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A Europa vai tropeçar antes de conseguir ficar de pé
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A Europa vai tropeçar antes de conseguir ficar de pé
A principal característica da União Europeia de hoje é um acumular de crises. Isto não acontece por acaso. Acontece porque as políticas não estão a funcionar. Há líderes políticos como David Cameron e Viktor Orban, os primeiros-ministros do Reino Unido e da Hungria, que questionam mesmo alguns dos valores fundamentais sobre os quais se construiu a UE - por exemplo, a liberdade de movimentação das pessoas.
A UE está num equilíbrio instável: pequenas perturbações podem originar grandes mudanças. Chegámos a este ponto porque os vários projetos da União têm agora um efeito económico negativo em grande parte da população europeia.
Hoje já não hesito em dizer, por exemplo, que o italiano médio tem uma vida pior por causa do euro. O país não teve qualquer crescimento real desde que aderiu ao euro, enquanto, antes disso, mantinha taxas de crescimento médias - e eu ainda não ouvi nenhuma explicação racional que não atribua essa situação às falhas do regime monetário europeu.
Este é um problema que não é só da zona euro. Como afirmou Simon Tilford, do Centro para a Reforma Europeia, os britânicos com salários mais baixos também ficaram pior. Os seus rendimentos reais caíram e uma oferta de alojamento insuficiente fez subir os custos da habitação.
Ambas as tendências foram exacerbadas por um afluxo líquido de trabalhadores estrangeiros, apesar de a imigração líquida para o Reino Unido não ser excessiva para os padrões europeus.
Nenhum indivíduo está em posição de fazer uma avaliação objetiva dos efeitos da imigração sobre os seus próprios rendimento e riqueza, mas, claramente, não é irracional suspeitar de que um afluxo de imigração líquida e a queda do nosso próprio salário real estejam de alguma forma relacionados.
Os dinamarqueses, que na semana passada votaram contra o fim da opção de saída do país das questões internas e de justiça da UE, também agiram racionalmente. Por que motivo optar por um sistema de justiça comum que ainda não consegue produzir níveis adequados de coordenação entre as forças policiais na luta contra o terrorismo?
As questões internas e da justiça são bens públicos. Por que razão havia um eleitor racional de preferir um fornecedor de bens públicos disfuncional?
O mesmo é válido para a Finlândia. O país tem estado tolhido numa recessão com quatro anos de duração. Existe agora uma moção parlamentar em andamento que pode acabar num referendo sobre a possibilidade da saída do país da zona euro.
Eu não acho que a Finlândia vá dar esse passo, por razões políticas. Mas, ao mesmo tempo, não tenho a mais pequena dúvida de que o crescimento e o emprego finlandeses iriam recuperar se o fizesse. Uma desvalorização da moeda seria uma ferramenta muito mais poderosa do que a política que o governo finlandês está a tentar implementar agora: melhorar a competitividade através de cortes salariais.
Tanto a Finlândia como a Itália estão a agarrar-se à sua adesão à zona euro contra o interesse económico racional. Esta é uma situação que não deveria acontecer nunca. A união monetária, o mercado único e tudo isso deveriam ser, no mínimo, economicamente neutros.
Se a União Europeia fosse um Estado federal democrático, não estaríamos a ter esta discussão. Não haveria crise do euro nem crise dos refugiados. No entanto, esse estágio não é de momento atingível. É por isso que o equilíbrio instável está a empurrar-nos agora na outra direção, a da desintegração.
Não estou a falar de uma desintegração formal da UE, mas de uma do tipo informal, isto é, uma erosão gradual da importância política que deixa a UE formalmente intacta, mas como uma zona de livre comércio glorificada, com apenas a mínima infraestrutura técnica necessária para o efeito. Em suma, vai tornar-se uma coisa extremamente pouco inspiradora.
A consolação é que não existe uma fatalidade na desintegração, tal como nunca houve uma certeza da "união cada vez mais estreita", como tão pomposamente reza o preâmbulo dos Tratados da UE.
