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Profissão de futuro
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Profissão de futuro
"O teu pai é funcionário público! Faz o quê?"
Tiago, 16 anos, anda há meses a tentar perceber por que carga de água passou a ser, de repente, tão apaparicado por professores, directores e funcionários da escola privada onde frequenta o 11º ano. A princípio estranhou a repentina onda de simpatia, depois entranhou que todos tinham finalmente reconhecido o seu charme natural.
Quanto a aproveitamento escolar, melhor nem falar. Andou sempre resvés entre a positiva e a negativa, até que as notas tomaram o rumo do "Suficiente" e até do "Bom". Nunca lhe passou pela cabeça que tudo começou a mudar quando o chefe da secretaria lhe perguntou, como quem não quer a coisa, qual era a profissão e respectivo cargo do seu pai.
Nos tempos esquemáticos do antigamente, a natural deferência de professores e funcionários pragmáticos, a começar pelo reitor, seguia a ordem natural das supostas importâncias. Filho de juiz ou de médico, de presidente de câmara ou de gerente bancário, mais os apelidos com muitos "e" e "de", davam quase sempre direito a tratamento adequado. Por muito que resistentes ou distraídos professores, do alto da sua competência ou prepotência, aviassem todos à lambada, se fosse caso para isso.
Tiago, ao longo da sua carreira escolar, sempre revelou sem peias a profissão do pai: funcionário público. Como costumava dizer o meu amigo Zé dos Pneus, filho de mecânico competente, o sonho máximo de muitos rapazes dos bairros pobres era chegar a funcionário público, "com cunha ou sem cunha, por mérito ou à porrada!" Nos últimos anos, a função/profissão de "funcionário público" tem vindo a perder grandes doses de importância, sobretudo no capítulo das remunerações. Sempre na corda-bamba do desemprego, os funcionários profissionais do Estado vêem-se agora aflitos para proporcionar educação e emprego condignos aos filhos. Mas há excepções. Aliás, Tiago não alcançou o alcance da insistência do homem da secretaria. "O teu pai é funcionário público! Mas faz exactamente o quê?" Meio envergonhado, o Tiago explicou melhor. "O meu pai é chefe de uma repartição de Finanças..."
Enquanto corta nas pensões, quem manda nos funcionários públicos vai aumentando os impostos, burocratizando as normas de pagamentos ao Estado e dando prémios aos funcionários do Fisco. Na verdade, tudo tem a sua lógica. E hoje, para um estudante adolescente, importante a sério é ser filho de um funcionário do Fisco. Por muito que o Zé dos Pneus tenha deixado sério aviso: profissão de futuro não é ser funcionário do Fisco, é ser... contabilista profissional. Porque, a manterem-se as tendências governamentais, até para preencher o IRS vai ser preciso tirar um curso de contabilidade.
07.06.2015 00:30
VICTOR BANDARRA
Jornalista
Correio da Manhã
Tiago, 16 anos, anda há meses a tentar perceber por que carga de água passou a ser, de repente, tão apaparicado por professores, directores e funcionários da escola privada onde frequenta o 11º ano. A princípio estranhou a repentina onda de simpatia, depois entranhou que todos tinham finalmente reconhecido o seu charme natural.
Quanto a aproveitamento escolar, melhor nem falar. Andou sempre resvés entre a positiva e a negativa, até que as notas tomaram o rumo do "Suficiente" e até do "Bom". Nunca lhe passou pela cabeça que tudo começou a mudar quando o chefe da secretaria lhe perguntou, como quem não quer a coisa, qual era a profissão e respectivo cargo do seu pai.
Nos tempos esquemáticos do antigamente, a natural deferência de professores e funcionários pragmáticos, a começar pelo reitor, seguia a ordem natural das supostas importâncias. Filho de juiz ou de médico, de presidente de câmara ou de gerente bancário, mais os apelidos com muitos "e" e "de", davam quase sempre direito a tratamento adequado. Por muito que resistentes ou distraídos professores, do alto da sua competência ou prepotência, aviassem todos à lambada, se fosse caso para isso.
Tiago, ao longo da sua carreira escolar, sempre revelou sem peias a profissão do pai: funcionário público. Como costumava dizer o meu amigo Zé dos Pneus, filho de mecânico competente, o sonho máximo de muitos rapazes dos bairros pobres era chegar a funcionário público, "com cunha ou sem cunha, por mérito ou à porrada!" Nos últimos anos, a função/profissão de "funcionário público" tem vindo a perder grandes doses de importância, sobretudo no capítulo das remunerações. Sempre na corda-bamba do desemprego, os funcionários profissionais do Estado vêem-se agora aflitos para proporcionar educação e emprego condignos aos filhos. Mas há excepções. Aliás, Tiago não alcançou o alcance da insistência do homem da secretaria. "O teu pai é funcionário público! Mas faz exactamente o quê?" Meio envergonhado, o Tiago explicou melhor. "O meu pai é chefe de uma repartição de Finanças..."
Enquanto corta nas pensões, quem manda nos funcionários públicos vai aumentando os impostos, burocratizando as normas de pagamentos ao Estado e dando prémios aos funcionários do Fisco. Na verdade, tudo tem a sua lógica. E hoje, para um estudante adolescente, importante a sério é ser filho de um funcionário do Fisco. Por muito que o Zé dos Pneus tenha deixado sério aviso: profissão de futuro não é ser funcionário do Fisco, é ser... contabilista profissional. Porque, a manterem-se as tendências governamentais, até para preencher o IRS vai ser preciso tirar um curso de contabilidade.
07.06.2015 00:30
VICTOR BANDARRA
Jornalista
Correio da Manhã
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