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Paris-Bruxelas, a guerra no meio de nós
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Paris-Bruxelas, a guerra no meio de nós
O combate será longo, projetado e de intensidade variável mas contínuo. Ninguém está excluído
Bruxelas, centro nevrálgico europeu, foi atacada por associados a Salah Adbeslam, provocando mortes, feridos e caos no aeroporto de Zavetem e entre as estações de metro de Schüman e Maelbeek, tendo assim os terroristas atingido os seus objetivos, pelo centro de gravidade simbólico que é Bruxelas (sede das instituições europeias e do quartel-general da NATO) e pela consequente incontornável exposição mediática.
Que objetivos são esses? A coação violenta sobre os Estados no sentido de os condicionar na liberdade de ação de acordo com a agenda/interesses da entidade terrorista. A coação física e psicológica é amplificada pelo espaço mediático configurando uma operação de guerra de informação, vetor fundamental de qualquer estratégia terrorista de nova geração, leia-se desde o 11 de setembro.
Como mais uma vez foi evidente, atores com parcos recursos (armas automáticas e explosivos artesanais cujo investimento individual não atinge os 1000€) mas forte determinação, provocam efeitos assimétricos, ou seja uma relação custo/benefício altamente favorável. Devido à violência que escala rapidamente no número de mortos, feridos, pelo impacto económico e pelo condicionamento que coloca sobre o poder política que passa a gerir a crise em estado de exceção, suspendendo os direitos, liberdades e garantias, estes fenómenos têm sido classificados pelos políticos como atos de guerra (Bush, Hollande, Putin) e os teorizadores classificando-as como guerras híbridas.
Existem variantes do terrorismo e no caso de Bruxelas, a matriz islamita está presente e serve de suporte narrativo à ação destas células que recrutam jovens de segunda e terceiras gerações, nas redes sociais e nas mesquitas, promovem a formação técnico/tática em centros de treino existentes em áreas de influência, como é o caso da Síria/Iraque e aqui mais perto, na Líbia. Por falar em proximidade, refiro que a maior parte dos estrangeiros presentes na Síria, integrando as fileiras do Da’esh são tunisinos e o próprio Adbeslam é de origem marroquina.
Já em novembro de 2015, no seguimento dos atentados de Paris, o primeiro-ministro belga Charles Michel assumia o risco elevado de atentado considerando a presença conhecida de Abdeslam, Najim Laachraoui e Mohamed Abrini, no subúrbio de Molenbeek, que usaram esta localidade como espaço de recuo após os atentados de Paris.
Najim Laachraoui e Mohamed Abrini, tudo indica, foram os perpetuadores dos atentados de Bruxelas e terão atuado de forma a evitar serem alvo das forças de segurança, que após a detenção de Abdeslam na sexta-feira, dia 18, passaram a dispor dessa informação. As declarações do seu advogado de defesa dando indicação do potencial repositório de informações que representa o seu cliente e da disposição para colaborar com as autoridades, poderão ter sido o fator despoletador da operação. Por isso mesmo é preciso muito cuidado com a gestão de informação nestes domínios. As consequências podem ser imprevisíveis.
Como é então possível que os atentados ocorram quando os serviços de segurança dispõem de informações como as indicadas? A minha resposta assenta em dois aspetos:
1 – Os terroristas instalam-se em comunidades “guetisadas” onde lhes é mais fácil estruturar uma base de apoio e onde as autoridades têm dificuldade em penetrar;
2 – As polícias e serviços de segurança estão estruturalmente mal organizados. Na Bélgica as polícias são de base local/regional com comandos independentes o que dificulta a cooperação e a fundamental troca de informações. Não posso deixar de lembrar (e não querendo ser exaustivo) que em Portugal existe uma dezena de polícias criminais, três entidades com unidades táticas antiterrorismo, dois serviços de informações mais um serviço partilhado, o que para além das ineficiências, revela bem das dificuldades de coordenação associadas.
A dissimulação dos terroristas em comunidades locais de grandes metrópoles e as disfuncionalidades dos serviços e forças de segurança, não por culpa dos agentes mas das estruturas organizacionais, entenda-se, a que acresce as limitações legais ou culturais no que ao acesso aos metadados e mesmo ao conteúdo das comunicações diz respeito, concorrem para vivermos “a guerra no meio de nós”.
E está no meio de nós porque ao longo das últimas décadas a Europa embarcou num relativismo de valores, afastando do processo de formação dos jovens os pilares onde assentavam os nacionalismos. Deus, pátria e família, tornou-se uma trilogia maldita, por oposição ao laicismo, à desestruturação social, e até ao anarquismo. O problema foi que ao expurgar os valores da formação dos jovens, deixou-se espaço vazio para a sua ocupação pelos oportunistas esclarecidos, como são alguns “imãs” radicais.
“A guerra no meio de nós” está aí para ficar. O combate será longo, projetado e de intensidade variável mas contínuo.
Ninguém está excluído, nem mesmo nós aqui no cantinho. Não vai desaparecer mesmo que aumentemos os recursos ao dispor das autoridades de segurança e judiciais. No entanto, não o fazer é suicidarmo-nos coletiva e paulatinamente. E aí os terroristas seremos nós, porque permitiremos a destruição das nossas sociedades, esgotaremos a democracia e perderemos todas as conquistas civilizacionais de que nos orgulhamos por comparação a outros modelos, mesmo que de inspiração divina.
Nuno Perry Auditor de defesa nacional
Diário de Notícias da Madeira
Quinta, 24 de Março de 2016
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