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A era do fim das bolhas?
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A era do fim das bolhas?
Quando a economia mundial parecia começar finalmente a endireitar-se, eis que surge inusitada uma crise na China e no setor das matérias-primas. Azar dos Távoras? Na verdade não há nada de fortuito nisto.
Os dois fenómenos estão interligados e são corolário da proliferação de bolhas que as autoridades de política económica de todo o mundo foram criando para disfarçar as fragilidades com que se foram deparando. A história é antiga, mas a trama do último episódio de insuflação de bolhas começou a desenrolar-se no início do século, na sequência da implosão das dot.com e da admissão da China à Organização Mundial de Comércio.
O desmantelamento do comunismo no final do século passado pôs em marcha um processo de integração na economia global de colossos populacionais de baixos custos laborais que limitou aos operários industriais do primeiro mundo capacidade de concorrer no mercado livre com os seus elevados salários e generosa proteção social. Para evitar deixar à sua sorte os trabalhadores mais expostos à concorrência internacional, os países mais desenvolvidos procuraram santuário nas atividades não-transacionáveis: construção, imobiliário, serviços públicos e distribuição. Para tal bastou ter Estados esbanjadores e bancos centrais dispostos a dispensar a liquidez suficiente para cobrir o endividamento que tal estratégia reclamava.
O resultado foi uma forte expansão no Ocidente com base em investimento público faustoso, aumentos generosos das prestações sociais e bolhas imobiliárias. O concomitante surto consumista exponenciou o crescimento do setor exportador de países como a China, o que por sua vez ditou uma explosão na procura e nos preços das matérias-primas produzidas por outras economias emergentes (e algumas desenvolvidas, como a Austrália e o Canadá). Até 2008 parecia que nada podia descarrilar o comboio da prosperidade mundial. O drama é que todo este progresso assentava nas areias movediças do endividamento excessivo e quando a crise do subprime travou a acumulação de dívida no Ocidente, o ímpeto consumista esvaiu-se e o modelo de negócio da China e dos seus fornecedores ruiu. O preço das commodities energéticas e industriais colapsou, o mesmo acontecendo às moedas da generalidade dos mercados emergentes.
O que se seguiu foi extraordinário. Acossadas pela ameaça recessiva, as autoridades chinesas replicaram a estratégia de estímulo à procura (com recurso a dívida) com que os países desenvolvidos tinham debelado a recessão do início do século. Que essa via tenha desembocado na maior crise em cem anos não foi dissuasor suficiente. O resultado foi uma vertigem construtora na China em infraestruturas e imobiliário, atividades que por serem intensivas em matérias-primas conferiram novo impulso ao complexo das commodities, cujos preços voltaram a exorbitar em 2011. Só que, em 2013, a bolha imobiliária chinesa começou a desfazer-se.
Com as exportações a cair, o setor da construção em retração e volumes preocupantes de dívida, a China viu-se a braços com a iminência de uma crise, a menos que algo fosse feito. Esgotado o potencial de estímulo das atividades tangíveis, a China virou-se para o mercado acionista. A ideia era sustentar o consumo através do efeito de riqueza gerado pela valorização bolsista, tal como fez a Reserva Federal dos EUA com os programas de quantitative easing. A solução parecia estar a correr de feição: entre junho de 2014 e junho de 2015, o índice acionista de Xangai aumentou 150%. Mas como a compra e venda de ações não requer matérias-primas, toda a engrenagem a montante dos setores chineses da construção e da indústria começou a colapsar em 2014, provocando a depreciação generalizada das moedas emergentes.
O golpe de misericórdia em todo este esquema ocorreu em agosto último, quando as autoridades financeiras chinesas não conseguiram estancar as pesadas quedas no mercado acionista. Aqui chegados, a China depara-se com um dilema tortuoso: ou inventa outras bolhas para insuflar ou experimenta a recessão que vem adiando desde 2008. E quanto aos países desenvolvidos? Irão estes aproveitar o rebentamento das bolhas na China e nas commodities para manter vivas as suas com paliativos monetários que há muito perderam a sua eficácia económica, ou admitem que o carrossel das bolhas já girou vezes demasiadas?
