Percepções

O trabalho da Ernst & Young não é um estudo sobre corrupção. É um estudo de percepções sobre a corrupção.

Não estuda se os países são corruptos, mas se os cidadãos os vêm como corruptos.

É lamentável que o modo como foi apresentado possa contribuir para agravar mais a desconfiança dos cidadãos nos políticos e nas instituições. Não se estranharia que os dados de um próximo estudo com o mesmo objeto e metodologia fossem ainda piores. Tão-pouco é crível que a confusão mediática entre corrupção e percepções sobre a mesma contribua para uma discussão profícua. 

A percepção dos portugueses relativamente à corrupção decorre de um aumento dos casos judiciais em curso. Todavia, isso não explica que entendam que o sector financeiro se destaca no domínio da ética empresarial e que tal resulta das exigências do regulador. 

Foi, na verdade, no sector financeiro e por fracasso do Banco de Portugal que sucederam o maior número e os mais graves casos de falta de ética empresarial no nosso país.

É curioso que, ainda assim, os cidadãos portugueses dirijam a sua percepção para outro lado. Quando um estudo de percepção demonstra um resultado tão distinto da realidade devemos ficar preocupados.

00:04 h 
André Caldas
Económico

Um recente estudo da Ernst & Young, efectuado num universo de 38 países envolvendo a opinião de 3800 trabalhadores, colocou Portugal em quinto lugar na lista dos países mais corruptos.

O estudo vale o que vale e refere-se essencialmente a empresas do sector financeiro, mas não deixa de ser uma amostra do que se passa em Portugal.

Desde tempos imemoriais que somos o país dos "favores" e das "cunhas", que muitas vezes resultam na prática de crimes como a fraude, a administração danosa, a corrupção e o tráfico de influência. Esta foi conduta que por vezes grassou nas mais altas esferas do Estado, assim como nas situações mais corriqueiras do dia-a-dia, e casos houve até em que a Lei foi feita à medida para favorecer um interesse ou obviar a uma situação mais inconveniente. 

Demonstramos ter uma cultura de pouco zelo pela res publica e que em tempos de crise tende a agravar-se.

Apesar de tudo, a julgar pelos últimos acontecimentos, parece que os favores em cadeia talvez venham a dar, em alguns casos, efectivamente, cadeia.

00:04 h
Marisa Lopes
Económico

O anterior primeiro-ministro está preso preventivamente suspeito de branqueamento de capitais, fraude fiscal e corrupção no exercício de cargo público.

O BES rebentou com estrondo pelo mundo fora pondo a nu o controlo dos negócios sempre pelos mesmos. A rede chegou à PT. Antes o BPN e o BPP. 

Os vistos Gold, os milhões gastos em estudos, o projecto do TGV custou 120 milhões em estudos sem sair do papel, e assessorias directas a grandes escritórios e consultoras. As notícias sobre a Octapharma, cuja facturação caiu em Portugal de 46 milhões em 2010 para 24,8 em 2014. O tráfico de influências, as corporações. Não admira que a percepção sobre a corrupção nos negócios em Portugal seja esta. Não ajuda que se levantem suspeições generalizadas como a de comparar as garantias dadas pelo Governo no caso da privatização da TAP, tendo o Tribunal de Contas dito que lhe está a ser prestada toda a informação solicitada, com o caso BES. A corrupção combate-se. 

Enlameando tudo, esconde-se. Ponto positivo para a confiança no Regulador Financeiro que quer sobretudo dizer que se começam a ver resultados neste combate.

00:04 h
Sandra Clemente
Económico

A generalidade da comunicação social revelou de forma bombástica que Portugal é o quinto país mais corrupto entre 38 nações.

Tal não é mais do que uma conclusão enviesada do estudo "Fraud and corruption - the easy option for growth?". Passo a explicar, em cada país a auditora EY questionou 100 pessoas sobre se tinham percepção da existência de práticas generalizadas de suborno nos negócios.

Em Portugal, 82 responderam sim, provavelmente influenciados pelo tempo de antena que as televisões têm dedicado a casos polémicos, como é exemplo o de José Sócrates.

Porém, o facto destas pessoas acharem que a corrupção é uma regra, felizmente não torna Portugal um dos países mais corruptos!

Assim, este estudo que conhecemos na terça-feira vale o que vale, já o mesmo não se poderá dizer das estatísticas divulgadas pelo Eurostat neste mesmo dia: em Portugal o emprego está a crescer acima da média da União Europeia. E isto é positivo e dá esperança! Mas como não é mediático, pouco destaque mereceu nos telejornais. Uma questão de prioridades.

00:04 h
Ricardo Ferraz
Económico

A nota de Portugal ocupa o quinto lugar na lista dos países mais corruptos. Comente. 
Económico