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Manta de retalhos
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Manta de retalhos
Apesar de ainda nada se saber sobre os termos da sua constituição ou a forma como será mantido, PS, Bloco e PCP garantem que o acordo à esquerda vai existir e perdurar. E têm uma certeza: mesmo que o programa apresentado pela coligação vá ao encontro das suas ambições, é para chumbar, para cortar pela raiz. A razão é simples: a esquerda não acredita que haja verdadeira vontade à direita de pôr fim à austeridade. Mesmo que a coligação assuma o compromisso de acabar com os cortes nos salários e pensões, baixar os impostos, pôr fim à sobretaxa do IRS. Ainda que a coligação incluísse essas e outras medidas no seu programa e as validasse no Orçamento do Estado, o governo liderado por Pedro Passos Coelho e Paulo Portas é para deitar abaixo e ser substituído por um que resulte de um acordo à esquerda. Não importam as ações mas as intenções - e à direita não as há de valor.
Claro que o caso grego não ajuda a fortalecer o argumento - mesmo com as melhores intenções, o governo de Tsipras, duplamente validado pelos gregos pela sua firmeza em fazer frente às instituições, acabou por fazer cortes ainda mais profundos do que os que seriam necessários há um ano. Como o fim das reformas antecipadas e um corte de 10% na pensão para quem já se reformou mas ainda não tem os exigidos 67 anos, por exemplo, mesmo antes de entrar em força a reforma geral da Segurança Social. Há duas semanas, quando a sua coligação votou ao lado da direita para aprovar as medidas de austeridade exigidas pelos credores, Alexis Tsipras assumiu que era melhor "um mau acordo do que nenhum acordo", e explicou que, apesar de continuar a não acreditar no texto, assinou-o para evitar "um desastre para o país".
Mas a verdade é que as intenções se mantêm - e isso há de contar para alguma coisa. Como decerto pesará alguma coisa o facto de Jerónimo de Sousa garantir que defenderá sempre os valores do PCP - convictamente contra o Tratado Orçamental e a favor do "controlo público da banca", por exemplo -, ainda que esteja disposto a guardá-los na gaveta durante uns anos para apoiar um governo de António Costa. O mesmo líder socialista que, apenas dias antes das eleições, Catarina Martins acusava de querer "o poder absoluto para atacar pensões, para atacar o emprego", quando "era mesmo bom era que o PS dissesse qualquer coisa de esquerda". Mas que agora está pronto para deixar cair até algumas das suas bandeiras, como o corte da taxa social única ou o plafonamento das pensões.
O que é bem claro hoje, a dias da apresentação das moções de rejeição ao governo da coligação, e de finalmente serem conhecidos os termos do prometido acordo alternativo, é que as diferenças à esquerda foram arrumadas em nome de uma alternativa estável e duradoura, a bem da estabilidade do país. Arrumadas apenas temporariamente, é claro, porque o PS, o Bloco e o PCP continuam a manter bem viva a sua identidade - têm-no repetido, aliás, a bem da pacificação interna dos partidos.
A questão que se impõe não é se o PS apoiado por Bloco e PCP chegará a ser governo - está mais ou menos definido que acontecerá. Mas quanto tempo levará até aparecerem os primeiros buracos nesta manta de retalhos mal cosidos. E se o interesse do país será, de facto, posto em primeiro lugar.
Editorial
01 DE NOVEMBRO DE 2015
00:00
Joana Petiz
Diário de Notícias
Claro que o caso grego não ajuda a fortalecer o argumento - mesmo com as melhores intenções, o governo de Tsipras, duplamente validado pelos gregos pela sua firmeza em fazer frente às instituições, acabou por fazer cortes ainda mais profundos do que os que seriam necessários há um ano. Como o fim das reformas antecipadas e um corte de 10% na pensão para quem já se reformou mas ainda não tem os exigidos 67 anos, por exemplo, mesmo antes de entrar em força a reforma geral da Segurança Social. Há duas semanas, quando a sua coligação votou ao lado da direita para aprovar as medidas de austeridade exigidas pelos credores, Alexis Tsipras assumiu que era melhor "um mau acordo do que nenhum acordo", e explicou que, apesar de continuar a não acreditar no texto, assinou-o para evitar "um desastre para o país".
Mas a verdade é que as intenções se mantêm - e isso há de contar para alguma coisa. Como decerto pesará alguma coisa o facto de Jerónimo de Sousa garantir que defenderá sempre os valores do PCP - convictamente contra o Tratado Orçamental e a favor do "controlo público da banca", por exemplo -, ainda que esteja disposto a guardá-los na gaveta durante uns anos para apoiar um governo de António Costa. O mesmo líder socialista que, apenas dias antes das eleições, Catarina Martins acusava de querer "o poder absoluto para atacar pensões, para atacar o emprego", quando "era mesmo bom era que o PS dissesse qualquer coisa de esquerda". Mas que agora está pronto para deixar cair até algumas das suas bandeiras, como o corte da taxa social única ou o plafonamento das pensões.
O que é bem claro hoje, a dias da apresentação das moções de rejeição ao governo da coligação, e de finalmente serem conhecidos os termos do prometido acordo alternativo, é que as diferenças à esquerda foram arrumadas em nome de uma alternativa estável e duradoura, a bem da estabilidade do país. Arrumadas apenas temporariamente, é claro, porque o PS, o Bloco e o PCP continuam a manter bem viva a sua identidade - têm-no repetido, aliás, a bem da pacificação interna dos partidos.
A questão que se impõe não é se o PS apoiado por Bloco e PCP chegará a ser governo - está mais ou menos definido que acontecerá. Mas quanto tempo levará até aparecerem os primeiros buracos nesta manta de retalhos mal cosidos. E se o interesse do país será, de facto, posto em primeiro lugar.
Editorial
01 DE NOVEMBRO DE 2015
00:00
Joana Petiz
Diário de Notícias
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