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Mensagem por Admin Qui Jul 30, 2015 1:34 pm

Sem dispormos ainda de dados consolidados sobre a campanha veranil, tudo indica que o Algarve conhecerá um dos melhores anos de sempre e que as nossas duas principais cidades - Lisboa e Porto - baterão recordes de afluência.

1. Os Verões proporcionam excelentes ângulos de observação sobre os comportamentos dos grupos sociais e as suas preferências. Quando se está fora das rotinas de trabalho, observa-se mais e é-se mais facilmente observado. O bom momento do turismo português e o significativo aumento de visitantes estrangeiros são janelas abertas para a compreensão dos factores de atractividade do destino Portugal.
 
Sem dispormos ainda de dados consolidados sobre a campanha veranil, tudo indica que o Algarve conhecerá um dos melhores anos de sempre e que as nossas duas principais cidades – Lisboa e Porto – baterão recordes de afluência. Lisboa, em particular, é já um caso de sucesso internacional no seu segmento, situando-se entre as mais procuradas no continente europeu para estadas de curta e média duração. O que mudou para que tal viesse a acontecer? O que fazer para que a tendência se instale e consolide de forma sustentada? Quais são as linhas de força a robustecer e as de fraqueza a ultrapassar? Antes de encontrar respostas, importa coligir e interpretar toda a informação que nos é transmitida por quem nos visita.
 
Em primeiro lugar, se dúvidas houvesse, perceber que Portugal não é cativante por igual. No segmento sol e praia, onde temos vindo a beneficiar da instabilidade política nos principais destinos concorrentes, a nossa costa, em especial a algarvia, detém atributos de peso. Os seus areais, as suas temperaturas médias (mais amenas do que as mediterrânicas), o vigor do Atlântico (grande chamariz das comunidades surfistas), são claros factores de atractividade natural, daqueles onde o que mais importa é não estragar, resistindo aos ímpetos sobre-construtivos e preservando o que resta de equilíbrio no ordenamento litoral. Hélas, a principal desvantagem é intransponível – as nossas águas são desoladoramente frias.
 
No turismo de cidade, Lisboa não pára de crescer e de surpreender. Não pela sua especial monumentalidade, grandiosidade, riqueza arquitectónica ou intensidade comercial, mas sim por factores que dificilmente se encontram reunidos numa outra capital. A luz, a relação com o mar, a diversidade arquitectónica, a animação nocturna, a aura rétro e docemente meridional dos seus bairros históricos, aliadas à proximidade e beleza de Sintra e Cascais, fazem de Lisboa uma combinação única de sabores, algo distante dos padrões frios e previsíveis das cidades globais. A esta singularidade, que os estrangeiros apreciam e repetem, acrescem quatro outros factores comuns ao País no seu todo – segurança, hospitalidade, gastronomia e preço – cuja relevância é inquestionável. No lado negativo, as críticas dirigem-se, como sempre, à limpeza e aos transportes públicos. A boa notícia é que, ao contrário da temperatura da água, esses dois pontos fracos podem ser melhorados por medidas de gestão, assim haja clarividência e vontade de o fazer.
 
São estes, juntamente com a Madeira, os nossos produtos-estrela, aqueles onde podemos marcar uma diferença qualitativa face à concorrência internacional. Por maiores esforços que se realizem noutros segmentos e regiões do País, a capacidade de atracção de visitantes internacionais é limitada. A grande maioria dos que nos procuram não busca o que encontra em casa – busca a singularidade. Por isso, os candidatos a produtos-estrela são apenas três – a cidade do Porto, o vale do Douro e os Açores. Os demais terão de saber colar-se aos líderes e contar sobretudo com o mercado interno, sem desprimor para os encantos do Gerês ou do Alentejo. 
 
2. Verão é também tempo de festivais e manifestações artísticas. Destaco dois – também aqui, pela sua singularidade. O Festival de Músicas do Mundo, em Sines, que contou este ano com a sua 17.ª edição, é já uma referência mundial no género. À qualidade dos artistas – como não recordar os grandes momentos proporcionados por Thea Hjelmeland, Guillaume Perret, Ana Tijoux, Canzionere Grecanico Salentino ou Salif Keita? – soma-se uma atitude alternativa, interveniente, que contagia o público e envolve num abraço franco todos os que anseiam por "um mundo mais habitável do que isto", como muito bem captou a jornalista Mariana Pereira na sua crónica de 27 de Julho, no Diário de Notícias.
 
Igualmente interessante – e singular – é a Bienal de Cerveira. Por lá passarei nas próximas semanas, seguro de que o ecletismo e a qualidade a que nos habituou noutras edições não deixarão de estar presentes.
 
Economista; Professor do ISEG/ULisboa 

29 Julho 2015, 20:10 por Luis Nazaré
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