias, apesar das diferenças de estilo, são dois produtos de entretenimento vendidos como espaços de debate político, mas de facto não o são.

É a subordinação do debate e da análise politica ao show. O que interessa é que o designado comentador político entretenha os espectadores. O rigor da informação ou a veracidade do comentário é irrelevante.

Marcelo Rebelo de Sousa é mestre desta subversão de valores. O que faz todas as semanas ao domingo num evangelho televisivo é ressuscitar a voz, os tiques e as carrancas do boneco contratado para entreter audiências que sabem não ir assistir ao comentário político isento e rigoroso, mas a um boneco a vender o professor.

O medíocre celebrado como categoria de comunicação e o vazio elevado a escola de pensamento.

Esta realidade só é possível com a participação activa do político actor de televisão.

O professor e politólogo francês Bernard Manin chama "democracia de audiências" à constante necessidade de determinados políticos, quase de forma esquizofrénica, marcarem presença no espaço televisivo.

Esperam, e de facto em alguns casos conseguem aumentar o seu capital simbólico mediante uma presença permanente nas televisões. Isso não seria nada de mais numa sociedade de massas mediática, são as condições a que se tem que adaptar a política hoje.

O questionável é quando ao rigor argumentativo e de ideias se sobrepõe o critério do espectáculo.

Nesse momento os políticos convidados ou residentes, deixam de ser portadores de conceitos e ideias políticas para passar a entretainer e de quem se espera que mantenham as audiências ao nível da publicidade desejada.

De tal forma assim é, que os comentadores políticos, e nunca houve tantos nas televisões portuguesas, não consideram a sua intervenção televisiva como uma oportunidade de divulgar ao público os seus programas, mobilizar simpatias e apoios, tratam de negociar contractos com os respectivos canais onde se estabelecem os valores e as obrigações.

Estabelecem um vínculo em que a sua liberdade depende exclusivamente das estratégias comerciais ou do enquadramento ideológico do grupo de comunicação a que pertence o canal.

Por sua vez o político contratado sujeita-se e aceita adequar e mutilar a verdade na esperança que a sua presença em antena lhe valha a notoriedade necessária para traficar posições no partido da sua devoção.

É uma relação perversa onde o princípio é simples, só há dinheiro se houver palhaços. A concorrência entre grupos mediáticos leva a que se abandone o seu "objectivo cívico" o que conta é a rentabilidade económica.

A informação e o entretenimento tendem cada vez mais a confundir-se. Os pretensos comentadores e analistas sabem-no.

Dizem todos o mesmo, com variações que resultam de ego, níveis de iliteracia, ajustes de conta ou afeição partidária. Protegem-se em círculos de compadres de ofício.

Participam e vivem da mistificação da ideia de debate político, fazem parte do esforço e da máquina de manipulação. Servem a casta. São pagos pela casta. São o extracto inferior da casta.

Consultor de comunicação


Escreve às quintas-feiras

Por Artur Pereira
publicado em 26 Fev 2015 - 08:00
Jornal i
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