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A terceira guerra mundial?
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A terceira guerra mundial?
Um jornalista francês afirmou, por estes dias, que a reação de François Hollande aos ataques de Paris foi precisamente aquela que os mandantes dos terroristas pretendiam. A escalada dos bombardeamentos reforça a sua posição no terreno, favorece a propaganda de que se alimentam, bem como o recrutamento junto das populações ameaçadas, pois lhes permitem apresentar-se como a única força em posição de as protegerem.
Nicolas Henin não é afiliado ou simpatizante dos sinistros homens de negro. Foi um dos seus reféns durante dez meses e, na primeira semana, esteve algemado a James Foley, o correspondente norte-americano decapitado em 2014. Conheceu, por dolorosa experiência pessoal, a lógica e os mecanismos de funcionamento do bando que se arvora em agente do apocalipse, espalhando a morte e o caos no Médio Oriente e agora em Paris, um dos símbolos da civilização que se propõe destruir.
A opinião do antigo refém contrasta com a opinião comum e a generalizada compreensão que rodeou as principais decisões de Hollande na noite fatídica: o encerramento das fronteiras e a retaliação militar. Respostas clássicas a situações que o não são dificilmente produzem os resultados pretendidos. Também a Administração Bush respondeu com a guerra clássica ao ataque às torres gémeas, primeiro no Afeganistão, depois no Iraque, e os resultados foram os que se viram.
O encerramento das fronteiras não tem servido para grande coisa: foi em França que as polícias tiveram de procurar o fio da meada dos atentados de sexta-feira passada. Quanto aos bombardeamentos na Síria, por mais fortemente que atinjam e, na melhor das hipóteses, desestruturem o autoproclamado Estado Islâmico, parece evidente que não eliminam o risco de novos atentados. O monstro cresceu demais, perante a passividade geral, e já não basta cortar-lhe a cabeça, porque, como se viu com a Al Qaeda, os seus braços têm vida própria e estendem-se por esse mundo, começando pela vulnerável Europa.
À parte a indispensável investigação e perseguição aos terroristas e seus cúmplices, a resposta de Hollande, sendo emocionalmente compreensível e talvez politicamente necessária perante a barbárie à solta naquela noite parisiense, não resolve nada por si só, como observou, entre nós, a voz lúcida do ex-Presidente Eanes. São indispensáveis respostas políticas, tanto para o Iraque como para a Síria, que exigem o entendimento prévio entre as grandes potências e aqueles que, no terreno, possam contribuir para uma solução.
Impõe-se a ressurreição da ONU, que se transformou numa instituição de eficácia nula, manietada pelos interesses particulares dessas mesmas potências. Vê-se agora que mais depressa elas concordam em alimentar o barril de pólvora, cada uma por si e desestabilizando ainda mais a região, do que, a par da intervenção militar, aplicam os seus esforços em qualquer diligência capaz de conduzir a uma solução política para os conflitos cruzados que ali se desenrolam.
O Rei da Jordânia afirmou, numa entrevista, que a guerra interna do Islão é a terceira guerra mundial. Do lado dos terroristas, não há dúvida: é disso que se trata. E a afluência em massa de meios militares, provenientes dos mais diversos países, com interesses e motivações próprios, longe de atenuar as tensões e acabar com a selvajaria e o caos na região, só contribui para os agravar e faz temer o pior. A menos que, em vez de arrastar o mundo para a desgraça, como pretendem, os terroristas consigam unir contra si, não apenas o Ocidente, mas as forças que, no mundo muçulmano, se lhe opõem e são as suas primeiras vítimas. Infelizmente, veem-se poucos sinais de esperança.
Macedo acusado
Demitiu-se há um ano de ministro da Administração Interna «em defesa do Governo e da autoridade do Estado», por reconhecer que a sua própria autoridade ficara diminuída com o escândalo dos Vistos Gold. Negou «responsabilidade pessoal» no caso, mas reconheceu que, «no plano político, as circunstâncias são de natureza distinta». Recebeu elogios por isso. Foi acusado agora de três crimes de prevaricação e um de tráfico de influências. Como todos, presume-se inocente até ao trânsito em julgado da sentença. Mas o Ministério Público foi lesto no inquérito e pronto na acusação. Marcou pontos a seu favor, o que não tem sucedido noutros casos.
A calma olímpica de Cavaco
Pode ser que, a esta hora, o Presidente já tenha decidido alguma coisa: se indigita António Costa ou deixa o país sem um governo com condições para governar. Estranha-se a calma olímpica e surpreende a indecisão de quem dizia ter todos os cenários previstos e estudados. Em Bruxelas, pedem há quase dois meses o Orçamento ou um esboço dele, mas Cavaco, sempre tão preocupado com a imagem externa do país, não dá mostras de pressa. Em Lisboa, aumenta a crispação política, mas Cavaco, sempre tão crítico dela, não dá indícios de perturbação. Arrasta-se penosamente num fim de mandato inglório e parece não compreender. Ou tudo lhe é já indiferente.
