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Mensagem por Admin Seg Ago 31, 2015 11:01 am

O austríaco Albert Jaeger é "o" homem do FMI em Portugal - está no país desde o início do programa, esteve em inúmeras reuniões com os nativos, ficou a conhecer o ‘establishment' do nosso rectângulo, ficou a gostar do nosso rectângulo.

O austríaco Albert Jaeger é "o" homem do FMI em Portugal - está no país desde o início do programa, esteve em inúmeras reuniões com os nativos, ficou a conhecer o ‘establishment' do nosso rectângulo, ficou a gostar do nosso rectângulo.

Por entre reflexões sobre o que foi o programa da troika e recados q.b. para o próximo governo, na entrevista a um mês da sua saída de Portugal, Jaeger deixa um aviso importante: cerca de 20% do emprego em Portugal está hoje em empresas com fraca sustentabilidade e anos contados. Por outras palavras: quase 900 mil pessoas têm o seu emprego em risco nos próximos anos. 

Este contingente de pessoas trabalha em mais de cem mil empresas com produtividade muito baixa e endividamento muito alto - uma combinação que, para o FMI, torna o seu fecho apenas numa questão de tempo. São aquelas empresas de que agentes de execução e quadros na banca falam como folhas secas depois do Inverno da troika - mesmo sem brisa ligeira vão caindo uma a uma; com vento forte caem às mãos cheias. Representam um dano futuro em empregos perdidos - e uma perda presente de recursos aplicados em negócios provavelmente inviáveis. 

A tomada de consciência sobre este problema coloca o desafio para a política económica num plano diferente. Afinal, não é só uma questão de criar condições que permitam absorver a maior parte dos actuais 620 mil desempregados oficiais e dos 243 mil desencorajados mas disponíveis para trabalhar. O desafio é ainda mais exigente: a somar a estas contas, a economia terá que evoluir de forma a ir absorvendo a destruição provável de até 900 mil empregos ao longo dos próximos anos.

A dimensão deste desafio - ligada à baixa qualificação dos nossos gestores e trabalhadores, aos incentivos errados para o endividamento e à gestão negligente da banca comercial - é suficiente para nos deixar de pés bem assentes na terra. Os caminhos são curtos. Por um lado, a base exportadora continua a ser demasiado escassa para absorver tanto emprego - em 2010 compreendia 13% das empresas e o crescimento das exportações desde então não resulta tanto do aparecimento de novas empresas, mas de um esforço das já existentes, lembra Albert Jaeger. Por outro, o actual equilíbrio das contas externas é frágil - como sublinha o mesmo Jaeger - o que desaconselha um estímulo centrado sobretudo no consumo privado e no investimento para ele dirigido. 

Dentro do euro a recuperação far-se-á menos lentamente à medida que Portugal conseguir melhorar o funcionamento das instituições públicas - tendo sempre em vista ser mais competitivo - e atrair investimento externo estruturante (que não é aquele que pontifica neste momento). É a conversa de sempre, sim - mas como o atraso é o de sempre, mesmo depois da "transformação estrutural" anunciada com o programa da troika, o desafio mantém-se. Apesar de melhor, a situação portuguesa continuará frágil e muito dura - mesmo com política boa e estável, um pressuposto arriscado, será preciso tempo até Portugal recuperar da bolha de investimento privado gerada com a adesão ao euro.

00:06 h
Bruno Faria Lopes
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