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O Zé Povinho e os “boys and girls”
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O Zé Povinho e os “boys and girls”
Ao longo dos tempos foram vários os eventos culturais associados às artes plásticas realizados na nossa região com considerável projeção e que complementaram as muitas exposições individuais e coletivas, nomeadamente: a “Marca/Madeira”, o concurso “ Grandes Prémios do Funchal”, o Prémio Henrique e Francisco Franco na Casa das Mudas-Calheta.
Tudo isto devemos, de certa forma, ao facto do primeiro curso superior a ser administrado na nossa Região Autónoma da Madeira ter sido ao nível das Artes Plásticas através do então Instituto Superior de Artes Plásticas da Madeira (ISAPM) na rua da Carreira – Funchal. Estávamos em 1977 e a repercussão deste curso fazia sentir-se até a nível nacional. No entanto, as artes plásticas na nossa ilha não singraram nem criaram as condições favoráveis e credíveis para uma verdadeira e competente gestão das mesmas a nível local.
Presentemente e após todas estas batalhas de fazer vingar as artes no meio regional o grande entrave reflete-se na descontinuidade destes acontecimentos. Estas estratégias perderam-se nos becos da mediocridade política, na apatia e na falta de apoios, pois quem apresenta estas iniciativas e trabalha de forma competente, parece não ter a merecida e devida proteção.
Essa proteção é dada mas só a alguns que ocupando lugares cimeiros na hierarquia governamental e que deveriam trabalhar para justificar a sua boa remuneração acabam por ter tempo para adquirir competências nomeadamente mestrados e doutoramentos justificando desta forma o insucesso da gestão política que é frequente nestas áreas e que estão sob as suas alçadas.
Na nossa região a taxa de desemprego é das mais altas do país. Para obter um emprego ou um cargo com alguma notoriedade ao invés dos “boys and girls”, os filhos do Zé Povinho e não só que não tendo direito a tais mordomias só têm uma saída a de emigrar, como no tempo dos seus avós, à procura de melhores condições de vida e alguns abandonam, muitas das vezes, a escolaridade numa fase muito precoce, comentam: - para quê estudar e ser competente se os bons cargos e empregos são só para alguns. Enquanto isso os “boys and girls” do sistema brincam em volta das cadeiras aos cargos públicos onde ora senta-se um ora senta-se outro, isto naturalmente à custa do erário público.
Não faltam exemplos ao nível da má gestão do nosso património. O mais recente é sem dúvida o facto de só agora ter sido feito um concurso público para a exploração do Palacete dos Zinos quando este foi recuperado e inaugurado há cerca de doze anos tendo sido durante todo este tempo utilizado quer para esporádicas reuniões do governo quer para outros acontecimentos como se duma região rica se tratasse.
Desafortunadamente parece que se vive novamente num período obscuro em que o poder político não se consegue separar do poder religioso e nos lugares de decisão continua a existir uma elite a comandar injustamente os destinos de todos nós. Isto ao invés de realizarem concursos públicos transparentes quer para os cargos públicos quer para cargos de diretores de museus e outras instituições afins.
É frequente na nossa comunicação social, e não só, verificarmos singelas formas de promoção ou publicidade pessoal para uma futura ocupação em determinados cargos que acabam sendo remunerados por todos nós. Estes deveriam ser sujeitos não só às habilitações inerentes mas também à apresentação de um projeto com soluções financeiras viáveis à concretização de uma programação digna desse espaço.
Precisamos acima de tudo não de um país com pessoas populistas, mas sim de governantes sérios com coragem para colocar um ponto final em tantos caprichos pessoais que em nada dignificam e criam riqueza à nossa ilha e às suas gentes. Haja coragem para fazer o bem porque o mal não falta quem o faça!
Patrícia Sumares
Diário de Notícias da Madeira
Terça, 23 de Fevereiro de 2016
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