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CONSCIÊNCIA DO ELEITOR - O triunfo da amabilidade
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CONSCIÊNCIA DO ELEITOR - O triunfo da amabilidade
Para efeitos práticos não se concebe, nem talvez se possa conceber, qualquer diferença entre um voto realizado depois de um exame de consciência e um voto exercido por desfastio, capricho ou acaso.
Nalguns sítios acredita-se que a palavra ‘voto’ vem da palavra em latim para voz; quando há uma eleição diz-se que o eleitorado falou. Noutros acredita-se que vem da palavra em latim para prever que certa coisa aconteça (como em ‘fazer votos’). A primeira teoria é a mais frequente. Há parlamentos em que as pessoas votam em voz alta ou levantam os braços. Mesmo quando se vota por correspondência ou em silêncio imagina-se que votar é praticamente igual a falar; e que falar é exprimir uma vontade.
Consta que antes ou durante a permanência na cabine de voto as pessoas examinam a sua vontade; a tarefa será parecida com um exame de consciência, e a cabine de voto é parecida com um confessionário vazio. Depois de devidamente examinada a vontade, as pessoas escolhem aquilo que mais parece adequar-se a ela. Se pouco se adequa à vontade escolhem o que se adequa mais; e se nada se adequa, não escolhem nada. Trata-se todavia de uma empreitada de execução difícil. Por exemplo, quando eu examino a minha consciência raramente encontro resposta para a questão da regulação do sector energético.
Acresce ainda que para efeitos práticos não se concebe, nem talvez se possa conceber, qualquer diferença entre um voto realizado depois de um exame de consciência e um voto exercido por desfastio, capricho ou acaso; da mesma maneira que não se pode conceber qualquer diferença prática entre o voto de uma pessoa que tomou banho nessa manhã e uma pessoa que não o fez. Quando os moralistas políticos recomendam o exame de consciência ou o voto obrigatório, ou quando os juristas morais recomendam um ramadão propiciatório sem álcool ou sondagens, estão implicitamente a sugerir que certos tipos de voto são mais genuínos que outros; mas falta-lhes depois a disposição para imaginar as consequências.
A teoria da vontade é imperfeita e não serve para explicar nem a mais comezinha ida ao supermercado; não serve por exemplo para explicar o facto de na maior parte dos casos acabarmos com os carrinhos de compras cheios de coisas que não estavam na nossa lista. Votar porém não é uma actividade irracional; votamos quase sempre com motivos, e por razões: o exercício da nossa vontade é apenas uma das explicações menos plausíveis.
Entre as várias razões que eu possa ter para votar uma das mais importantes mas menos consideradas é acertar nos resultados da eleição. Não se trata de uma lotaria no sentido clássico porque, bem entendido, não tenho nada a ganhar num sentido clássico. O incentivo para participar no exercício é a satisfação racional da possibilidade de acertar na vontade das outras pessoas; e tento fazê-lo fazendo votos para que também elas tenham tentado acertar na minha (que é a de acertar na delas). Podemos nestes casos definir a democracia como um meio para assegurar o triunfo da amabilidade. É o único sistema político que o consegue fazer.
Miguel Tamen
9/10/2015, 11:27
Observador
Nalguns sítios acredita-se que a palavra ‘voto’ vem da palavra em latim para voz; quando há uma eleição diz-se que o eleitorado falou. Noutros acredita-se que vem da palavra em latim para prever que certa coisa aconteça (como em ‘fazer votos’). A primeira teoria é a mais frequente. Há parlamentos em que as pessoas votam em voz alta ou levantam os braços. Mesmo quando se vota por correspondência ou em silêncio imagina-se que votar é praticamente igual a falar; e que falar é exprimir uma vontade.
Consta que antes ou durante a permanência na cabine de voto as pessoas examinam a sua vontade; a tarefa será parecida com um exame de consciência, e a cabine de voto é parecida com um confessionário vazio. Depois de devidamente examinada a vontade, as pessoas escolhem aquilo que mais parece adequar-se a ela. Se pouco se adequa à vontade escolhem o que se adequa mais; e se nada se adequa, não escolhem nada. Trata-se todavia de uma empreitada de execução difícil. Por exemplo, quando eu examino a minha consciência raramente encontro resposta para a questão da regulação do sector energético.
Acresce ainda que para efeitos práticos não se concebe, nem talvez se possa conceber, qualquer diferença entre um voto realizado depois de um exame de consciência e um voto exercido por desfastio, capricho ou acaso; da mesma maneira que não se pode conceber qualquer diferença prática entre o voto de uma pessoa que tomou banho nessa manhã e uma pessoa que não o fez. Quando os moralistas políticos recomendam o exame de consciência ou o voto obrigatório, ou quando os juristas morais recomendam um ramadão propiciatório sem álcool ou sondagens, estão implicitamente a sugerir que certos tipos de voto são mais genuínos que outros; mas falta-lhes depois a disposição para imaginar as consequências.
A teoria da vontade é imperfeita e não serve para explicar nem a mais comezinha ida ao supermercado; não serve por exemplo para explicar o facto de na maior parte dos casos acabarmos com os carrinhos de compras cheios de coisas que não estavam na nossa lista. Votar porém não é uma actividade irracional; votamos quase sempre com motivos, e por razões: o exercício da nossa vontade é apenas uma das explicações menos plausíveis.
Entre as várias razões que eu possa ter para votar uma das mais importantes mas menos consideradas é acertar nos resultados da eleição. Não se trata de uma lotaria no sentido clássico porque, bem entendido, não tenho nada a ganhar num sentido clássico. O incentivo para participar no exercício é a satisfação racional da possibilidade de acertar na vontade das outras pessoas; e tento fazê-lo fazendo votos para que também elas tenham tentado acertar na minha (que é a de acertar na delas). Podemos nestes casos definir a democracia como um meio para assegurar o triunfo da amabilidade. É o único sistema político que o consegue fazer.
Miguel Tamen
9/10/2015, 11:27
Observador
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