Espreitadores

A campanha das legislativas segue aparvalhada e, nas televisões, deixou de ser um privilégio dos espectadores, oferecendo palco aos espreitadores, uma espécie de candelabros humanos, com ligações aos partidos, que se penduram atrás de um político quando este resolve falar às televisões durante as arruadas. Estes personagens são especialmente refinados nas ações de campanha dos partidos do arco da governação - o arco que mais danos causou ao país desde que, em 1755, aquela onda em arco (agora chama-se tsunami), afogou Lisboa, após um violento sismo. Sejamos justos, ser espreitador não é fácil. É necessário saber forçar o vómito de gargalhadas quando o político ataca o rival, ou fechar-se como quem tem vontade de tossir e não quer acordar o filho recém-nascido sempre que o líder do partido promete algo que não poderá cumprir. Trata-se de uma atividade penosa, ainda por cima não remunerada, pois a ocupação de espreitador não consta na lista de profissões. Mas talvez o segredo seja esse: os espreitadores procuram emprego. E assim passa a fazer sentido sujeitarem-se àqueles violentos chega-para-lá só para aparecerem ao lado de alguém como Pedro Passos Coelho, pessoa mal--afamada, conhecida por cortar nas reformas dos velhinhos e outras patifarias.

26.09.2015
VÍTOR SANTOS
Jornal de Notícias