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Voltando à pobreza...
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Voltando à pobreza...
“O artesanato não dá para viver mas é uma ajuda”, acrescenta, “e a gente gosta deste trabalho.” É o poder local a cuidar dos seus. Há disso
Os avós já eram caseiros daquele proprietário, possuidor de terras, igualmente arrendadas, em várias freguesias. O destino do pai, e irmãos, na lógica dinástica da pobreza, seria o mesmo. Só que o pai quando quis casar, e não tinha dinheiro nem para o fato de casamento, obrigatório para não ficar mal visto na aldeia, teve de emigrar. Ganhou para o fato mas queria também ganhar para uma "junta de vacas" - o que lhe permitiria melhores condições como rendeiro -, e já agora para... E foi ficando. E a mulher e os filhos acabaram emigrados. E a aldeia natal ficou sem eles e muitos outros. A pobreza falou mais alto. Regressaram assim que puderam. E agora a pobreza volta a estar à espreita. Diferente da de outros tempos, porém, tempos de míngua. Esta é, resumida, a história contada por uma das 14 artesãs da loja, cedida pela Câmara Municipal de Ponte da Barca, que ali se estabeleceram. "O artesanato não dá para viver mas é uma ajuda", acrescenta, "e a gente gosta deste trabalho." É o poder local a cuidar dos seus. Há disso.
Atravessando a ponte sobre o Lima, do outro lado fica Arcos de Valdevez, onde corre o Vez e a frente ribeirinha teve intervenção catita, a merecer visita. A entrada na vila é desafogada, cheia de rotundas, como manda o brio do poder local. Enfim. Todavia a vila espaireceu, está mais aperaltada, e a revitalização urbana tem deixado rasto. O concelho está bem servido de casas senhoriais, os tais terratenentes de outrora, na maioria recuperadas pelos actuais proprietários para turismo de habitação com recurso a fundos europeus. A própria autarquia adquiriu algumas e deu-lhes outra função, comunitária. Disso é exemplo a Casa das Artes, edifício setecentista onde, no andar nobre, foi instalada a biblioteca municipal, espaço funcional que mantém, devidamente recuperados, esplêndidos trabalhos de pintura e estuque. A elegante escadaria de acesso está encimada por uma magnífica clarabóia. Tudo ao serviço dos munícipes e, foi-nos dito, com acolhedora bonomia, largamente frequentada pela população jovem e estudante. Deixar a vila sem passar pela taberna do Delfim, uma vedeta local dos cantares ao desafio, tão minhotos, recomendou o técnico do Turismo que não o fizéssemos: uma curiosa colecção de concertinas exibe-se no meio de tudo quanto é tralha e bibelô, num Kitsch regional à mistura com pataniscas e vinho verde. Indizível!
O deleite não apagou o travo da narração da artesã ex-emigrante. Não obstante o caminho do desenvolvimento percorrido e que transfigurou completamente o rosto do país, indelevelmente no interior rural, os jovens de hoje também têm de emigrar para conseguir construir vida própria. Ou só emprego. Partem novos e menos novos em busca de oportunidades. Na maioria, Portugal investiu na sua formação, qualificou-os e desperdiçou- -os. Outros, mais avisados e com mais posses, aproveitaram-nos. Até lhes podem pagar menos que aos nacionais que mesmo assim eles ganham mais do que se por cá ficassem. Expatriados de uma terra, que, sendo a sua, lhes nega o direito a uma vida com qualidade. E não se diga que a vida noutras paragens, fora do padrão ocidental, é bem mais madrasta. Somos europeus. E na União Europeia estamos integrados.
Como se tivéssemos voltado ao tempo da pobreza dinástica.
Gestora
Escreve quinzenalmente ao sábado
Por Maria Helena Magalhães
publicado em 28 Fev 2015 - 08:00
Jornal i
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