Demissionismo

Para alguns, o Estado deveria quedar-se por um papel, meramente, regulador, deixando, no essencial, a resolução de todos os problemas à automaticidade dos mecanismos reequilibradores de mercado.

De acordo com esta perspectiva, não faria sentido falar-se em planeamento global, nem mesmo numa estratégia desenvolvimentista para o País. O mercado ditaria a estratégia e qualquer tentativa de estabelecer objectivos em matéria de desenvolvimento ou mesmo ao nível das principais variáveis macroeconómicas seria entendida como vontade de se enveredar por uma concepção dirigista do funcionamento da economia.

Seleccionar sectores estratégicos e definir regiões prioritárias?

Não faria qualquer sentido, uma vez que o mercado se encarregaria, naturalmente, de seleccionar uns e outros.
Estratégia de internacionalização e definição de prioridades na utilização do " blending" e/ou na captação de fundos estruturais?

Nada de mais heterodoxo, porque compete, em exclusividade, à iniciativa privada conceber estratégias de internacionalização e pensar na melhor forma de utilização do " blending" e dos fundos estruturais.

Defesa da manutenção de alguns centros de decisão nacionais, promovendo as parcerias mais adequadas ou estimulando a actuação conjugada de empresas nacionais em sectores nucleares?

Nada de mais utópico e até com implicações negativas para o livre funcionamento dos mecanismos de mercado.
Para quem assim pensa, o general De Gaulle era um colectivista radical e Winston Churchill um nacionalista exacerbado que pouco ou nada compreendia do que se convenciona designar de interesse de Estado.

Um e outro deveriam adoptar a postura dos que se limitam a assistir à " mudança dos tempos" sem procurar influenciar, ainda que de forma limitada, o curso dos acontecimentos.

A isso chamariam " sentido das responsabilidades".

A isso preferiria apelidar de puro demissionismo.

Nem mais, nem menos...

11:15 h
António Rebelo de Sousa
Económico