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Mensagem por Admin Qui Set 17, 2015 4:20 pm

Quando hoje referimos a Europa estamos, o mais das vezes, a falar da União Europeia, uma criação de décadas cujo primeiro objectivo foi evitar a repetição da Guerra Mundial que matou oitenta e cinco milhões de pessoas.

Até à crise financeira global de 2008, ninguém negava que a União cumpriu quase todos os seus principais objectivos.

Tivemos paz, desenvolvimento, e liderança em diversas questões centrais desde os direitos civis às alterações climáticas. O mais difícil de fazer chegou à nossa geração adquirido.
 
Depois veio 2008… Uma crise profunda para a Europa e maior para a esquerda democrática. 
 
Na tempestade perfeita, que juntou "deficits" excessivos e uma União sem mecanismos integrados de política económica, vários Estados-membros acabaram por não conseguir o normal financiamento da sua economia e precisaram de recorrer à União e ao FMI para não cair na bancarrota.
 
Nos países que receberam toda a assistência que pediram, a prudente gestão de recursos que permite o equilíbrio das contas públicas (única forma conhecida de gerir a dívida, como gostam de dizer) passou a ser designada pelo palavrão austeridade, sem que ninguém tenha apontado qualquer caminho, para equação complexa mas simples de formular: como manter justiça e redistribuição com menos recursos. E, já agora como caminhar de novo para essa abundância. Foi-se, simplesmente, salgando o lombo ao povo que pode pagar impostos…
  
Ironicamente, depois de anos de preguiça e fundos estruturais, muitos viraram a sua ira, real ou simulada, para a União… As suas instituições são "antidemocráticas" e não obrigam os Estados que durante séculos trataram de si sozinhos a pagar a dívida dos outros, mesmo que ninguém pare um segundo para saber quanto custa ou, sobretudo, se e como é tal obrigação devida.
  
Como o delírio não conhece limites, os marxistas, sempre na vanguarda, foram os primeiros gaiteiros e o Syriza o seu fole preferido… O resultado está à vista: a Grécia vai no terceiro resgate, o sr. Tsipras foi de radical a moderado em seis meses, o Bloco de Esquerda já faz que nem os conhece e até já descobriu agora o seu novo herói: o trabalhista britânico Corbyn, eleito desvairadamente pelos seus para delícia de todos os que ficaram de fora.
 
Desta vez o dr. Costa e os seus foram mais prudentes. Não proclamam o seu encanto como aconteceu aquando da vitória do Syriza.
 
Ao contrário do Bloco, não foram a correr para a "selfie" das promessas de nacionalizar tudo o que mexe, aumentar subsídios e distribuir felicidade por decreto. Deviam aproveitar o embalo de, aparentemente já terem aprendido com a Grécia para começar a pensar o que fazer na eventualidade, ainda assim difícil, de ganharem por poucos, dado que por muitos ninguém ganha.
  
Como vários têm finalmente observado, estamos perante o paradoxo de a campanha se centrar em torno dos dois programas mais parecidos que a escolha de 4 de Outubro oferece.
  
Nada podia atestar melhor o bom senso do povo a quem se dirigem. Uma plateia com inteligência, para a três quartos, ainda decidir permanecer nesta coisa chamada Europa só pode significar muita sabedoria.
 
É por isso que valia a pena ter havido mais debates e menos "televisão"… Interessava muito saber se António Costa, rodeado que está de uma direcção que quase embarcava para a Grécia com o Bloco, vai no dia seguinte às eleições ter o bom senso de viabilizar um governo de coligação, se esta ganhar por um voto, ou pedir o seu apoio, se ganhar por um voto. A alternativa é o casamento surreal, evitado durante quarenta anos, entre um partido que defende como projecto central a permanência na Europa e no euro, com as suas regras, e outros que tem por ideia central exactamente a oposta desta.

Pelo sim, pelo não, a dúvida não deixa caminho aos indecisos que não seja o de optar pela prudência… Como se viu nos últimos dias, a Europa, Schengen e o euro são coisas muito más. Pior, só tudo o resto.
 
Advogado

16 Setembro 2015, 19:40 por José Eduardo Martins | jose.e.martins@abreuadvogados.com
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