Chief economist do Millenniumbcp
Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
17 Setembro 2015, 20:30 por José M. Brandão de Brito
Negócios
Os dois fenómenos estão interligados e são corolário da proliferação de bolhas que as autoridades de política económica de todo o mundo foram criando para disfarçar as fragilidades com que se foram deparando. A história é antiga, mas a trama do último episódio de insuflação de bolhas começou a desenrolar-se no início do século, na sequência da implosão das dot.com e da admissão da China à Organização Mundial de Comércio.
O desmantelamento do comunismo no final do século passado pôs em marcha um processo de integração na economia global de colossos populacionais de baixos custos laborais que limitou aos operários industriais do primeiro mundo capacidade de concorrer no mercado livre com os seus elevados salários e generosa proteção social. Para evitar deixar à sua sorte os trabalhadores mais expostos à concorrência internacional, os países mais desenvolvidos procuraram santuário nas atividades não-transacionáveis: construção, imobiliário, serviços públicos e distribuição. Para tal bastou ter Estados esbanjadores e bancos centrais dispostos a dispensar a liquidez suficiente para cobrir o endividamento que tal estratégia reclamava.
O resultado foi uma forte expansão no Ocidente com base em investimento público faustoso, aumentos generosos das prestações sociais e bolhas imobiliárias. O concomitante surto consumista exponenciou o crescimento do setor exportador de países como a China, o que por sua vez ditou uma explosão na procura e nos preços das matérias-primas produzidas por outras economias emergentes (e algumas desenvolvidas, como a Austrália e o Canadá). Até 2008 parecia que nada podia descarrilar o comboio da prosperidade mundial. O drama é que todo este progresso assentava nas areias movediças do endividamento excessivo e quando a crise do subprime travou a acumulação de dívida no Ocidente, o ímpeto consumista esvaiu-se e o modelo de negócio da China e dos seus fornecedores ruiu. O preço das commodities energéticas e industriais colapsou, o mesmo acontecendo às moedas da generalidade dos mercados emergentes.
O que se seguiu foi extraordinário. Acossadas pela ameaça recessiva, as autoridades chinesas replicaram a estratégia de estímulo à procura (com recurso a dívida) com que os países desenvolvidos tinham debelado a recessão do início do século. Que essa via tenha desembocado na maior crise em cem anos não foi dissuasor suficiente. O resultado foi uma vertigem construtora na China em infraestruturas e imobiliário, atividades que por serem intensivas em matérias-primas conferiram novo impulso ao complexo das commodities, cujos preços voltaram a exorbitar em 2011. Só que, em 2013, a bolha imobiliária chinesa começou a desfazer-se.
Com as exportações a cair, o setor da construção em retração e volumes preocupantes de dívida, a China viu-se a braços com a iminência de uma crise, a menos que algo fosse feito. Esgotado o potencial de estímulo das atividades tangíveis, a China virou-se para o mercado acionista. A ideia era sustentar o consumo através do efeito de riqueza gerado pela valorização bolsista, tal como fez a Reserva Federal dos EUA com os programas de quantitative easing. A solução parecia estar a correr de feição: entre junho de 2014 e junho de 2015, o índice acionista de Xangai aumentou 150%. Mas como a compra e venda de ações não requer matérias-primas, toda a engrenagem a montante dos setores chineses da construção e da indústria começou a colapsar em 2014, provocando a depreciação generalizada das moedas emergentes.
O golpe de misericórdia em todo este esquema ocorreu em agosto último, quando as autoridades financeiras chinesas não conseguiram estancar as pesadas quedas no mercado acionista. Aqui chegados, a China depara-se com um dilema tortuoso: ou inventa outras bolhas para insuflar ou experimenta a recessão que vem adiando desde 2008. E quanto aos países desenvolvidos? Irão estes aproveitar o rebentamento das bolhas na China e nas commodities para manter vivas as suas com paliativos monetários que há muito perderam a sua eficácia económica, ou admitem que o carrossel das bolhas já girou vezes demasiadas?
Chief economist do Millenniumbcp
Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
17 Setembro 2015, 20:30 por José M. Brandão de Brito
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