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Virão um dia... (ou não)
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Virão um dia... (ou não)
Na década de sessenta, quando Manuel Freire, nas suas trovas de intervenção, popularizou a canção "Ei-los que partem", retratava um povo que deixava a pátria, quase sempre "a salto" pelas montanhas da raia, que partia "de olhos molhados, coração triste e saca às costas". Iam a pé pelos trilhos das serras, ou nos fundos falsos das camionetes, guiados por passadores, sinistros e traiçoeiros alguns. Um foguete noturno anunciava o encontro no local previamente combinado. Depois partiam, em segredo, a coberto da noite, acabando não raro abatidos a tiro nas fronteiras, ou abandonados à sua sorte em terras desconhecidas, dormindo nas sucatas das ferrovias. Era o retrato de um povo humilde, o povo dos campos, iletrado, a quem acenavam com um oásis além-fronteiras que lhes permitiria matar a fome aos filhos, deixando para trás a triste e cinzenta realidade do interior rural. O retrato de um país que reservava aos jovens sem escolaridade um nível de sobrevivência pouco acima da escravatura. Saudades desse tempo, julgo eu, ninguém as tem.
Porém, hoje, partem de novo. Já não de "saca às costas" ou malas de cartão, mas com notebooks e tablets nas mochilas, onde levam currículos de fazer inveja. Sabem línguas (já cresceram dentro do inglês), têm licenciatura, mestrado, alguns com doutoramento e até pós-doc, que obtiveram nas universidades e politécnicos à custa dos impostos dos portugueses, com formações de topo em eletrónica e automação, química industrial, farmácia, gestão, economia, são engenheiros mecânicos, físicos, biólogos, biomédicos, bioquímicos, arquitetos, produtores de media, enfermeiros (nos últimos seis anos e meio, 12 853 pediram à sua Ordem certificações para exercerem no estrangeiro, disse há dias o JN...). Mas o paradoxo maior ainda está em vermos um país pobre, desnutrido de desenvolvimento, a oferecer de bandeja os seus melhores braços e cérebros aos países ricos, para que fiquem ainda mais ricos.
Uns vão certamente pela aventura, outros vão num ato de desespero, demandando noutras pátrias os meios básicos de sobrevivência que uma pátria madrasta lhes recusa. Pessoalmente, entristece-me ver pais e avós com olhos chorosos na partida, e um Governo que continua, bem animado, com aquele sorriso que a gente sabe.
*ESCRITOR
30.07.2015
ALEXANDRE PARAFITA*
Jornal de Notícias
Jornal de Notícias
Porém, hoje, partem de novo. Já não de "saca às costas" ou malas de cartão, mas com notebooks e tablets nas mochilas, onde levam currículos de fazer inveja. Sabem línguas (já cresceram dentro do inglês), têm licenciatura, mestrado, alguns com doutoramento e até pós-doc, que obtiveram nas universidades e politécnicos à custa dos impostos dos portugueses, com formações de topo em eletrónica e automação, química industrial, farmácia, gestão, economia, são engenheiros mecânicos, físicos, biólogos, biomédicos, bioquímicos, arquitetos, produtores de media, enfermeiros (nos últimos seis anos e meio, 12 853 pediram à sua Ordem certificações para exercerem no estrangeiro, disse há dias o JN...). Mas o paradoxo maior ainda está em vermos um país pobre, desnutrido de desenvolvimento, a oferecer de bandeja os seus melhores braços e cérebros aos países ricos, para que fiquem ainda mais ricos.
Uns vão certamente pela aventura, outros vão num ato de desespero, demandando noutras pátrias os meios básicos de sobrevivência que uma pátria madrasta lhes recusa. Pessoalmente, entristece-me ver pais e avós com olhos chorosos na partida, e um Governo que continua, bem animado, com aquele sorriso que a gente sabe.
*ESCRITOR
30.07.2015
ALEXANDRE PARAFITA*
Jornal de Notícias
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