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O fardo do homem europeu
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O fardo do homem europeu
Lembram-se da estória do médico que recebe o paciente em consulta de resultado de análises e lhe anuncia que tem duas notícias, uma boa e uma má e lhe pergunta qual quer saber primeiro? A conclusão desta estória tem várias versões, umas mais infantis, outras mais picantes, mas o que interessa aqui para a minha crónica é que tudo na vida tem pelo menos dois lados e que um é sempre melhor que o pior, mesmo quando são os dois maus.
Nos dois tipos de refugiados que hoje convoco para este espaço, há os que são boa notícia e os que são muito má nova. Vamos começar pela má.
1. Os refugiados dos outros
Mesmo que as coisas se estejam por enquanto a passar do outro lado da Europa, não vale a pena fingirmos que não é nada connosco. Mas também não vale a pena debitarmos opiniões delicodoces, de um pieguismo insuportável, só para ficar bem na fotografia nacional ou internacional. Claro que estamos a falar de um drama humanitário, que não é melhor que muitos outros dramas, como aqueles com que por exemplo o eng.º Guterres teve de lidar nos últimos anos. Mas também não é pior que outros, só porque está a acontecer nas nossas fronteiras ocidentais e temos mais imagens e fotos disponíveis. Sendo um problema candente, o que é preciso é uma solução urgente. Muitas vezes as soluções urgentes não são resoluções finais ou totais do problema geral e acontecem danos colaterais? Paciência. Prefiro mil vezes quem propõe uma solução, como a que propôs o diretor do "Sol" (constituição de um Estado para os refugiados fora da Europa e mais perto do sítio de maior proveniência deles) do que quem anda a escrever prosas lacrimejantes sobre os desgraçados que se deixaram enganar por traficantes miseráveis e acabaram os seus dias dentro de um camião, ou no fundo do Mediterrâneo. Claro que esta ideia do arquiteto Saraiva pode levantar muitas dificuldades de implementação, mas seguramente que tem muito mais potencial para vir a amenizar o assunto, do que meia dúzia de lágrimas vertidas em letra de Imprensa. Faltará saber onde poderia ser, algures entre os continentes africano e asiático, se a ONU poderia ficar a superintender, mas gostei particularmente de uma sugestão que não se limita a importar o problema para a Europa e prevê que os refugiados possam adquirir (ou recuperar) hábitos de trabalho, que os afastem da mendicidade, ou outras formas de caridade que dão sempre para o torto.
Em qualquer dos casos este drama tem sido muito mal comparado com as imagens (para a esmagadora maioria dos que as citam, apenas da memória cinematográfica) dos tempos do Holocausto, porque entre esse extermínio de um povo por um líder europeu (o tal ditador eleito) e o que está a acontecer na Síria e no Iraque (ou no Afeganistão) vai uma distância enorme. Não percebo porque é que no caso atual o homem europeu deva ter um "fardo "especial ou superior aos homens dos outros continentes, a começar pelo americano.
2. Os "refugiados" dos nossos.
A boa notícia trago-a da Costa Vicentina, onde passei alguns dias de férias na zona de Aljezur. Passaram quase 10 anos desde a última vez que lá tinha estado e se daquilo que convém a uma zona demarcada de paisagem protegida, realmente parece tudo na mesma, a paisagem humana mudou e de que maneira. Do lado dos portugueses pouco há a assinalar. Os escalões etários e as "tribos" nacionais que demandam estas paragens, pouco ou nada se alteraram nestes 10 anos. Do lado dos "refugiados" estrangeiros que descobriram este refúgio para passarem as suas férias, mudarem o seu estilo de vida, ou acabarem os seus dias, é que notei muita diferença na quantidade, mas sobretudo, na qualidade. Confesso sinceramente que já não preciso, mas recomendo a todos os portugueses que só estão bem a dizer mal do país que lhes calhou, uns diazinhos por estas bandas. Não é pelo desfrute da paisagem, que isso temos em muitos outros lados, mesmo mais bonitas e sem serem "protegidas". É para ouvirem os alemães, franceses, holandeses, belgas, suíços... que por cá vivem, ou pastoreiam, dizerem como amam esta terra e este povo. E como se sentem por cá refugiados num paraíso.
