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Consumismo
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Consumismo
Chegamos em cima da hora, já com a campainha a tocar. Corremos para a bilheteira, aos tropeções, cada um remexendo nos bolsos a seu próprio nervoso modo e espalhando pelo chão carteiras, telemóveis, um isqueiro.
Mesmo sobre o balcão, a Catarina tem uma hesitação - não sei se torceu um pé, se partiu o telemóvel. Faço um último esforço, saco de uma nota de vinte, já a desfalecer, e ainda consigo balbuciar:
- Dois bilhetes e um pacote de M&Ms, por favor!
O rapaz faz a sua habitual cara de póquer:
- Só há Kit Kat.
Eu não gosto de Kit Kat. Detesto Kit Kat, e, se não se tivesse tornado impossível ver um filme do Ridley Scott sem outra coisa com que me entreter, não comprava mas era chocolate nenhum. Assim, compro o Kit Kat e arrasto-me para a sala, vencido.
De resto, a cena é recorrente. Entro na mercearia, peço uma Cola Zero e o Roberto faz aquele seu ar suplicioso:
- Ah, só tenho normal...
Vou ao supermercado, dou duas voltas à procura de massa fresca, sugiro às raparigas que encomendem, espero três semanas - e, quando chega, só vêm quatro pacotes, pelo que em breve terei de esperar três semanas outra vez.
E mais. Se gosto de uns sapatos, nunca há o 42. Se quero aparar a barba, o pente avariou. Se preciso de um extensor para a torneira, os de rosca estão esgotados - posso é levar os de braçadeira.
Não há mercado. E, não havendo mercado, não pode haver stock.
Conheço duas maneiras de lidar com o problema. Uma é comprar online. Ninguém sabe tanto de compras online como os açorianos. Sabem as lojas, os produtos, os transportes. Coisas baratas e coisas caras - ninguém se desgraça tanto online como os açorianos.
Outra é fazer o que eu faço: deixar para comprar em Lisboa, quando lá passar. E, quando passo, já desapareceu o desejo.
Não há melhor antídoto contra o consumismo. E raramente é preciso comer um Kit Kat.
05 DE NOVEMBRO DE 2015
00:00
Joel Neto
Diário de Notícias
Mesmo sobre o balcão, a Catarina tem uma hesitação - não sei se torceu um pé, se partiu o telemóvel. Faço um último esforço, saco de uma nota de vinte, já a desfalecer, e ainda consigo balbuciar:
- Dois bilhetes e um pacote de M&Ms, por favor!
O rapaz faz a sua habitual cara de póquer:
- Só há Kit Kat.
Eu não gosto de Kit Kat. Detesto Kit Kat, e, se não se tivesse tornado impossível ver um filme do Ridley Scott sem outra coisa com que me entreter, não comprava mas era chocolate nenhum. Assim, compro o Kit Kat e arrasto-me para a sala, vencido.
De resto, a cena é recorrente. Entro na mercearia, peço uma Cola Zero e o Roberto faz aquele seu ar suplicioso:
- Ah, só tenho normal...
Vou ao supermercado, dou duas voltas à procura de massa fresca, sugiro às raparigas que encomendem, espero três semanas - e, quando chega, só vêm quatro pacotes, pelo que em breve terei de esperar três semanas outra vez.
E mais. Se gosto de uns sapatos, nunca há o 42. Se quero aparar a barba, o pente avariou. Se preciso de um extensor para a torneira, os de rosca estão esgotados - posso é levar os de braçadeira.
Não há mercado. E, não havendo mercado, não pode haver stock.
Conheço duas maneiras de lidar com o problema. Uma é comprar online. Ninguém sabe tanto de compras online como os açorianos. Sabem as lojas, os produtos, os transportes. Coisas baratas e coisas caras - ninguém se desgraça tanto online como os açorianos.
Outra é fazer o que eu faço: deixar para comprar em Lisboa, quando lá passar. E, quando passo, já desapareceu o desejo.
Não há melhor antídoto contra o consumismo. E raramente é preciso comer um Kit Kat.
05 DE NOVEMBRO DE 2015
00:00
Joel Neto
Diário de Notícias
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