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Carpe diem!
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Carpe diem!
Da era dos “pobrezinhos mas honrados” queremos distância, no tempo e no modo. O desperdício terá de ser o nosso inimigo. A fome, por longe que ande, tem de ser escorraçada
Segundo dados da FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura -, o desperdício alimentar mundial ronda 1,3 milhões de toneladas por ano, ao mesmo tempo que cerca de 800 milhões de pessoas passam fome. Contas feitas, o que é desperdiçado dava para alimentar o dobro dessas pessoas! E assim vai o mundo. Como se não bastasse, os milhões de deslocados e refugiados que as guerras produzem enquanto alimentam a indústria do armamento e dão largas à barbárie e à bestialidade dos tiranos - sob proteção de interesses inenarráveis, embora previsíveis... - sentem a fome rondar-lhes as vidas e avolumar as desgraças que lhes tolhem o futuro, que o presente já lhes foi roubado.
A deliquescente União Europeia, às voltas com a austeridade e os défices, obstinação que tem depauperado o processo de de-senvolvimento europeu - particularmente, e com grave dano, nos países com economias mais vulneráveis -, está a ver-se entre a cruz e a caldeirinha com os milhares de refugiados, famintos e desesperados, que debalde clamam proteção, e se veem rejeitados. As exceções são pequenas gotas no oceano do desastre humano que se desenrola. E quem mais pode não é quem mais faz: as opiniões públicas, desinformadas e manipuláveis, levam a reboque qualquer cartilha de ética e de direitos humanos. O racismo e a xenofobia assobiam, a extrema-direita ajeita-se e alastra. Futuram-se tempos sombrios. Uns temem pelo seu bem-estar, assusta-os o desassossego, trancam os cofres ou, se cofres não têm, levantam muros. Outros, mais dados à miscelânea e afeitos ao calor do sol, não cuidam tanto de aferrolhar e até se dão ao luxo de dividir o pouco que têm.
Senão vejamos: a Grécia, mergulhada numa crise sem precedentes, foi criticada por recolher muitos náufragos e dar-lhes guarida. Portugal, afundado em ameaças de bancarrota, ofereceu-se para receber mais do que a quota. Havemos de sobreviver, para bem-aventurança nossa e descanso dos nossos parceiros.
Descanso e deleite, a bem dizer. Portugal tem sido referido na imprensa internacional como um destino turístico de eleição, tendo até já sido considerado o melhor destino europeu. Neste contexto, as dificuldades e os problemas do país não vêm ao caso, espera-se é que Portugal esteja prontinho para bem receber os turistas: clima de feição e sítios encantadores estão garantidos, comidinha boa e simpatia a condizer não faltam. E do dinheirinho que cá deixarem estamos bem precisados. Receber, pois, é a nossa vocação forçada, que a estratégica ainda tem muito que se lhe diga...
Assim, Lisboa e Algarve já têm saída assegurada. O Alentejo começa a dar nas vistas. Cá no Norte, o Porto está na moda e a gente agradece. Mas há muito mais para ver, visitar e conhecer. Braga, por esta altura, entrega-se às solenidades da Semana Santa, misto de religiosidade e tradição. E por estas terras adentro abundam vilas e aldeias, cidades e patrimónios.
Desperdiçamos? Também. Não tanto como os mais ricos. A pobreza também mora aqui. Da era dos “pobrezinhos mas honrados” queremos distância, no tempo e no modo. O desperdício terá de ser o nosso inimigo. A fome, por longe que ande, tem de ser escorraçada. Carpe diem!
23/03/2016
Maria Helena Magalhães
opiniao@newsplex.pt
Jornal i
Segundo dados da FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura -, o desperdício alimentar mundial ronda 1,3 milhões de toneladas por ano, ao mesmo tempo que cerca de 800 milhões de pessoas passam fome. Contas feitas, o que é desperdiçado dava para alimentar o dobro dessas pessoas! E assim vai o mundo. Como se não bastasse, os milhões de deslocados e refugiados que as guerras produzem enquanto alimentam a indústria do armamento e dão largas à barbárie e à bestialidade dos tiranos - sob proteção de interesses inenarráveis, embora previsíveis... - sentem a fome rondar-lhes as vidas e avolumar as desgraças que lhes tolhem o futuro, que o presente já lhes foi roubado.
A deliquescente União Europeia, às voltas com a austeridade e os défices, obstinação que tem depauperado o processo de de-senvolvimento europeu - particularmente, e com grave dano, nos países com economias mais vulneráveis -, está a ver-se entre a cruz e a caldeirinha com os milhares de refugiados, famintos e desesperados, que debalde clamam proteção, e se veem rejeitados. As exceções são pequenas gotas no oceano do desastre humano que se desenrola. E quem mais pode não é quem mais faz: as opiniões públicas, desinformadas e manipuláveis, levam a reboque qualquer cartilha de ética e de direitos humanos. O racismo e a xenofobia assobiam, a extrema-direita ajeita-se e alastra. Futuram-se tempos sombrios. Uns temem pelo seu bem-estar, assusta-os o desassossego, trancam os cofres ou, se cofres não têm, levantam muros. Outros, mais dados à miscelânea e afeitos ao calor do sol, não cuidam tanto de aferrolhar e até se dão ao luxo de dividir o pouco que têm.
Senão vejamos: a Grécia, mergulhada numa crise sem precedentes, foi criticada por recolher muitos náufragos e dar-lhes guarida. Portugal, afundado em ameaças de bancarrota, ofereceu-se para receber mais do que a quota. Havemos de sobreviver, para bem-aventurança nossa e descanso dos nossos parceiros.
Descanso e deleite, a bem dizer. Portugal tem sido referido na imprensa internacional como um destino turístico de eleição, tendo até já sido considerado o melhor destino europeu. Neste contexto, as dificuldades e os problemas do país não vêm ao caso, espera-se é que Portugal esteja prontinho para bem receber os turistas: clima de feição e sítios encantadores estão garantidos, comidinha boa e simpatia a condizer não faltam. E do dinheirinho que cá deixarem estamos bem precisados. Receber, pois, é a nossa vocação forçada, que a estratégica ainda tem muito que se lhe diga...
Assim, Lisboa e Algarve já têm saída assegurada. O Alentejo começa a dar nas vistas. Cá no Norte, o Porto está na moda e a gente agradece. Mas há muito mais para ver, visitar e conhecer. Braga, por esta altura, entrega-se às solenidades da Semana Santa, misto de religiosidade e tradição. E por estas terras adentro abundam vilas e aldeias, cidades e patrimónios.
Desperdiçamos? Também. Não tanto como os mais ricos. A pobreza também mora aqui. Da era dos “pobrezinhos mas honrados” queremos distância, no tempo e no modo. O desperdício terá de ser o nosso inimigo. A fome, por longe que ande, tem de ser escorraçada. Carpe diem!
23/03/2016
Maria Helena Magalhães
opiniao@newsplex.pt
Jornal i
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