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O renascimento dos filmes em 70 mm
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O renascimento dos filmes em 70 mm
A história do pensamento cinematográfico ensina-nos que a demagogia populista tende a censurar o simples gosto de pensar e argumentar em torno da especificidade de cada filme. Observe-se o que, não poucas vezes, acontece com os blockbusters intercontinentais. Na prática, tendem a ser compreendidos (?) como meras proezas de marketing, gerando uma vaga de notícias suscetível de contrariar a mais básica abertura à complexidade, contrastes e contradições da história económica dos filmes - sendo essa história uma parte fulcral da sua história cultural.
A conjuntura atual é motivadora. O espetacular impacto do novo episódio de Star Wars justifica alguma atenção que não ceda à estupidez de valorizar os filmes em função do volume "maior" ou "menor" da respetiva bilheteira (embora fosse interessante discutir as hipóteses comerciais de um filme que ocupe, por exemplo, dois ou três ecrãs face a outro com direito a mais de uma centena). Acontece que os herdeiros da saga de George Lucas estão a ajudar a reabrir uma questão interessantíssima que, sendo industrial e comercial, é também criativa e artística.
A proliferação de grandes ecrãs, em particular das novas salas IMAX, servindo filmes especificamente pensados para as suas dimensões (e também para o respetivo envolvimento sonoro), veio relançar uma interrogação fundamental: será que a sua oferta pode ajudar a mobilizar os espectadores que, imbuídos dos valores da nova cultura digital, tendem a privilegiar os seus aparelhos personalizados (computador, telemóvel, etc.), distanciando-se da experiência social da sala escura?
Curiosamente, um dos efeitos colaterais desta "nova vaga" de filmes que apostam numa certa imponência física envolve a revalorização do velho formato de 70 mm. E não apenas no plano simbólico. Assim, o novo filme de Quentin Tarantino, The Hateful Eight, não só foi rodado nesse formato como será lançado no Dia de Natal, nos Estados Unidos, numa centena de salas equipadas ou reequipadas com sistemas de projeção para a película de 70 mm, entrando no circuito digital nos primeiros dias de janeiro (a data da estreia portuguesa continua por anunciar).
Entretanto, foi noticiada a intenção de a Warner Bros. lançar Batman vs. Superman: The Dawn of Justice (março de 2016) com um número significativo de cópias de 70 mm. Mais do que isso: sendo esse mesmo estúdio detentor dos direitos de algumas das superproduções da década de 1960 que utilizaram o formato - incluindo o emblemático Lawrence da Arábia (1962), de David Lean -, a sua eventual reposição em 70 mm pode contribuir para uma significativa reconversão de estratégia, conceitos e práticas da distribuição e exibição cinematográfica.
Está em jogo, afinal, a recuperação de importantes setores de público que desistiu de uma relação regular com as salas de cinema. Escusado será dizer que nada disso se poderá, ou deverá, fazer sem atender à necessidade de defender a pluralidade dos mercados (em particular dos mais pequenos e vulneráveis), integrando os filmes "grandes" e "pequenos".
Em qualquer caso, importa não menosprezar a dimensão dos ecrãs como um dos fatores de mobilização de espectadores.
E também de partilha do prazer de assistir a um filme
20 DE DEZEMBRO DE 2015
00:01
João Lopes
Diário de Notícias
A conjuntura atual é motivadora. O espetacular impacto do novo episódio de Star Wars justifica alguma atenção que não ceda à estupidez de valorizar os filmes em função do volume "maior" ou "menor" da respetiva bilheteira (embora fosse interessante discutir as hipóteses comerciais de um filme que ocupe, por exemplo, dois ou três ecrãs face a outro com direito a mais de uma centena). Acontece que os herdeiros da saga de George Lucas estão a ajudar a reabrir uma questão interessantíssima que, sendo industrial e comercial, é também criativa e artística.
A proliferação de grandes ecrãs, em particular das novas salas IMAX, servindo filmes especificamente pensados para as suas dimensões (e também para o respetivo envolvimento sonoro), veio relançar uma interrogação fundamental: será que a sua oferta pode ajudar a mobilizar os espectadores que, imbuídos dos valores da nova cultura digital, tendem a privilegiar os seus aparelhos personalizados (computador, telemóvel, etc.), distanciando-se da experiência social da sala escura?
Curiosamente, um dos efeitos colaterais desta "nova vaga" de filmes que apostam numa certa imponência física envolve a revalorização do velho formato de 70 mm. E não apenas no plano simbólico. Assim, o novo filme de Quentin Tarantino, The Hateful Eight, não só foi rodado nesse formato como será lançado no Dia de Natal, nos Estados Unidos, numa centena de salas equipadas ou reequipadas com sistemas de projeção para a película de 70 mm, entrando no circuito digital nos primeiros dias de janeiro (a data da estreia portuguesa continua por anunciar).
Entretanto, foi noticiada a intenção de a Warner Bros. lançar Batman vs. Superman: The Dawn of Justice (março de 2016) com um número significativo de cópias de 70 mm. Mais do que isso: sendo esse mesmo estúdio detentor dos direitos de algumas das superproduções da década de 1960 que utilizaram o formato - incluindo o emblemático Lawrence da Arábia (1962), de David Lean -, a sua eventual reposição em 70 mm pode contribuir para uma significativa reconversão de estratégia, conceitos e práticas da distribuição e exibição cinematográfica.
Está em jogo, afinal, a recuperação de importantes setores de público que desistiu de uma relação regular com as salas de cinema. Escusado será dizer que nada disso se poderá, ou deverá, fazer sem atender à necessidade de defender a pluralidade dos mercados (em particular dos mais pequenos e vulneráveis), integrando os filmes "grandes" e "pequenos".
Em qualquer caso, importa não menosprezar a dimensão dos ecrãs como um dos fatores de mobilização de espectadores.
E também de partilha do prazer de assistir a um filme
20 DE DEZEMBRO DE 2015
00:01
João Lopes
Diário de Notícias
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