Fernando Madrinha | 23/11/2015
SOL
Nicolas Henin não é afiliado ou simpatizante dos sinistros homens de negro. Foi um dos seus reféns durante dez meses e, na primeira semana, esteve algemado a James Foley, o correspondente norte-americano decapitado em 2014. Conheceu, por dolorosa experiência pessoal, a lógica e os mecanismos de funcionamento do bando que se arvora em agente do apocalipse, espalhando a morte e o caos no Médio Oriente e agora em Paris, um dos símbolos da civilização que se propõe destruir.
A opinião do antigo refém contrasta com a opinião comum e a generalizada compreensão que rodeou as principais decisões de Hollande na noite fatídica: o encerramento das fronteiras e a retaliação militar. Respostas clássicas a situações que o não são dificilmente produzem os resultados pretendidos. Também a Administração Bush respondeu com a guerra clássica ao ataque às torres gémeas, primeiro no Afeganistão, depois no Iraque, e os resultados foram os que se viram.
O encerramento das fronteiras não tem servido para grande coisa: foi em França que as polícias tiveram de procurar o fio da meada dos atentados de sexta-feira passada. Quanto aos bombardeamentos na Síria, por mais fortemente que atinjam e, na melhor das hipóteses, desestruturem o autoproclamado Estado Islâmico, parece evidente que não eliminam o risco de novos atentados. O monstro cresceu demais, perante a passividade geral, e já não basta cortar-lhe a cabeça, porque, como se viu com a Al Qaeda, os seus braços têm vida própria e estendem-se por esse mundo, começando pela vulnerável Europa.
À parte a indispensável investigação e perseguição aos terroristas e seus cúmplices, a resposta de Hollande, sendo emocionalmente compreensível e talvez politicamente necessária perante a barbárie à solta naquela noite parisiense, não resolve nada por si só, como observou, entre nós, a voz lúcida do ex-Presidente Eanes. São indispensáveis respostas políticas, tanto para o Iraque como para a Síria, que exigem o entendimento prévio entre as grandes potências e aqueles que, no terreno, possam contribuir para uma solução.
Impõe-se a ressurreição da ONU, que se transformou numa instituição de eficácia nula, manietada pelos interesses particulares dessas mesmas potências. Vê-se agora que mais depressa elas concordam em alimentar o barril de pólvora, cada uma por si e desestabilizando ainda mais a região, do que, a par da intervenção militar, aplicam os seus esforços em qualquer diligência capaz de conduzir a uma solução política para os conflitos cruzados que ali se desenrolam.
O Rei da Jordânia afirmou, numa entrevista, que a guerra interna do Islão é a terceira guerra mundial. Do lado dos terroristas, não há dúvida: é disso que se trata. E a afluência em massa de meios militares, provenientes dos mais diversos países, com interesses e motivações próprios, longe de atenuar as tensões e acabar com a selvajaria e o caos na região, só contribui para os agravar e faz temer o pior. A menos que, em vez de arrastar o mundo para a desgraça, como pretendem, os terroristas consigam unir contra si, não apenas o Ocidente, mas as forças que, no mundo muçulmano, se lhe opõem e são as suas primeiras vítimas. Infelizmente, veem-se poucos sinais de esperança.
Macedo acusado
Demitiu-se há um ano de ministro da Administração Interna «em defesa do Governo e da autoridade do Estado», por reconhecer que a sua própria autoridade ficara diminuída com o escândalo dos Vistos Gold. Negou «responsabilidade pessoal» no caso, mas reconheceu que, «no plano político, as circunstâncias são de natureza distinta». Recebeu elogios por isso. Foi acusado agora de três crimes de prevaricação e um de tráfico de influências. Como todos, presume-se inocente até ao trânsito em julgado da sentença. Mas o Ministério Público foi lesto no inquérito e pronto na acusação. Marcou pontos a seu favor, o que não tem sucedido noutros casos.
A calma olímpica de Cavaco
Pode ser que, a esta hora, o Presidente já tenha decidido alguma coisa: se indigita António Costa ou deixa o país sem um governo com condições para governar. Estranha-se a calma olímpica e surpreende a indecisão de quem dizia ter todos os cenários previstos e estudados. Em Bruxelas, pedem há quase dois meses o Orçamento ou um esboço dele, mas Cavaco, sempre tão preocupado com a imagem externa do país, não dá mostras de pressa. Em Lisboa, aumenta a crispação política, mas Cavaco, sempre tão crítico dela, não dá indícios de perturbação. Arrasta-se penosamente num fim de mandato inglório e parece não compreender. Ou tudo lhe é já indiferente.
Fernando Madrinha | 23/11/2015
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