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Estados de Alma
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Estados de Alma
1. Brasil. Há uma década falávamos dos BRIC, do caso forte para uma candidatura a membro permanente do Conselho de Segurança ou de como o anátema de ser o ‘eterno país do futuro’ parecia ter sido ultrapassado. Hoje somos confrontados com a nomeação do ex-presidente Lula da Silva para Chefe da Casa Civil da Presidente Dilma. Já seria grave se fosse para ter poder a sério, à la Putin; mas assim, para escapar a processos judiciais, é simplesmente vergonhoso. O que caracteriza um país desenvolvido não é a capacidade de produzir aviões, ter centrais nucleares ou uma elite sofisticada. Os países desenvolvidos caracterizam-se pela qualidade das suas instituições e pela força do estado de direito. O Brasil regrediu décadas. Hoje não é diferente da Venezuela, da Rússia, das cleptocracias africanas ou de uma qualquer república das bananas. Voltou a ser um país subdesenvolvido. Dilma Rouseff tem de sair.
O Brasil regrediu décadas. Hoje não é diferente da Venezuela, da Rússia, das cleptocracias africanas
2. Ecos de um passado longíquo. Há muito que o sinto – e outros provavelmente já o notaram –, mas foi um artigo de Edward Luce no Financial Times do passado dia 14 (Troubling warnings from the 1930’s) que veio conferir consistência a esse sentimento. Pensemos na prolongada crise económica, no desemprego de longa duração, na fragilidade do sistema financeiro ou na crescente revolta contra as desigualdade na distribuição de rendimento. Pensemos no pessimismo geracional ou no conflito de gerações. Pensemos no reforço da extrema esquerda anti-mercado e anti-democracia na América Latina, na Espanha, em Portugal e na Grécia. Pensemos nos regimes ‘musculados’ que surgem na Rússia, Hungria ou Turquia (e em como apelam ao eleitorado republicano à presidência nos EUA). Pensemos no recrudescimento populismo iliberal, isolacionista, anti-comércio-livre, anti-emigração e xenófobo, que faz o seu caminho na América, no Reino Unido, na França, na Alemanha, na Hungria, na Polónia ou na Eslováquia. Sei bem que a situação é muito diversa daquela que se viveu (sobretudo na Europa) há um século. Mas não posso deixar de sentir que nós, os democratas liberais, nos sentimos de novo acossados.
3. «Beggar thy neighbour». A expressão inglesa é universalmente usada para caracterizar as políticas económicas em que uma país tenta estimular a sua economia à custa dos ‘vizinhos’. O exemplo típico é uma desvalorização cambial, que procura desviar a procura global para a produção de um país em desfavor dos produtores concorrentes de outros países, como num jogo de soma nula. É óbvio que esta política apenas pode trazer resultados transitórios e que é ultimamente autodestrutiva. A política monetária da generalidade dos bancos centrais –taxas de juro negativas e quantitative easing – é para muitos o equivalente modernos daquelas políticas. Com o crédito bancário ‘entupido’, o principal canal pelo qual os estímulos monetários impactam as economias é promovendo a desvalorização cambial. Mas, tal como aconteceu com as chamadas ‘desvalorizações competitivas’, esta estratégia não é robusta. Foi este ponto que o governador Carney do Banco de Inglaterra fez no último encontro dos G20. Mas, como o vice governador Constâncio do BCE notou esta semana, não há muito mais que os bancos centrais possam fazer. O resto, depende dos governos e não dos governadores.
José Ferreira Machado | 24/03/2016 09:04
SOL
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