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Mensagem por Admin Qui Out 22, 2015 5:26 pm

Sou um empreendedor, apaixonado por energias renováveis e com atividade profissional no setor. Além do interesse empresarial, é com interesse pessoal que sempre segui de perto a temática dos financiamentos europeus para projetos (sobretudo na inovação) tendo, como é natural, a oportunidade de trabalhar neles com alguma assiduidade.


Tive e tenho o privilégio de ser um dos fundadores da Boa Energia, uma das primeiras empresas em Portugal a apresentar kits de autoconsumo energético e podemos orgulhar-nos de ter um produto de qualidade com preços competitivos. Uma fase de alguma visibilidade inicial e a vontade de internacionalizar trouxe-nos diversos contactos e possíveis projetos, em Portugal como noutros países, sobretudo os de língua oficial Portuguesa. Isto para dizer que até ao Portugal 2020 nunca utilizámos fundos como o QREN ou PRODER. Mas agora pensámos que podia ser uma boa oportunidade de dar o uso devido a este tipo de financiamentos, utilizando-os para fazer algo que já temos no nosso plano de negócio.
 
O objetivo é simples: internacionalizar, implementar ideias inovadoras e contratar trabalhadores qualificados. Há financiamentos para tudo isto no P2020, logo, decidimos avançar. Mas aí esbarramos em dois males do nosso país: um antigo, a falta de respeito pelo bem comum, e outro mais contemporâneo, a tecnocracia excessiva.
 
Começámos pelos Vales PME, que existem para que as empresas de pequena e média dimensão possam contratar consultoria sobre como inovar, gerir ou internacionalizarem-se. Ainda mal tinha aberto a segunda fase de candidaturas, já os vales para a região de Lisboa estavam reduzidos de 75% de financiamento para os 45%. E, de repente, esgotados, sem que houvesse grande explicação oficial. A alternativa foi passar para os projetos maiores, Internacionalização e Investigação e Desenvolvimento. Sendo candidaturas de grande envergadura, foi decidido ter o apoio de um consultor especializado. A primeira pergunta foi: "Já verificaram se são elegíveis?" Claro que sim: trata-se de uma PME, com atividade aberta e trabalhadores a contrato, e que vai criar emprego.
 
A análise de um guia de classificação de propostas trouxe uma surpresa. O último ponto: "Enquadramento com a Estratégia Regional de Especialização Inteligente." Portugal tem uma Estratégia Nacional para a Especialização Inteligente, que pretende alavancar as áreas em melhor nos podemos diferenciar e em que conta com mais centros de competência, a partir da qual, cada região desenvolveu sua. A segunda surpresa começa quando verificamos que não constam as energias renováveis na estratégia para a região de Lisboa! No Porto, também não. Pelo menos não com a clareza com que está espelhada na estratégia da região do Algarve, por exemplo.
 
O que está em causa é a ideia: Especialização Regional Inteligente dentro de Portugal? Portugal tem no seu todo uma dimensão mais pequena do que muitas das regiões dos nossos vizinhos europeus. Eventualmente faria sentido, a existência de uma Estratégia de Especialização Inteligente da União Europeia, dos Estados Unidos ou até dos PALOP. Claro que podemos ter centros de competências e até "clusters" estratégicos em determinadas zonas geográficas, mas não me parece justo que, por sermos especialistas em renováveis e termos sede em Lisboa, se deixe de apoiar a nossa internacionalização ou projetos de inovação.
 
Estas surpresas constituem obstáculos grandes à atividade, que dificultam aquilo em que os empreendedores e gestores das pequenas empresas são melhores: fazer acontecer. Tornam-nos menos competitivos, mais lentos e menos resistentes aos obstáculos e imprevistos. Agora, só há duas saídas: arriscar e acreditar que vai dar tudo certo ou resignar-se.
 
CEO da Boa Energia
 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

22 Outubro 2015, 00:01 por Nuno Brito Jorge
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