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Albuquerque – Os 500 anos do ‘terrível’
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Albuquerque – Os 500 anos do ‘terrível’
É talvez reflexo do tempo e dos homens o silêncio quase absoluto sobre a passagem, esta semana, dos quinhentos anos da morte de Afonso de Albuquerque. Depois dos seis séculos da conquista de Ceuta, em agosto de 1415, o aniversário da morte de Afonso de Albuquerque, agora, em 16 de dezembro, passa também quase despercebido. Não sei se pela ignorância ou desinteresse dos ‘ultraliberais’, preocupados com a adivinhação do próximo movimento da mercantil mão invisível, se pela relutância pacifista das esquerdas perante uma História incómoda, que lhes deve parecer tão absurda e quimérica como um filme de Sward and Sorcery ou a lenda dos Sete Samurais.
Portugal começou muito antes do 25 de abril de 1974, da adesão à União Europeia, sem televisão nem Facebook (com eles desconfio que ou não teria começado ou acabava logo). E a época mais importante da nossa História, e a que mais nos determina para o bem e para o mal, à esquerda ao centro e à direita, é este século de Ouro entre a jornada de Ceuta e a morte do grande conquistador do Índico, jornada de que os nossos dois grandes poetas, o Camões de Quinhentos e o Pessoa de Novecentos, traçaram o retrato.
Albuquerque é um combatente que está em todas as frentes: com o futuro D. João II em Toro, contra os turcos em Otranto, no sul de Itália, em Marrocos, em Larache e em Arzila.
Em 1503, com cinquenta anos, foi pela primeira vez à Índia, com o seu primo Francisco de Albuquerque, e para lá voltou três anos depois, na armada de Tristão da Cunha. Já não regressou. Navegou, conquistou, saqueou, submeteu cidades e construiu fortalezas na costa de África e no Golfo Pérsico.
Depois de uma controversa transição de mando de D. Francisco de Almeida, Albuquerque ficou governador da Índia e conquistou sucessivamente Ormuz, Goa e Malaca. Graças às fortalezas conquistadas ou construídas e a um regime rigoroso de controlo e patrulhamento naval, assegurou o domínio do comércio das especiarias para a Coroa Portuguesa.
Os quinhentos anos de tudo isto não despertaram por cá grande interesse – nem na classe política, nem na académica, nem nos media. Mas Roger Crowley, um historiador inglês na esteira de C. R. Boxer e de outros investigadores anglo-saxões, publicou agora Conquerors – How Portugal Seized the Indian Ocean and Forged the First Global Empire, um excelente memorial do ‘Leão dos Mares’. Nele deixa esta nota final:
«Albuquerque estava há nove anos no Oceano Índico. Tinha trabalhado continuamente, a um ritmo tremendo, para construir o império de D. Manuel, um tempo de viagens incessantes, guerras, intrigas, rigores do clima. Tinha sido ferido em Calecute, naufragara em Sumatra, ficara prisioneiro em Cananor e fora envenenado em Goa; durante três meses tinha ficado cercado no rio Mandovi, à chuva. Tinha negociado, tinha assustado, tinha convencido, tinha matado. Aos de fora parecia indestrutível».
Sabendo que a intriga o vencera na corte, junto do Rei, desistia e morria à vista de Goa, precisamente há quinhentos anos. Quase tão ignorado como agora o é.
Jaime Nogueira Pinto | 23/12/2015 17:17
SOL
Portugal começou muito antes do 25 de abril de 1974, da adesão à União Europeia, sem televisão nem Facebook (com eles desconfio que ou não teria começado ou acabava logo). E a época mais importante da nossa História, e a que mais nos determina para o bem e para o mal, à esquerda ao centro e à direita, é este século de Ouro entre a jornada de Ceuta e a morte do grande conquistador do Índico, jornada de que os nossos dois grandes poetas, o Camões de Quinhentos e o Pessoa de Novecentos, traçaram o retrato.
Albuquerque é um combatente que está em todas as frentes: com o futuro D. João II em Toro, contra os turcos em Otranto, no sul de Itália, em Marrocos, em Larache e em Arzila.
Em 1503, com cinquenta anos, foi pela primeira vez à Índia, com o seu primo Francisco de Albuquerque, e para lá voltou três anos depois, na armada de Tristão da Cunha. Já não regressou. Navegou, conquistou, saqueou, submeteu cidades e construiu fortalezas na costa de África e no Golfo Pérsico.
Depois de uma controversa transição de mando de D. Francisco de Almeida, Albuquerque ficou governador da Índia e conquistou sucessivamente Ormuz, Goa e Malaca. Graças às fortalezas conquistadas ou construídas e a um regime rigoroso de controlo e patrulhamento naval, assegurou o domínio do comércio das especiarias para a Coroa Portuguesa.
Os quinhentos anos de tudo isto não despertaram por cá grande interesse – nem na classe política, nem na académica, nem nos media. Mas Roger Crowley, um historiador inglês na esteira de C. R. Boxer e de outros investigadores anglo-saxões, publicou agora Conquerors – How Portugal Seized the Indian Ocean and Forged the First Global Empire, um excelente memorial do ‘Leão dos Mares’. Nele deixa esta nota final:
«Albuquerque estava há nove anos no Oceano Índico. Tinha trabalhado continuamente, a um ritmo tremendo, para construir o império de D. Manuel, um tempo de viagens incessantes, guerras, intrigas, rigores do clima. Tinha sido ferido em Calecute, naufragara em Sumatra, ficara prisioneiro em Cananor e fora envenenado em Goa; durante três meses tinha ficado cercado no rio Mandovi, à chuva. Tinha negociado, tinha assustado, tinha convencido, tinha matado. Aos de fora parecia indestrutível».
Sabendo que a intriga o vencera na corte, junto do Rei, desistia e morria à vista de Goa, precisamente há quinhentos anos. Quase tão ignorado como agora o é.
Jaime Nogueira Pinto | 23/12/2015 17:17
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