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A espiral da asneira
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A espiral da asneira
Ou seja, arriscamo-nos a uma espiral de medidas desproporcionadas ou inadequadas, alimentadas por uma franja de ativistas e aproveitadas por quem quer tirar partido disso. Bom exemplo disso foi a manifestação da extrema-direita belga, pronta e acertadamente contrariada pela polícia.
Casa roubada, porta trancada. Este aforismo pode aplicar-se a um largo espectro de situações, e não apenas ao vulgar furto de uma modesta residência de aldeia, de onde partiu esta sábia frase.
O evoluir da situação na Europa, com particular ênfase na Bélgica, parece ser uma aplicação literal da frase acima referida. Depois de uma larga tradição de laxismo, em que nada se fazia, eis que toda a gente parece obcecada pela necessidade de ação. Daí que as operações de busca tenham decorrido sem protestos de maior, coisa impensável antes dos atentados.
De todas estas movimentações, são de reter duas afirmações, proferidas no rescaldo dos atentados.
A primeira, a do ministro belga que teria confessado, candidamente, que o seu país não tinha um serviço de informações. Ora, nenhum país soberano pode aspirar a garantir um mínimo dessa soberania sem um serviço de informações – e nem precisa de uma constelação de satélites e da interceção sistemática das comunicações para isso: basta lembrar o caso de Israel.
Claro que um serviço de informações é uma faca de dois gumes: se não for politicamente e judicialmente controlado, pode entrar numa espécie de auto gestão, com o atropelo das garantias democráticas e distanciando-se do real interesse nacional. Ou então, ficar ao serviço, não do Estado, mas de um governo, ou, pior ainda, de um grupo económico. Qualquer semelhança com Portugal não é pura coincidência…
A segunda é a afirmação bombástica do Presidente da Turquia, chamando incompetentes aos governos europeus, por não terem levado em conta os avisos dados pelo seu país quanto à periculosidade de alguns elementos, nomeadamente os extraditados.
A resposta revela aquela candura já referida: um dos extraditados era do foro criminal. Falta de memória: basta lembrar a guerra da Argélia, particularmente a chamada batalha de Argel, e o papel nela desempenhado, entre outros, por Ali La Pointe, um marginal reconvertido à ação política, mas usando os mesmos métodos facinorosos.
Isto faz lembrar aquela tirada de Friedrich Nietzsche, acerca da relação roubo/assassinato: não digam que ele (o marginal) tinha necessidade de roubar, e matou; digam antes que ele tinha necessidade de matar, e roubou…
De modo politicamente correto, os ministros comunitários do Interior e da Justiça entenderam ser de reforçar a fronteira comum da Comunidade Europeia. Até aqui, muito bem; em princípio, estamos todos de acordo, não só pela segurança, como sobretudo pela repressão de várias atividades ilegais ou criminosas.
Mas o tal princípio de trancas à porta tem por vezes desenvolvimentos perversos, mais ligados a um espírito de vingança do que à eficácia ou legitimidade das ações. Um caso típico é o da Segunda Guerra do Golfo, para a qual se inventaram sérios motivos, depois desmentidos, e da qual resultou o atual estado de coisas.
Ou seja, arriscamo-nos a uma espiral de medidas desproporcionadas ou inadequadas, alimentadas por uma franja de ativistas e aproveitadas por quem quer tirar partido disso. Bom exemplo disso foi a manifestação da extrema-direita belga, pronta e acertadamente contrariada pela polícia.
O problema está em que a maioria dos terroristas até agora referenciados são cidadãos europeus de pleno direito; foi mesmo por isso que um deles foi extraditado para a Bélgica, seu país de origem. O mesmo se passa com os recrutados em vários países, incluindo Portugal, para combater no ISIL, muitos deles nascidos e criados bem dentro da Comunidade Europeia, beneficiando dos sistemas de Saúde, de Educação e de Segurança Social dos países comunitários, que agora, ao que parece, são profundamente odiados!
Portanto, o grande problema não parece ser o controlo das fronteiras, por onde pretendem entrar os que querem mudar de vida, mas saber o que falhou na integração de uma parte dos seus próprios cidadãos, agora ativistas anti Ocidente.
Só que isso levanta problemas complicados, que não se resolvem só com a criação (com o consequente custo) de um sistema comum de controlo de fronteiras, com largo benefício para os adjudicatários de tal sistema. Pode mesmo dizer-se que a criação de uma super guarda de fronteiras representa uma manobra clássica de transferência de culpa – coisa muito do agrado de certo tipo de políticos. Por outras palavras: Donald Trump não teria uma ideia melhor! E lá voltamos à tal espiral de medidas de eficácia duvidosa, face ao assumido fim em vista.
Portugal era, e voltou a ser, um país de emigração. Mais de dois milhões de portugueses conhecem bem a diferença entre uma política oficial de acolhimento e as duras realidades da discriminação, da exploração, da xenofobia. Quem melhor colocado para compreender este fenómeno?
A questão está em aceitar a diferença, conviver com ela, e até tirar partido dela. O radicalismo tem sempre origem na discriminação e marginalização, geradoras daquela raiva que leva às atitudes extremas. E isto não se consegue por decreto, mas pela educação, pelo exercício da cidadania, por medidas que contrariem a discriminação. Se há tanta preocupação quanto à discriminação do género, porque não quanto a outras discriminações, como se fez nas Forças Armadas dos EUA?
Será isto utopia? Recomendo uma viagem além Atlântico, até ao Novo Continente. Não até aos Estados Unidos da América, em que certas intervenções sobre imigrantes durante as primárias das eleições presidenciais são deveras preocupantes. Mas mais a Norte, no Canadá: um país que sabe muito bem lidar com a diferença e tirar partido dela.
E o mais notório é que são ambos países de imigração…
Pretender extrapolar o comportamento de uns quantos marginais para a totalidade de um grupo social é clássico do chamado “raciocínio por gavetas” que é normalmente utilizado por toda a gama de populistas. É fácil, é cómodo, é direto; mas leva inevitavelmente à espiral da asneira. Lembremos a Alemanha dos anos trinta do século XX, e como um povo com todos os índices de civilização pactuou com a barbárie.
30.03.2016 - 14:25
Por Nuno Santa Clara
Barreiro
ROSTOS.pt
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