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Francisco, o reformador
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Francisco, o reformador
Será certamente histórica a encíclica "Laudato si" da autoria do Papa Francisco, divulgada ontem pelo Vaticano. Não só porque é a primeira inteiramente dedicada ao ambiente (embora outros papas já tivessem feito abordagens a este campo), mas porque este exercício de teologia pública não se desenvolve de forma autotélica. Pelo contrário. O discurso é, acima de tudo, de intervenção política. Assertivo, ancorado em estudos científicos e com uma enorme oportunidade de agendamento. É certo que vai receber muitas críticas, particularmente nos EUA, mas isso serão indícios de que o caminho faz-se por aqui.
Tendo sido rodeada de uma grande expectativa, esta encíclica não desiludiu todos aqueles que olham para estes documentos como um momento de o Vaticano marcar a atualidade à escala mundial. Com este texto, o Papa foi notícia em todo o lado. Por um ângulo que situa a Igreja como um dos principais atores a ter em conta na definição das políticas para um planeta em acelerado desequilíbrio. Desta vez, Roma encostou à berma tentações dogmáticas e colocou-se na rota de posicionamentos científicos, que chamou a si, para declarar, sem rodeios, uma oposição musculada a uma economia que não respeita as pessoas, a um modelo de desenvolvimento que vem destruindo irreversivelmente a nossa "Casa comum" e a uma cultura de bem-estar que tem sido identificada como sinónimo de acumulação de bens. Sem medo, eis a Igreja a apontar o dedo aos países mais desenvolvidos, dizendo-lhes inequivocamente que falharam nas conceções de crescimento que seguiram e que é chegada a hora de inverter a marcha para escolher vias alternativas que tenham mais em conta as pessoas. Todas as pessoas, sobretudo aquelas que foram atiradas para as margens.
Nesta encíclica abordam-se as principais variáveis críticas da crise ambiental: clima, biodiversidade, tecnologia, energia, poluição... Identificam-se causas e apontam-se consequências para o aquecimento global, fala-se das limitações do desenvolvimento tecnológico, defende-se a substituição dos combustíveis fósseis pelas energias renováveis, criticam-se os sistemas de comércio de emissões de carbono. Nenhum tópico sensível parece ter ficado excluído de um texto que será um dos mais marcantes no que diz respeito às questões ambientais.
E aí está como o Papa se posiciona, e muito bem, como um dos principais atores da cena mundial. Por exemplo, será certamente muito complexo ignorar este texto nas negociações internacionais para um novo tratado climático que deverá ser adotado numa reunião das Nações Unidas marcada para dezembro em Paris. Também não se esquecerá o teor deste documento na preparação da visita que o Papa fará aos EUA no próximo mês de setembro. Não são lá muito cúmplices com a política norte-americana as propostas que deixa nesta encíclica. Democratas e republicanos vão certamente desviar o assunto, vendo no texto interstícios interpretativos que lhes proporcione uma margem suficiente para defender as suas posições. Mas nunca conseguirão neutralizar a mensagem principal: a necessidade de alterar o essencial daquilo que tem estruturado o destino dos países desenvolvidos.
É preciso mudar estilos de vida. É urgentíssimo que a política deixe de se submeter cegamente à economia. É vital colocar em marcha uma revolução cultural que salve o planeta. E, consequentemente, que nos salve. Lembra-se, neste documento, que a defesa do bem comum é a condição necessária para o bem-estar pessoal. Seria bom que a parte mais rica do planeta tivesse sempre isso presente.
Defende o Papa Francisco que é preciso repensar políticas, desafiando os países mais desenvolvidos a empenharem-se mais para encontrar soluções que restituam algum equilíbrio a um planeta de futuro cada vez mais comprometido. Resta saber se tudo isto se cumpre com os políticos que temos ou se esta revolução não ditará novos atores para novas políticas. O Papa Francisco não vai tão longe nas suas propostas, mas a construção de um Planeta Verde não é viável com certos políticos de discurso tão poluído.
19.06.2015
FELISBELA LOPES
Jornal de Notícias
Tendo sido rodeada de uma grande expectativa, esta encíclica não desiludiu todos aqueles que olham para estes documentos como um momento de o Vaticano marcar a atualidade à escala mundial. Com este texto, o Papa foi notícia em todo o lado. Por um ângulo que situa a Igreja como um dos principais atores a ter em conta na definição das políticas para um planeta em acelerado desequilíbrio. Desta vez, Roma encostou à berma tentações dogmáticas e colocou-se na rota de posicionamentos científicos, que chamou a si, para declarar, sem rodeios, uma oposição musculada a uma economia que não respeita as pessoas, a um modelo de desenvolvimento que vem destruindo irreversivelmente a nossa "Casa comum" e a uma cultura de bem-estar que tem sido identificada como sinónimo de acumulação de bens. Sem medo, eis a Igreja a apontar o dedo aos países mais desenvolvidos, dizendo-lhes inequivocamente que falharam nas conceções de crescimento que seguiram e que é chegada a hora de inverter a marcha para escolher vias alternativas que tenham mais em conta as pessoas. Todas as pessoas, sobretudo aquelas que foram atiradas para as margens.
Nesta encíclica abordam-se as principais variáveis críticas da crise ambiental: clima, biodiversidade, tecnologia, energia, poluição... Identificam-se causas e apontam-se consequências para o aquecimento global, fala-se das limitações do desenvolvimento tecnológico, defende-se a substituição dos combustíveis fósseis pelas energias renováveis, criticam-se os sistemas de comércio de emissões de carbono. Nenhum tópico sensível parece ter ficado excluído de um texto que será um dos mais marcantes no que diz respeito às questões ambientais.
E aí está como o Papa se posiciona, e muito bem, como um dos principais atores da cena mundial. Por exemplo, será certamente muito complexo ignorar este texto nas negociações internacionais para um novo tratado climático que deverá ser adotado numa reunião das Nações Unidas marcada para dezembro em Paris. Também não se esquecerá o teor deste documento na preparação da visita que o Papa fará aos EUA no próximo mês de setembro. Não são lá muito cúmplices com a política norte-americana as propostas que deixa nesta encíclica. Democratas e republicanos vão certamente desviar o assunto, vendo no texto interstícios interpretativos que lhes proporcione uma margem suficiente para defender as suas posições. Mas nunca conseguirão neutralizar a mensagem principal: a necessidade de alterar o essencial daquilo que tem estruturado o destino dos países desenvolvidos.
É preciso mudar estilos de vida. É urgentíssimo que a política deixe de se submeter cegamente à economia. É vital colocar em marcha uma revolução cultural que salve o planeta. E, consequentemente, que nos salve. Lembra-se, neste documento, que a defesa do bem comum é a condição necessária para o bem-estar pessoal. Seria bom que a parte mais rica do planeta tivesse sempre isso presente.
Defende o Papa Francisco que é preciso repensar políticas, desafiando os países mais desenvolvidos a empenharem-se mais para encontrar soluções que restituam algum equilíbrio a um planeta de futuro cada vez mais comprometido. Resta saber se tudo isto se cumpre com os políticos que temos ou se esta revolução não ditará novos atores para novas políticas. O Papa Francisco não vai tão longe nas suas propostas, mas a construção de um Planeta Verde não é viável com certos políticos de discurso tão poluído.
19.06.2015
FELISBELA LOPES
Jornal de Notícias
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