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A inovação tecnológica, o Estado e a economia portuguesa
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A inovação tecnológica, o Estado e a economia portuguesa
Em Portugal, os dados de 2011 revelam que dos 26 175 doutorados em actividade, apenas 709, ou seja, uns escassos 2,7%, tinham vínculo laboral com empresas.
A inovação tecnológica é fundamental para garantir a competitividade das empresas e, por isso, é muito importante que em Portugal as empresas utilizem as tecnologias de forma economicamente eficiente.
O processo pelo qual a ciência é adquirida e desenvolvida para se converter em inovação tecnológica empresarialmente competitiva é, todavia, longo e complexo.
O Estado tem tido em Portugal um papel muito importante na promoção da investigação científica e, portanto, uma parte da opinião pública considera que basta o Estado gastar mais dinheiro nesta área para que as empresas se tornem mais competitivas.
Ora esta noção está completamente errada!
A componente fundamental para o sucesso deste processo é a existência duma estratégia que tenha em conta o enquadramento nacional e o contexto europeu e global.
Logo a partir dos conhecimentos científicos de base, é necessário optar entre as diferentes tecnologias a desenvolver a partir deles e definir depois quais os produtos e serviços em que essas “inovações tecnológicas” devem ser aplicadas.
E esta transposição entre a ciência e os “produtos inovadores” tem de ser feita em articulação entre as instituições de ensino e investigação e as empresas que actuam nos sectores de actividade em que essas inovações tecnológicas são aplicáveis.
A inovação tecnológica empresarialmente competitiva necessita de diversos ingredientes de base: as competências científicas/experimentais, as instalações industriais/empresariais onde as inovações tecnológicas se podem converter em capacidade económica, e os recursos humanos com a adequada formação tecnológica e de gestão.
Em termos de políticas públicas, o mais importante nesta área é a qualidade estratégica das mesmas e não o montante dos recursos financeiros que o Estado utiliza em todo este longo processo.
Por exemplo, uma percentagem significativa dos doutorados em ciência e tecnologia deverá estar inserida na actividade empresarial.
Ora, em Portugal, os dados de 2011 revelam que dos 26 175 doutorados em actividade, apenas 709, ou seja, uns escassos 2,7%, tinham vínculo laboral com empresas.
Ou seja, em Portugal, o Estado é o empregador exclusivo da esmagadora maioria dos doutorados!
É obviamente positivo que o Estado português tenha ao seu serviço um número apreciável de doutorados, mas fazê-lo de tal forma que apenas 2,7% deles estejam ao serviço das empresas é uma perversão das políticas públicas e da correcta alocação do dinheiro dos contribuintes.
As bolsas de pós-doutoramento funcionam, por vezes, para tentar manter alguns doutorados numa “redoma protegida” das verdadeiras realidades económicas do país no seu conjunto.
A atribuição de bolsas de pós-doutoramento apenas para “manter em actividade” doutorados de alta qualidade é, muitas vezes, uma “atracção fatal” que pretende resolver um problema social, mas que só o faz agravar.
E quanto mais dinheiro o Estado gastar neste “doping”, sem enquadramento estratégico, pior.
Porque conduz à delapidação de muitas centenas de milhões de euros de dinheiros públicos por ano e, mais grave ainda, porque uma parte significativa dos doutorados, nomeadamente nas áreas da ciência e tecnologia, ficam numa situação de precariedade de carreira, em vez de estarem a trabalhar nas empresas onde a inovação tecnológica pode conduzir a um aumento da competitividade económica.
Por isso, nos países mais avançados, 40 a 50% dos doutorados em ciência e tecnologia trabalham em empresas.
Para que a questão possa ser resolvida, é necessário que as empresas e as políticas públicas em Portugal favoreçam a transição dos doutorados para as primeiras.
Por exemplo, através dum programa em que pelo menos 50% dos candidatos às bolsas de pós-doutoramento tenham de ir trabalhar para as empresas, sendo apoiados com fundos públicos num valor que seria metade dos montantes que o Estado gastaria se os mantivesse como bolseiros .
O Estado pouparia assim muito dinheiro, as empresas adquiririam uma preciosa ferramenta de competitividade e os doutorados ficariam com uma perspectiva de carreira profissional que, de outra forma, não poderiam obter.
