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Mensagem por Admin Seg Jan 25, 2016 12:10 pm

É uma habitual prática democrática, implementada por órgãos de comunicação social escrita, seja ela impressa ou online: ter um espaço aberto para comentários sobre variadíssimos artigos e opiniões neles expostas. O volume da contribuição de leitores, na nossa Região Autónoma, não é em nada inferior ao que se possa testemunhar noutras latitudes e longitudes. Opiniões essas, muito pessoais e por isso sinceras, às vezes até para além da fronteira de bom gosto e civismo – mas mesmo assim testemunhando a vitalidade da vivência democrática, se bem que muitas vezes atenuada pelo “pseudonimismo” vigente.

Essa envolvência, com ou sem identificação do autor, parece, no entanto, que pára à porta de tópicos culturais: podemos folhear edições de jornais regionais de meses e anos atrás, e vamos descobrir que, de longe, a mais restrita interacção (e aqui obviamente não me refiro às redes sociais, onde todos estão, em primeiro lugar, rodeados por pessoas que já conhecem) é aquela que advém dos assuntos culturais (política e desporto, pois claro, estão de outro lado do espectro).

Porque é que seja? Pessoas não ligam nenhuma? Ou estariam de acordo com tudo (bastante improvável)? Não se sentem competentes (e porque não – no mínimo, não seriam nada diferentes de muitos de nós que às vezes somos “seleccionadores do sofá” sem que nunca tenhamos dado um passo no relvado)? Não têm uma opinião? Ah, sim? E porque não? Será que não admitem à cultura a legitimidade de constar, nas suas variadíssimas formas, das preocupações principais do ser humano, de mãos dadas com a educação? Será que as actividades culturais não passam de um “post scriptum” nas nossas vidas? Será que, na procura da estabilidade económica e familiar, nestes tempos perturbados, dispensa-se de um dos poucos veículos e meios que podem verdadeiramente contribuir para a saúde mental, bem-estar emocional e uma perspectiva mais abrangente, e por isso mais relativizada, da vida? Será que se pode dizer que a cultura não nos diz respeito e que é possível passar ao lado dela como se de um outro barco no nevoeiro se tratasse? Será que o assunto é uma importunação? A pretender ocupar o espaço de “outras coisas mais importantes” (e, pela falta de envolvimento, parece que quase todas o são)?

Testemunhando e partilhando os esforços que se fazem nesta terra para sensibilizar os jovens para os assuntos culturais, oferta cultural e a vida pela cultura, custa-me acreditar que qualquer uma destas perguntas, as quais, aliás, não pretendem ser retóricas, possa ser respondida com um “sim” por estes jovens. Há uma grande vaga, sempre crescente, de interesse e actividade cultural no meio escolar e até pré-escolar. E esses jovens, provavelmente, terão atitudes mais definidas e terão alguma coisa para dizer…quando estes espaços lhes forem legalmente abertos. Até lá, não são eles a quem cabia assumir uma atitude…

Robert Andres, Musicólogo
Diário de Notícias da madeira
Segunda, 25 de Janeiro de 2016
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