Um resultado diferente continua a ser possível. Contudo, estou cada vez mais convencido de que, para haver uma outra etapa de integração, terá de haver uma fase de desintegração primeiro.
*) Editor do Financial Times
07 DE DEZEMBRO DE 2015
00:03
Wolfgang Münchau
Diário de Notícias
A UE está num equilíbrio instável: pequenas perturbações podem originar grandes mudanças. Chegámos a este ponto porque os vários projetos da União têm agora um efeito económico negativo em grande parte da população europeia.
Hoje já não hesito em dizer, por exemplo, que o italiano médio tem uma vida pior por causa do euro. O país não teve qualquer crescimento real desde que aderiu ao euro, enquanto, antes disso, mantinha taxas de crescimento médias - e eu ainda não ouvi nenhuma explicação racional que não atribua essa situação às falhas do regime monetário europeu.
Este é um problema que não é só da zona euro. Como afirmou Simon Tilford, do Centro para a Reforma Europeia, os britânicos com salários mais baixos também ficaram pior. Os seus rendimentos reais caíram e uma oferta de alojamento insuficiente fez subir os custos da habitação.
Ambas as tendências foram exacerbadas por um afluxo líquido de trabalhadores estrangeiros, apesar de a imigração líquida para o Reino Unido não ser excessiva para os padrões europeus.
Nenhum indivíduo está em posição de fazer uma avaliação objetiva dos efeitos da imigração sobre os seus próprios rendimento e riqueza, mas, claramente, não é irracional suspeitar de que um afluxo de imigração líquida e a queda do nosso próprio salário real estejam de alguma forma relacionados.
Os dinamarqueses, que na semana passada votaram contra o fim da opção de saída do país das questões internas e de justiça da UE, também agiram racionalmente. Por que motivo optar por um sistema de justiça comum que ainda não consegue produzir níveis adequados de coordenação entre as forças policiais na luta contra o terrorismo?
As questões internas e da justiça são bens públicos. Por que razão havia um eleitor racional de preferir um fornecedor de bens públicos disfuncional?
O mesmo é válido para a Finlândia. O país tem estado tolhido numa recessão com quatro anos de duração. Existe agora uma moção parlamentar em andamento que pode acabar num referendo sobre a possibilidade da saída do país da zona euro.
Eu não acho que a Finlândia vá dar esse passo, por razões políticas. Mas, ao mesmo tempo, não tenho a mais pequena dúvida de que o crescimento e o emprego finlandeses iriam recuperar se o fizesse. Uma desvalorização da moeda seria uma ferramenta muito mais poderosa do que a política que o governo finlandês está a tentar implementar agora: melhorar a competitividade através de cortes salariais.
Tanto a Finlândia como a Itália estão a agarrar-se à sua adesão à zona euro contra o interesse económico racional. Esta é uma situação que não deveria acontecer nunca. A união monetária, o mercado único e tudo isso deveriam ser, no mínimo, economicamente neutros.
Se a União Europeia fosse um Estado federal democrático, não estaríamos a ter esta discussão. Não haveria crise do euro nem crise dos refugiados. No entanto, esse estágio não é de momento atingível. É por isso que o equilíbrio instável está a empurrar-nos agora na outra direção, a da desintegração.
Não estou a falar de uma desintegração formal da UE, mas de uma do tipo informal, isto é, uma erosão gradual da importância política que deixa a UE formalmente intacta, mas como uma zona de livre comércio glorificada, com apenas a mínima infraestrutura técnica necessária para o efeito. Em suma, vai tornar-se uma coisa extremamente pouco inspiradora.
A consolação é que não existe uma fatalidade na desintegração, tal como nunca houve uma certeza da "união cada vez mais estreita", como tão pomposamente reza o preâmbulo dos Tratados da UE.
Um resultado diferente continua a ser possível. Contudo, estou cada vez mais convencido de que, para haver uma outra etapa de integração, terá de haver uma fase de desintegração primeiro.
*) Editor do Financial Times
07 DE DEZEMBRO DE 2015
00:03
Wolfgang Münchau
Diário de Notícias
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