02.09.2015
MANUEL SERRÃO
Jornal de Notícias
Nos dois tipos de refugiados que hoje convoco para este espaço, há os que são boa notícia e os que são muito má nova. Vamos começar pela má.
1. Os refugiados dos outros
Mesmo que as coisas se estejam por enquanto a passar do outro lado da Europa, não vale a pena fingirmos que não é nada connosco. Mas também não vale a pena debitarmos opiniões delicodoces, de um pieguismo insuportável, só para ficar bem na fotografia nacional ou internacional. Claro que estamos a falar de um drama humanitário, que não é melhor que muitos outros dramas, como aqueles com que por exemplo o eng.º Guterres teve de lidar nos últimos anos. Mas também não é pior que outros, só porque está a acontecer nas nossas fronteiras ocidentais e temos mais imagens e fotos disponíveis. Sendo um problema candente, o que é preciso é uma solução urgente. Muitas vezes as soluções urgentes não são resoluções finais ou totais do problema geral e acontecem danos colaterais? Paciência. Prefiro mil vezes quem propõe uma solução, como a que propôs o diretor do "Sol" (constituição de um Estado para os refugiados fora da Europa e mais perto do sítio de maior proveniência deles) do que quem anda a escrever prosas lacrimejantes sobre os desgraçados que se deixaram enganar por traficantes miseráveis e acabaram os seus dias dentro de um camião, ou no fundo do Mediterrâneo. Claro que esta ideia do arquiteto Saraiva pode levantar muitas dificuldades de implementação, mas seguramente que tem muito mais potencial para vir a amenizar o assunto, do que meia dúzia de lágrimas vertidas em letra de Imprensa. Faltará saber onde poderia ser, algures entre os continentes africano e asiático, se a ONU poderia ficar a superintender, mas gostei particularmente de uma sugestão que não se limita a importar o problema para a Europa e prevê que os refugiados possam adquirir (ou recuperar) hábitos de trabalho, que os afastem da mendicidade, ou outras formas de caridade que dão sempre para o torto.
Em qualquer dos casos este drama tem sido muito mal comparado com as imagens (para a esmagadora maioria dos que as citam, apenas da memória cinematográfica) dos tempos do Holocausto, porque entre esse extermínio de um povo por um líder europeu (o tal ditador eleito) e o que está a acontecer na Síria e no Iraque (ou no Afeganistão) vai uma distância enorme. Não percebo porque é que no caso atual o homem europeu deva ter um "fardo "especial ou superior aos homens dos outros continentes, a começar pelo americano.
2. Os "refugiados" dos nossos.
A boa notícia trago-a da Costa Vicentina, onde passei alguns dias de férias na zona de Aljezur. Passaram quase 10 anos desde a última vez que lá tinha estado e se daquilo que convém a uma zona demarcada de paisagem protegida, realmente parece tudo na mesma, a paisagem humana mudou e de que maneira. Do lado dos portugueses pouco há a assinalar. Os escalões etários e as "tribos" nacionais que demandam estas paragens, pouco ou nada se alteraram nestes 10 anos. Do lado dos "refugiados" estrangeiros que descobriram este refúgio para passarem as suas férias, mudarem o seu estilo de vida, ou acabarem os seus dias, é que notei muita diferença na quantidade, mas sobretudo, na qualidade. Confesso sinceramente que já não preciso, mas recomendo a todos os portugueses que só estão bem a dizer mal do país que lhes calhou, uns diazinhos por estas bandas. Não é pelo desfrute da paisagem, que isso temos em muitos outros lados, mesmo mais bonitas e sem serem "protegidas". É para ouvirem os alemães, franceses, holandeses, belgas, suíços... que por cá vivem, ou pastoreiam, dizerem como amam esta terra e este povo. E como se sentem por cá refugiados num paraíso.
02.09.2015
MANUEL SERRÃO
Jornal de Notícias
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