E tu, de que cor é que és?

Fechamos agora mesmo um interessante período eleitoral. Cheio de novidades, cheio de surpresas, cheio de candidatos, julgo que teve o efeito positivo de fazer uma boa parte da população voltar ao debate político – e isso é sempre bom!

Nas legislativas tivemos uma aliança pós-eleitoral de esquerda que careceu de aviso prévio, por outro lado, nas presidenciais tivemos candidatos dessa mesmíssima área, que tão habilmente dois meses antes havia conquistado o poder, a guerrearem-se entre si numa luta fratricida que não os levou a lado absolutamente nenhum… 

Foi um muito tranquilo passeio no parque para o Professor Marcelo! Bastou-lhe cumprir os serviços mínimos, não abrindo demasiado a boca! Limpinho, limpinho!

Nem o candidato Morais, que tinha provas irrefutáveis de corrupção de todo o sistema, que afinal não passavam de recortes de notícias nos jornais, fez qualquer tipo de mossa… E reparem os caríssimos leitores na dimensão do forte aviso à navegação que foi para os políticos o “dossier” subvenção da Candidata Belém e nos seus míseros quantos, 4% ou 4,5%?

Portanto, numa análise muito superficial e nada científica, pode-se ainda assim tirar uma conclusão destes dois resultados tão díspares e tão próximos no tempo – o eleitorado é mesmo flutuante!

Ainda bem para a democracia.

Marcelo foi buscar votos à esquerda na mesmíssima medida que a Troika Costa/Catarina/Jerónimo foram buscar votos à direita nas legislativas.

Mas a cor política de cada um de nós não é como no futebol, uma paixão mais para o permanente? Sim e não…

Passo a explicar;

É como o orçamento da região ou da república, há o geral e o há os das especialidades.

Eu por exemplo – no geral sou de Centro Direita, mas depois, nas especialidades vou saltitando de ideologia, conforme o tema…

Sou de extrema-esquerda quando vejo empresários a descapitalizar irresponsavelmente empresas, onde até tiveram o mérito de as construir, mas depois não perceberam que acompanha uma responsabilidade que deveria ser absolutamente obsessiva, a de manter os postos de trabalho que eles próprios criaram. Nesses casos, o mérito empresarial vai completamente pelo cano abaixo…

Sou de esquerda moderada quando vejo o Estado afastar-se demasiado de coisas sérias como a saúde ou a dignidade dos mais velhos ou dos mais pobres ou mesmo a segurança.

Sou “verde” quando vejo alguém a atirar um papel para o chão!

Sou de centro direita quando vejo atacada a ideia que no geral, o Estado deve regular e fiscalizar e os privados devem ter a liberdade e o encorajamento de atuar, de fazer, de produzir.

Sou de direita à seria, pura e dura, quando vejo que o Estado cai na tentação de se substituir de forma incompetente aos privados, delapidando de orçamento em orçamento os recursos de todos nós – basta olhar para o que foi a TAP nas ultimas décadas…

Assim, por vezes, pela importância da mesma, uma especialidade pode se sobrepor a uma generalidade e, enfim, gerar um voto contrário à natureza do próprio eleitor – só assim se torna possível uma das mais saudáveis características da democracia, a alternância democrática.

Pedro Milheiro da Costa
Diário de Notícias da Madeira 
Quinta, 28 de Janeiro de 2016