Evoluir E Investir

Uma pergunta que muitas vezes é colocada a profissionais do setor financeiro, particularmente quando são ligados às áreas de investimentos e mercados, é quais são os truques para investir. A resposta é que não há truques. Há métodos. Há disciplina. Mas também é importante que exista visão estratégica. E por “visão estratégica” não se entende a capacidade de prever acontecimentos futuros, mas sim a capacidade de adaptar os métodos presentes às exigências da conjuntura dos mercados financeiros, sempre em mutação e apresentando-se aos investidores com desafios e oportunidades distintas a cada momento.

Se, por exemplo, é importante saber gerir as necessidades de liquidez quando se investe – de forma a evitar ter de desfazer um investimento de forma antecipada ou perder uma oportunidade por ausência de liquidez para investir –, também é importante perceber que a forma de deter liquidez tem de ser inovada e tem de ser flexível à conjuntura de mercado. Um exemplo concreto: há quatro ou cinco anos, podia fazer sentido investir em depósitos a prazo de curtas maturidades, pois as taxas eram elevadas; já hoje os depósitos a prazo de curto prazo não têm valor para o investidor.

Por outro lado, a disciplina de compra e venda é muito importante para os investidores, na medida em que devem evitar agir por impulso e, pelo contrário, devem estar focados no longo prazo, e não em movimentação de curto prazo e naquilo que se chama o “ruído” de mercado: as notícias que provocam oscilações de curto prazo no preço dos ativos, mas que, de facto, não têm impacto no longo prazo. Mas também é importante saber o que comprar. Mais uma vez, não no sentido de adivinhar que ativos vão ter maior rendibilidade, mas de perceber onde estão os ativos que melhor satisfazem as necessidades dos investidores para determinada conjuntura e perfil de investimento; sendo que a panóplia de instrumentos existente está sempre a mudar, com novas alternativas a surgirem permanentemente perante os investidores. Alguém que as ignore perde, quase de certeza, uma nova fonte de retorno.

O atual cenário nos mercados financeiros é particularmente desafiante, na medida em que existem poucos ativos com potencial de retorno atrativo e, por outro lado, existem receios de que alguns desses ativos estejam particularmente sobrevalorizados. O movimento recente nas obrigações alemãs, que, em poucas semanas, eclipsaram os ganhos deste ano, com a yield a subir de perto de 0% para 1% na maturidade a 10 anos, mostra como é complicado investir, principalmente para os investidores mais avessos ao risco, e, em simultâneo, mais conservadores no tipo de instrumentos que estão dispostos a considerar como alternativas.

Esta conjuntura e este recente movimento exprimem quão necessário é para um investidor estar disponível para consultar diferentes formas e métodos de investimento: a mencionada “visão estratégica” tem de ser ampla e abrangente. Repara-se como vários erros de investimento se manifestam no recente movimento de mercado: 1) euforia sobre os ganhos das obrigações alemãs, que originaram um “bolha” nestes ativos; 2) pânico na altura da venda, levando a perdas ainda mais avolumadas; e 3) tentativa de acertar os timings de mercado, tentando acompanhar os movimentos bruscos das obrigações alemãs (algo complicado de se fazer). E repare-se, também, como a falta de capacidade de incorporar alternativas de investimento é penalizadora, pois um investidor que diversifique apenas entre obrigações e ações foi apanhado num momento de correlação elevada entre estas classes de ativos e, como tal, registou perdas tanto nas ações como nas obrigações.

Investir deve ser um processo disciplinado, onde uma boa metodologia de decisão é fundamental, mas é também um processo evolutivo, onde a procura por alternativas deve ser constante.

Na atual conjuntura, existem alternativas interessantes para os investidores, que, sem grandes desvirtuações do perfil de risco, podem permitir obter maior retorno e, acima de tudo, reduzir o risco global do portefólio de investimentos. É preciso, contudo, que os investidores estejam dispostos a procurá-las e a compreender o seu funcionamento.

Duarte Mallaguerra Nunes
Direção de Investimentos do Banco Best

2 Julho, 2015 00:05
OJE.pt