Ulalá

Qualquer um de nós gostava de poder dizê-lo alto e bom som: "Não sou eu que defino o meu salário". Sobretudo se esse salário for de 5,24 milhões de euros por ano, ou, para não vos obrigar a recorrer à calculadora do telemóvel, 14 500 euros por dia. Imagine que sente um desejo urgente de beber um café a meio da manhã e faz um intervalinho. Se você for esta pessoa que não define o seu salário, e demorar cinco minutos nesse coffee break, embolsou logo 50 euros. Todos gostávamos, por isso, de ser Carlos Tavares, o gestor português que lidera a gigante automóvel PSA, que agrupa Peugeot e Citroën. "Quem decide é a Comissão de Supervisão e não posso fazer nada". Ter um português que recebe uma fortuna por fazer o seu trabalho que não seja o Cristiano Ronaldo devia orgulhar-nos. Só não acho lá muito coerente que tenham sido uns (a tal comissão) a decidir o que ganha Carlos Tavares, mas que tenha sido graças a outros (os assalariados), alguns despedidos, outros com salários congelados e outros com aumentos de oito euros por mês, que o orçamento ganhou folga para poder desresponsabilizá-lo da penosa missão de definir como é compensado. Carlos manda cortar, a comissão manda aumentá-lo. Como é que se diz, em Francês, "é a economia, estúpido!"?

Pedro Ivo Carvalho
02 Abril 2016 às 00:02
Jornal de Notícias