O desconhecido

O que têm em comum o físico que criou a World Wide Web, a advogada iraniana Nobel da Paz, o presidente do Instituto Muçulmano do Reino Unido e a diretora da Organização Europeia da Biologia Molecular? Para começar, todos eles e mais catorze sábios vão juntar-se na mesma sala em Lisboa, na próxima semana, para pensarem em conjunto sobre o que será o mundo em 2115. Mas porque foram eles convidados, no caso pela Fundação Champalimaud, para imaginar o desconhecido? Porque são sábios e capazes de pensar, criar, agir. A conferência com que a fundação presidida por Leonor Beleza marca dez anos de vida chama-se O Desconhecido, a 100 Anos de Hoje, isto é, tem como meta imaginar o mundo em 2115. Um mundo imaginado a partir do conhecimento de hoje e do que se conhece sobre a humanidade.

No ano 2000, numa cimeira histórica que juntou nas Nações Unidas os líderes dos 189 Estados membros, foi aprovada a Declaração do Milénio, um documento magnífico com um conjunto de intenções ambiciosas. Foram criados programas específicos para cada um dos temas, com prazos definidos, muitos deles para 2015. Desde então, muita água correu sob as pontes, catástrofes, guerras e outros dados que não tinham entrado nas contas trocaram as voltas ao que foi planeado. Com todos os erros e desvios, essa declaração tem um valor incalculável pelo esforço de intervir diretamente e com programas concretos para mudar o que parecia inevitável. Em Lisboa, à volta da mesa não estará o poder dos Estados e das instituições, mas um outro poder, o do conhecimento. Sonhar o futuro é a humanidade no mais básico e no mais extraordinário, e não podemos conjeturar o que seria o planeta se esse impulso não fosse tão transformador. Ter sábios dos mais brilhantes de hoje a falar sobre isso, e fazê-lo num ambiente em que a ciência é o dia-a-dia, aí está uma forma feliz de celebrar um aniversário redondo.

Editorial
26 DE NOVEMBRO DE 2015
00:00
Ana Sousa Dias
Diário de Notícias