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Mensagem por Admin Sex Dez 25, 2015 12:42 pm

O Porto era uma etapa invariável dos meus Natais de infância. Funcionário público "exilado" em Vila Real, desde os anos 40, o meu pai rumava com a família para a sua Viana do Castelo, uns dias antes do Natal. Não tínhamos carro, íamos de comboio. Primeiro, até à Régua, pela velha Linha do Corgo, com bancos de "sumopau", as faúlhas da máquina a entrarem-nos pelos olhos. Depois, o Douro ia ali ao lado, mas nós, nessa época, quase não olhávamos para ele. Via o meu pai preocupado em conferir ao minuto os atrasos, a tentar perceber se "dava tempo" para chegar a Campanhã ou se tínhamos de mudar para a Linha do Minho em Ermesinde. Era um rebuliço de bagagens e gentes, nesses períodos de inevitável enchente dos comboios.

A consoada era passada no casarão da minha avó paterna, no Largo Vasco da Gama. Lembro-me claramente do cheiro do armário de onde se tirava anualmente o presépio, dos carneiros e músicos fanados pelo uso, do musgo que íamos buscar ao quintal, para colocar sobre um papel forte, manchado. Com os meus primos, jogava pinhões ao rapa. Era um tempo ainda sem televisão, com um gira-discos a alegrar, todos à conversa à volta da minha velha avó e nós, os mais novos, a traquinar pela imensa casa.

No dia 25, depois da "roupa velha", partíamos para o Porto. Levava já prendas, embora, para meu silencioso desconsolo, algumas fossem sempre pacotes de meias, compradas no Eugénio Pinheiro, na Picota. Ficou-me uma imagem do meu pai, no comboio, a ler "O Comércio do Porto" (não era o "Notícias", desculpem lá!), com as páginas coloridas de motivos natalícios. E da minha mãe entretida com a então famosa "Eva" do Natal, a revista que sorteava uma moradia. Nunca nos "saiu", diga-se, porque toda a sorte que tivemos na vida deu sempre muito trabalho.

A chegada a S. Bento, com fumarada, apitos e uma barulheira que eu achava então o máximo do cosmopolitismo, e que depois lembrei em alguns filmes, era um momento ansiado. Aguardavam-nos outros familiares, com os quais avançávamos, já de carro, para Vila Real. E lá íamos nós pelo Marquês e por Costa Cabral adiante, por Ermesinde (outra vez!), rumo às temíveis curvas do Marão.

A elas nos abalançávamos depois de um "reforço" em Amarante, no Zé da Calçada, e da doçaria na Lai-Lai, ao lado. Passada a Pousada e o esperado Alto de Espinho, onde a curvaria amainava, as luzes de Vila Real, avistadas de Arrabães, prenunciavam já a outra noite de Natal que aí vinha, desta vez em casa dos meus avós maternos, com outros tios e outros primos. E com novas prendas, claro!

Tempos felizes!

24.12.2015
FRANCISCO SEIXAS DA COSTA
Jornal de Notícias
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