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Desmediatizar os debates
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Desmediatizar os debates
Deve-se abandonar o sistema centrado na responsabilidade dos media (televisões) e transferi-lo para os partidos e coligações.
Agora que se aproximam as eleições e regressa à discussão o sempre polémico tema do papel dos media na cobertura das pré-campanha e campanha (que já teve episódios picantes) urge, a meu ver, procurar um novo modelo para os debates pré-eleitorais, um dos pontos-chave de dificuldades, confusão e acusações recorrentes nestas situações em Portugal.
Deve-se abandonar o sistema centrado na responsabilidade dos media (televisões) e transferi-lo para os partidos e coligações. Como nos Estados Unidos. Os debates são eventos políticos - e só secundariamente mediáticos. São, pois, as candidaturas que os devem organizar.
Os partidos acordam entre si datas, protagonistas, locais (fundações, universidades, hotéis), regras, moderadores, extensão e anunciam os debates acordados. Depois, quem quiser transmitir, transmite. Até podem todas as televisões passar determinado debate, ou não - isso cabe às decisões editoriais de cada um. Deixará de haver o 'debate da RTP’, o 'debate da SIC ', o ‘debate da TVI'; acabaria a rivalidade pelas audiências, a subordinação dos candidatos à lógica da luta mediática.
Um debate político deve privilegiar o facto político e lateralizar o facto mediático, que se deve limitar a reproduzi-lo. Os debates ganhariam independência e consistência, realçando o seu papel pedagógico de esclarecimento e cidadania.
Ainda se vai a tempo de introduzir este aperfeiçoamento metodológico no próximo episódio eleitoral, dignificando a intervenção das candidaturas no universo eleitoral do nosso país.
O sistema teria, entre outras vantagens, a de fazer reverter o controlo da política para os agentes políticos, no caso as candidaturas dos partidos e coligações, libertando os agentes políticos de uma espécie de 'subserviência' em relação aos media, pelo menos aos mais poderosos.
Pressente-se da relação partidos/media em Portugal, que a agenda é sistematicamente conduzida pelos media, funcionando numa narrativa em que as iniciativas pertencem aos jornais, às rádios e às televisões, com os partidos a aproveitarem o trabalho dos jornalistas para marcarem o ritmo das suas intervenções. Às vezes esta ligação de 'canibalização' do esforço jornalístico pelos partidos chega a ser penosa.
Pois bem, o corte do cordão umbilical que amarra hoje em dia os debates pré-eleitorais ao timing e aos interesses de grelha das televisões seria muito saudável no sentido de mostrar/salientar que a política tem um campo próprio de intervenção, um campo desejavelmente de excelência, do qual não abdica. Isto não menoriza de nenhum modo a função da imprensa no devir da coisa pública, simplesmente adequa e formata razoavelmente os papéis respectivos destes dois pilares fulcrais da democracia, a saber, o livre exercício dos poderes da República, por um lado, e a liberdade de expressão, por outro.
Jurista, antigo membro da Alta-Autoridade para a Comunicação Social
SEBASTIÃO LIMA REGO 16/05/2015 - 07:01
Público
Agora que se aproximam as eleições e regressa à discussão o sempre polémico tema do papel dos media na cobertura das pré-campanha e campanha (que já teve episódios picantes) urge, a meu ver, procurar um novo modelo para os debates pré-eleitorais, um dos pontos-chave de dificuldades, confusão e acusações recorrentes nestas situações em Portugal.
Deve-se abandonar o sistema centrado na responsabilidade dos media (televisões) e transferi-lo para os partidos e coligações. Como nos Estados Unidos. Os debates são eventos políticos - e só secundariamente mediáticos. São, pois, as candidaturas que os devem organizar.
Os partidos acordam entre si datas, protagonistas, locais (fundações, universidades, hotéis), regras, moderadores, extensão e anunciam os debates acordados. Depois, quem quiser transmitir, transmite. Até podem todas as televisões passar determinado debate, ou não - isso cabe às decisões editoriais de cada um. Deixará de haver o 'debate da RTP’, o 'debate da SIC ', o ‘debate da TVI'; acabaria a rivalidade pelas audiências, a subordinação dos candidatos à lógica da luta mediática.
Um debate político deve privilegiar o facto político e lateralizar o facto mediático, que se deve limitar a reproduzi-lo. Os debates ganhariam independência e consistência, realçando o seu papel pedagógico de esclarecimento e cidadania.
Ainda se vai a tempo de introduzir este aperfeiçoamento metodológico no próximo episódio eleitoral, dignificando a intervenção das candidaturas no universo eleitoral do nosso país.
O sistema teria, entre outras vantagens, a de fazer reverter o controlo da política para os agentes políticos, no caso as candidaturas dos partidos e coligações, libertando os agentes políticos de uma espécie de 'subserviência' em relação aos media, pelo menos aos mais poderosos.
Pressente-se da relação partidos/media em Portugal, que a agenda é sistematicamente conduzida pelos media, funcionando numa narrativa em que as iniciativas pertencem aos jornais, às rádios e às televisões, com os partidos a aproveitarem o trabalho dos jornalistas para marcarem o ritmo das suas intervenções. Às vezes esta ligação de 'canibalização' do esforço jornalístico pelos partidos chega a ser penosa.
Pois bem, o corte do cordão umbilical que amarra hoje em dia os debates pré-eleitorais ao timing e aos interesses de grelha das televisões seria muito saudável no sentido de mostrar/salientar que a política tem um campo próprio de intervenção, um campo desejavelmente de excelência, do qual não abdica. Isto não menoriza de nenhum modo a função da imprensa no devir da coisa pública, simplesmente adequa e formata razoavelmente os papéis respectivos destes dois pilares fulcrais da democracia, a saber, o livre exercício dos poderes da República, por um lado, e a liberdade de expressão, por outro.
Jurista, antigo membro da Alta-Autoridade para a Comunicação Social
SEBASTIÃO LIMA REGO 16/05/2015 - 07:01
Público
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