Professor catedrático do Instituto
Superior Técnico
Clemente Pedro Nunes
12/08/2015 08:00
Jornal i
A inovação tecnológica é fundamental para garantir a competitividade das empresas e, por isso, é muito importante que em Portugal as empresas utilizem as tecnologias de forma economicamente eficiente.
O processo pelo qual a ciência é adquirida e desenvolvida para se converter em inovação tecnológica empresarialmente competitiva é, todavia, longo e complexo.
O Estado tem tido em Portugal um papel muito importante na promoção da investigação científica e, portanto, uma parte da opinião pública considera que basta o Estado gastar mais dinheiro nesta área para que as empresas se tornem mais competitivas.
Ora esta noção está completamente errada!
A componente fundamental para o sucesso deste processo é a existência duma estratégia que tenha em conta o enquadramento nacional e o contexto europeu e global.
Logo a partir dos conhecimentos científicos de base, é necessário optar entre as diferentes tecnologias a desenvolver a partir deles e definir depois quais os produtos e serviços em que essas “inovações tecnológicas” devem ser aplicadas.
E esta transposição entre a ciência e os “produtos inovadores” tem de ser feita em articulação entre as instituições de ensino e investigação e as empresas que actuam nos sectores de actividade em que essas inovações tecnológicas são aplicáveis.
A inovação tecnológica empresarialmente competitiva necessita de diversos ingredientes de base: as competências científicas/experimentais, as instalações industriais/empresariais onde as inovações tecnológicas se podem converter em capacidade económica, e os recursos humanos com a adequada formação tecnológica e de gestão.
Em termos de políticas públicas, o mais importante nesta área é a qualidade estratégica das mesmas e não o montante dos recursos financeiros que o Estado utiliza em todo este longo processo.
Por exemplo, uma percentagem significativa dos doutorados em ciência e tecnologia deverá estar inserida na actividade empresarial.
Ora, em Portugal, os dados de 2011 revelam que dos 26 175 doutorados em actividade, apenas 709, ou seja, uns escassos 2,7%, tinham vínculo laboral com empresas.
Ou seja, em Portugal, o Estado é o empregador exclusivo da esmagadora maioria dos doutorados!
É obviamente positivo que o Estado português tenha ao seu serviço um número apreciável de doutorados, mas fazê-lo de tal forma que apenas 2,7% deles estejam ao serviço das empresas é uma perversão das políticas públicas e da correcta alocação do dinheiro dos contribuintes.
As bolsas de pós-doutoramento funcionam, por vezes, para tentar manter alguns doutorados numa “redoma protegida” das verdadeiras realidades económicas do país no seu conjunto.
A atribuição de bolsas de pós-doutoramento apenas para “manter em actividade” doutorados de alta qualidade é, muitas vezes, uma “atracção fatal” que pretende resolver um problema social, mas que só o faz agravar.
E quanto mais dinheiro o Estado gastar neste “doping”, sem enquadramento estratégico, pior.
Porque conduz à delapidação de muitas centenas de milhões de euros de dinheiros públicos por ano e, mais grave ainda, porque uma parte significativa dos doutorados, nomeadamente nas áreas da ciência e tecnologia, ficam numa situação de precariedade de carreira, em vez de estarem a trabalhar nas empresas onde a inovação tecnológica pode conduzir a um aumento da competitividade económica.
Por isso, nos países mais avançados, 40 a 50% dos doutorados em ciência e tecnologia trabalham em empresas.
Para que a questão possa ser resolvida, é necessário que as empresas e as políticas públicas em Portugal favoreçam a transição dos doutorados para as primeiras.
Por exemplo, através dum programa em que pelo menos 50% dos candidatos às bolsas de pós-doutoramento tenham de ir trabalhar para as empresas, sendo apoiados com fundos públicos num valor que seria metade dos montantes que o Estado gastaria se os mantivesse como bolseiros .
O Estado pouparia assim muito dinheiro, as empresas adquiririam uma preciosa ferramenta de competitividade e os doutorados ficariam com uma perspectiva de carreira profissional que, de outra forma, não poderiam obter.
Professor catedrático do Instituto
Superior Técnico
Clemente Pedro Nunes
12/08/2015 08:00
Jornal i
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