Novos voos para a TAP

Na passada semana o Conselho Regional do Norte assumiu uma posição firme sobre os compromissos essenciais da plataforma logística do aeroporto Sá Carneiro para o desenvolvimento do Norte e do país. Este envolvimento dos representantes dos autarcas, do sistema científico e das associações empresariais torna claro que a polémica, e pouco racional decisão da TAP, não se restringe a uma mera preocupação bairrista ou eleitoralista do presidente da Câmara do Porto, como alguns analistas erradamente quiseram transparecer. Se assumirmos que o país deve ser um todo coerente e solidário, trata-se certamente de uma decisão com forte impacto nacional e, como tal, espera-se que os decisores políticos tomem uma posição clara.

Os números amplamente divulgados sobre as taxas de ocupação dos voos em causa comprovam que a decisão anunciada pela TAP de retirar o Norte de importantes rotas europeias, essenciais para a atividade económica regional e consequentemente do país, representa uma decisão com objetivos, ainda que não declarados, de uma contínua secundarização do aeroporto Sá Carneiro.

Esta decisão é tanto mais estranha quanto é do conhecimento público que o aeroporto de Lisboa tende para o esgotamento da capacidade. Por outro lado, o aeroporto do Norte de Portugal, tal como o de Lisboa, foram objeto de enorme investimento público, pago pelos contribuintes, de forma direta ou indireta. Pessoalmente, nem quero sequer acreditar que as decisões tomadas no presente não são suportadas numa lógica de utilização racional dos recursos existentes, mas antes no sentido de justificarem investimentos futuros que coloquem em causa a viabilidade de outros investimentos.

Decisões como a tomada pela transportadora aérea afetam sobretudo o nacional e não, como alguns querem crer, o regional, atendendo ao impacto negativo que têm no turismo de todo o Norte, na competitividade das empresas (o Norte é principal região exportadora do país, cuja balança comercial positiva tem vindo a aumentar), na internacionalização das empresas e das próprias entidades geradoras de conhecimento, como é o caso das universidades.

Em períodos de crise como o atual, é fundamental que o país assuma estratégias que potenciem o desenvolvimento económico. A aposta na internacionalização do Norte é crucial para consolidar e potenciar a utilização dos fundos estruturais em inovação, ao serviço da competitividade das empresas com vocação exportadora. O país e o Norte em particular precisam de apostar nos programas estratégicos de investigação, de desenvolvimento e inovação que contribuam para o aumento do valor acrescentado dos produtos exportadores. Contudo, esta orientação exige também potenciar estratégias de internacionalização, para as quais a afirmação do aeroporto Sá Carneiro é crucial.

A anunciada decisão é exatamente a oposta. É claramente inibidora da desejada coesão nacional e de convergência, sob pena de se colocar em causa a TAP, enquanto "companhia bandeira".

REITOR DA UTAD

01.03.2016
ANTÓNIO FONTAINHAS FERNANDES
Jornal de Notícias