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Mensagem por Admin Dom Nov 08, 2015 12:10 pm

Em Portugal mataram dois chefes de Estado nos últimos 110 anos, mas como se fez uma revolução com cravos ou ninguém partiu montras durante o recente período de austeridade e como em regra as pessoas respondem "vai-se andando", somos sempre o país dos brandos costumes. A verdade é que Portugal é hoje, como nunca nas últimas quatro décadas, um país onde os nervos estão à flor da pele.

A televisão, que para o bem e para o mal reflete a sociedade, dá conta desse clima extremado em que se multiplicam os donos da verdade absoluta. Podemos relativizar dizendo que o país não tem situações de nacionalismos ou de radicalismo religioso, mas nunca como hoje o debate - da política à justiça, acabando no inevitável futebol - foi tão crispado. Uma crispação, com insultos à mistura, que começa nas redes sociais e chega aos ecrãs das televisões por cabo. Basta ver o grau de agressividade que, nos últimos meses, assumiram os programas de contacto direto com os espectadores.

O confronto de ideias é muito importante, os media desempenham nesse confronto um papel central em qualquer sociedade democrática, mas o senso comum neste momento não é assim tão comum.

Hoje em Portugal os media, a começar pelas televisões, são parte da discussão porque, no meio de bom trabalho jornalístico no domínio da reportagem, alimentam durante horas infindáveis, discussões e debates estéreis. É mais fácil escrever nos jornais do que gerir no dia-a-dia (eu sei) mas em certas alturas é importante encontrar mecanismos de reflexão.

Neste contexto vale a pena sublinhar um texto que Francisco Pinto Balsemão escreveu nesta semana a convite da revista Sábado tendo como ponto de partida a providência cautelar interposta por José Sócrates ao Grupo Cofina a propósito da Operação Marquês. Balsemão, com a sabedoria que resulta de um longo percurso no jornalismo, deixou claro o que, sendo uma evidência, foi dito, e a medo, apenas por alguns - "qualquer tentativa de condicionar a priori o exercício do jornalismo é um sintoma grave para a democracia", mas lembrou igualmente que os jornalistas também têm deveres e que não estão acima da lei.

Globalmente esta leitura sintetiza a necessidade, como enfatiza o próprio presidente do Grupo Impresa, de reforçar os mecanismos de autorregulação que, na verdade, só funcionam para temas menores e nunca para assuntos verdadeiramente importantes.

Por exemplo, neste caso, alguém quer discutir se os jornalistas devem ou não constituir-se como assistentes nos processos? E se sendo assistentes - qualquer cidadão pode constituir-se como assistente - devem cumprir o código deontológico e não usar os dados que lá estão ou, pelo contrário, considerar que o interesse público se sobrepõe em toda e qualquer circunstância?

Algum Charlie pode responder?

Angola em debate

Em mais um passo da sua afirmação, a RTP3, que tem uma interessante oferta de programação e um bom grafismo, colocou frente a frente António Luvualu de Carvalho, embaixador itinerante de Angola, e José Eduardo Agualusa, escritor angolano crítico do regime de Luanda. Foi um "furo" jornalístico e quebrou a ideia de que o poder não aceita debater com os críticos. Os canais portugueses são seguidos em Angola com toda a atenção pelos setores mais influentes da sociedade.

Remar contra a maré

A novela Coração d"Ouro teve um arranque muito forte mas acabou por sucumbir ao cerco montado pela TVI e hoje é raro o dia em que suplanta a sua concorrente direta - A Única Mulher. Coração d"Ouro, embora menos transversal do que Mar Salgado, é uma boa história, bem produzida e com um ótimo elenco. Neste momento o resultado atingido deve ser enquadrado no contexto geral da performance da SIC. Um sinal mais preocupante é que a SIC que sempre foi mais forte nos chamados targets comerciais está também a perder terreno para a concorrência.

08 DE NOVEMBRO DE 2015
00:01
NUNO SANTOS
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