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Cabelos brancos
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Cabelos brancos
Daqui a um mês faço a idade que a minha mãe tinha quando me teve. E ontem fui ao cabeleireiro cobrir os brancos com uma tinta que não é propriamente no tom da auto-ilusão, mas mais da afinação: creio que ainda faça sentido tentar sintonizar a minha inquietação interior com a minha cor de cabelo. Infelizmente, o resultado nunca é bem aquele que vem no catálogo. Ficou assim mais a dar para o negação.
Julgo que a minha mãe não tinha cabelos brancos com a minha idade. Já tinha vivido muito, já tinha tido um filho e a vida não era fácil – apenas relativamente previsível. Eu não vivi nada, não tive filhos e tenho a vida bastante facilitada – e não faço a menor ideia do que aí vem.
É isto que, de forma geral, nos caracteriza como geração (e sim, estou a generalizar partindo dos jovens adultos cujo privilégio de poderem ser um bocadinho menos adultos que os outros lhes permite darem--se a estas reflexões). Por isso nos dizem que os 30 são os novos 20 e que os 40 são os novos 30. E uma pessoa vai criando pequenas revoluções – separar-se, apaixonar-se, voltar a estudar, criar um negócio – para que a vida esteja sempre na iminência de começar. Até ao dia em que acaba. E, provavelmente, ainda tínhamos tanto para fazer.
O que me intriga é a próxima geração, a dos nossos filhos. É que o melhor tédio que alguma vez senti foi o da infância. “Mãe, não tenho nada para fazer”, dizia a meio das infindáveis férias de três meses. Pois claro: não tinha nada para fazer porque podia fazer TUDO: desenhar, fazer vestidos para a Barbie, chatear formigas. E eu, apesar de agora não ter tempo para ter tédio, sinto que ainda sou essa miúda que só não faz nada porque, se quisesse, podia fazer muita coisa. Sou espectacular em potência.
Mas e os garotos de hoje que, aos quatro anos, têm aulas de Inglês ao sábado de manhã? O que fariam se pudessem entediar-se? Eu sei o que fazia aos sábados de manhã na minha infância: via desenhos animados. Era uma canseira. Também sei o que fazia, anos mais tarde, já na faculdade, quando tinha aulas de Inglês ao sábado de manhã: baldava-me.
Talvez, segundo esta lógica, os quatro sejam os novos 40. Quantos cabelos brancos terão os miúdos de hoje quando chegarem aos 30? Tantos como eu, mas não pelas mesmas razões: eles, por terem demasiado que fazer aos sábados de manhã, e eu por ter passado demasiados sábados de manhã na cama depois de fazer noitadas de borga.
Isto, agora que penso, pode garantir um bonito encontro de gerações à saída da discoteca: esta, velha, a ir deitar-se ao nascer do sol e a ver a juventude passar na rua, a caminho das suas aulas de Inglês.
Guionista, apresentadora e porteira do futuro
Escreve à sexta e ao sábado
Por Ana Markl
publicado em 14 Mar 2015 - 08:00
Jornal i
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