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A razão pouco sexy da subida dos juros de Portugal
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A razão pouco sexy da subida dos juros de Portugal
A crise grega está a provocar "um incêndio" no mercado de dívida de países periféricos como Portugal, certo? Nem por isso.
A crise grega começou a dar sinais de contágio, mas explica pouco da tendência recente de subida dos juros da dívida pública portuguesa ou espanhola. A explicação principal, na realidade, chama-se "normalização gradual dos juros das bunds alemãs". É menos atraente para nós, jornalistas, como para o leitor - mas é, desde Abril, "a" razão.
O programa de compra de activos do Banco Central Europeu - desenhado para combater o risco de inflação demasiado baixa no euro - levou as taxas de juro da dívida soberana europeia a baterem no fundo. Em muitos casos, como o alemão, os juros perfuraram mesmo o fundo do poço, com valores negativos em várias maturidades. A queda vinha do final de 2013 e durou até Abril deste ano - durou até um ponto em que, na verdade, as expectativas de inflação na zona euro já tinham mudado.
Expectativas de inflação mais altas - explicadas pela retoma da economia, os preços do petróleo e o euro fraco - significam que o fim do programa do BCE e um aperto da política monetária ficam mais perto. Isso vê-se nos dados: o mercado esperava no início do ano que a primeira subida dos juros por parte do BCE acontecesse em cerca de 55 meses, valor que caiu entretanto para quase 40 (dados via Bloomberg). Era uma questão de tempo até os investidores anestesiados pelo BCE reagissem de forma coerente com estas expectativas, fazendo subir as taxas da dívida do país referência, a Alemanha. Atrás da referência sobem os títulos dos restantes países, incluindo o nosso.
É daqui que vem a fatia de leão da duplicação da taxa de juro a dez anos portuguesa, de 1,56% em meados de Março para cerca de 3,2% agora. A Grécia, cujo drama dura há vários meses, tem sido um factor apenas nestes últimos dias, somando cerca de 40 a 50 pontos base às taxas, apenas um quarto da subida global.
Há mais para ajudar a pôr em perspectiva o contágio grego. A subida dos juros de Portugal tem sido concentrada nos prazos mais longos (subidas nos mais curtos, como acontece com a Grécia, é que são sinal de extrema desconfiança dos credores). Depois, a cotação dos CDS da República e dos bancos portugueses - os "seguros" contra o incumprimento - mexeram pouco.
A pressão recente devido à Grécia não deixa de ser um aviso, mas moderado. Há alguma racionalidade nisto, já que Portugal tem trunfos a seu favor: o programa do BCE (que pode intervir para travar uma pressão maior), os "cofres cheios" do Tesouro (que foram motivo de crítica, mas que permitem a Portugal ficar quieto caso o mercado "aqueça") e, por fim, a probabilidade ainda favorável de um acordo entre a Grécia e os credores.
Com tudo isto não quero argumentar que a crise grega é inócua. A ideia é fazer um contraponto a leituras precipitadas e pôr a tónica no mais importante: nem a Grécia é responsável pela maior parte da subida dos juros da República, nem o problema para Portugal está nas subidas no curto prazo. Uma saída grega do euro - um risco não negligenciável para um país que ainda terá que negociar um terceiro resgate - significaria uma tempestade de curto prazo no mercado, que até poderia ser suavizável com as armas de que o país ainda dispõe. Contudo, poria um prémio de risco sobre a pesada dívida portuguesa e, na próxima crise europeia, colocaria Portugal na linha da frente dos receios do mercado e da pressão europeia. A ameaça não são uns pontos a mais nas taxas agora - ela espreita mais tarde e condiciona de forma permanente a política económica portuguesa.
00:05 h
Bruno Faria Lopes
Económico
A crise grega começou a dar sinais de contágio, mas explica pouco da tendência recente de subida dos juros da dívida pública portuguesa ou espanhola. A explicação principal, na realidade, chama-se "normalização gradual dos juros das bunds alemãs". É menos atraente para nós, jornalistas, como para o leitor - mas é, desde Abril, "a" razão.
O programa de compra de activos do Banco Central Europeu - desenhado para combater o risco de inflação demasiado baixa no euro - levou as taxas de juro da dívida soberana europeia a baterem no fundo. Em muitos casos, como o alemão, os juros perfuraram mesmo o fundo do poço, com valores negativos em várias maturidades. A queda vinha do final de 2013 e durou até Abril deste ano - durou até um ponto em que, na verdade, as expectativas de inflação na zona euro já tinham mudado.
Expectativas de inflação mais altas - explicadas pela retoma da economia, os preços do petróleo e o euro fraco - significam que o fim do programa do BCE e um aperto da política monetária ficam mais perto. Isso vê-se nos dados: o mercado esperava no início do ano que a primeira subida dos juros por parte do BCE acontecesse em cerca de 55 meses, valor que caiu entretanto para quase 40 (dados via Bloomberg). Era uma questão de tempo até os investidores anestesiados pelo BCE reagissem de forma coerente com estas expectativas, fazendo subir as taxas da dívida do país referência, a Alemanha. Atrás da referência sobem os títulos dos restantes países, incluindo o nosso.
É daqui que vem a fatia de leão da duplicação da taxa de juro a dez anos portuguesa, de 1,56% em meados de Março para cerca de 3,2% agora. A Grécia, cujo drama dura há vários meses, tem sido um factor apenas nestes últimos dias, somando cerca de 40 a 50 pontos base às taxas, apenas um quarto da subida global.
Há mais para ajudar a pôr em perspectiva o contágio grego. A subida dos juros de Portugal tem sido concentrada nos prazos mais longos (subidas nos mais curtos, como acontece com a Grécia, é que são sinal de extrema desconfiança dos credores). Depois, a cotação dos CDS da República e dos bancos portugueses - os "seguros" contra o incumprimento - mexeram pouco.
A pressão recente devido à Grécia não deixa de ser um aviso, mas moderado. Há alguma racionalidade nisto, já que Portugal tem trunfos a seu favor: o programa do BCE (que pode intervir para travar uma pressão maior), os "cofres cheios" do Tesouro (que foram motivo de crítica, mas que permitem a Portugal ficar quieto caso o mercado "aqueça") e, por fim, a probabilidade ainda favorável de um acordo entre a Grécia e os credores.
Com tudo isto não quero argumentar que a crise grega é inócua. A ideia é fazer um contraponto a leituras precipitadas e pôr a tónica no mais importante: nem a Grécia é responsável pela maior parte da subida dos juros da República, nem o problema para Portugal está nas subidas no curto prazo. Uma saída grega do euro - um risco não negligenciável para um país que ainda terá que negociar um terceiro resgate - significaria uma tempestade de curto prazo no mercado, que até poderia ser suavizável com as armas de que o país ainda dispõe. Contudo, poria um prémio de risco sobre a pesada dívida portuguesa e, na próxima crise europeia, colocaria Portugal na linha da frente dos receios do mercado e da pressão europeia. A ameaça não são uns pontos a mais nas taxas agora - ela espreita mais tarde e condiciona de forma permanente a política económica portuguesa.
00:05 h
Bruno Faria Lopes
Económico
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