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Puxar o país para baixo
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Puxar o país para baixo
1. O vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, exultou, há dias, com a "descida pronunciada" da taxa de desemprego para 13%, aproveitando para criticar as "aves agoirentas que tentam puxar o país para baixo". Acontece que esta interpretação eleitoralista dos dados do desemprego, sendo porventura útil aos interesses da coligação "Portugal à Frente", não passa de uma tentativa de tapar o sol com a peneira. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística sobre a emigração, só no ano passado cerca de 134 mil emigrantes atravessaram a fronteira (50 mil de forma permanente, 85 mil de forma temporária). Ou seja, num único ano, houve 134 mil portugueses que desapareceram das estatísticas do desemprego. E foi sempre assim, desde que a troika e este Governo chegaram ao poder. A taxa de desemprego desceu nos últimos quatro anos sobretudo porque centenas de milhares de portugueses foram empurrados para fora do seu país pelas políticas de empobrecimento que o Governo promoveu com zelo, no intuito de, seguindo a cartilha da troika, "puxar o país para baixo". Ainda assim, e apesar dessa fuga massiva à miséria e à taxa de desemprego, ficaram para trás 667 mil "aves agoirentas" desempregadas.
2. Se houver algum ranking dos crimes que causam maior repulsa individual, por um lado, e alarme social, por outro, a lista incluirá, seguramente, para além do homicídio e do abuso sexual de menores, o tráfico de droga. Compreende-se, por isso, que o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, recuse e combata a transformação dos bairros sociais do Porto numa espécie de favelas à portuguesa, em que os traficantes operem impunemente, impondo um clima de terror sobre os restantes moradores. E também parece oportuno que uma autarquia como a do Porto procure encontrar instrumentos coercivos para combater essa praga, incluindo a possibilidade de expulsar os criminosos de habitações que usam indevidamente. Ainda assim, este é terreno movediço que merecia um pouco mais de contenção no processo e uma linguagem menos ultramontana. É no mínimo contestável que a decisão de despejar se fundamente numa suspeita, em vez de se esperar pela condenação em tribunal. E é no mínimo lamentável que, numa perigosa voragem justicialista, o castigo se estenda a toda a família, crianças e velhos incluídos. Chega a ser penoso ouvir um vereador socialista como Manuel Pizarro dizer, num acesso de populismo, que, "se tiver de escolher, porei sempre em primeiro lugar as famílias que não traficam". Portanto, se o pai é traficante, o filho de cinco anos é traficante, vai tudo para debaixo da ponte. Estranho conceito de justiça.
18.06.2015
RAFAEL BARBOSA
Jornal de Notícias
2. Se houver algum ranking dos crimes que causam maior repulsa individual, por um lado, e alarme social, por outro, a lista incluirá, seguramente, para além do homicídio e do abuso sexual de menores, o tráfico de droga. Compreende-se, por isso, que o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, recuse e combata a transformação dos bairros sociais do Porto numa espécie de favelas à portuguesa, em que os traficantes operem impunemente, impondo um clima de terror sobre os restantes moradores. E também parece oportuno que uma autarquia como a do Porto procure encontrar instrumentos coercivos para combater essa praga, incluindo a possibilidade de expulsar os criminosos de habitações que usam indevidamente. Ainda assim, este é terreno movediço que merecia um pouco mais de contenção no processo e uma linguagem menos ultramontana. É no mínimo contestável que a decisão de despejar se fundamente numa suspeita, em vez de se esperar pela condenação em tribunal. E é no mínimo lamentável que, numa perigosa voragem justicialista, o castigo se estenda a toda a família, crianças e velhos incluídos. Chega a ser penoso ouvir um vereador socialista como Manuel Pizarro dizer, num acesso de populismo, que, "se tiver de escolher, porei sempre em primeiro lugar as famílias que não traficam". Portanto, se o pai é traficante, o filho de cinco anos é traficante, vai tudo para debaixo da ponte. Estranho conceito de justiça.
18.06.2015
RAFAEL BARBOSA
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