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ONDE FALHÁMOS COM OS NOSSOS JOVENS?

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ONDE FALHÁMOS COM OS NOSSOS JOVENS? Empty ONDE FALHÁMOS COM OS NOSSOS JOVENS?

Mensagem por Admin Dom Abr 03, 2016 5:50 pm

ONDE FALHÁMOS COM OS NOSSOS JOVENS? 20151116-the-hunger-games-mockingjay-part-two-2

Aquando jovem, na condição legal de jovem, quero dizer, arrisquei muito pouco e dividi-me entre o que o mundo esperava ver de mim e o que eu esperava de mim consoante o que o mundo esperava. – Pode dizer, a culpa é minha por assumir essa imagem que em muito pouco me serviu completamente. Pode dizer: que pena, tivesses arriscado. Mas o que nunca ninguém nos conta verdadeiramente, sem quaisquer entraves ou expectativas, é que um dia a nossa juventude vai passar e essa preocupação será apenas um remoer lento de todas as coisas que deixámos de poder fazer.

A minha mãe sempre me repetiu para sair o quanto eu quisesse, para fugir o mais que pudesse das imagens reproduzidas em massa, dos sentimentos assoberbados e soberbos – quis-me jovem enquanto eu anunciava uma juventude perita na consequência da tristeza crónica. Ela nunca percebeu e eu muito menos que esta tristeza crónica é o mal do século – uma doença que parece não ter cura aparente a não ser a inconsequência que é tentar fugir-lhe. Eu nunca tentei fugir-lhe; é por isso que hoje vos escrevo este artigo, para que, veementemente, digam e saibam ajudar os vossos filhos, netos, amigos a fazê-lo.

Os jovens estão cansados e ninguém o sabe. Estão cansados de uma vida que ainda não estão a viver, mas que os persegue para onde quer que vão. Fica ali, naquele canto escuro do cérebro e em noites de tempestade é tudo o que conseguem realmente ouvir: uma cassete em constante replay que lhes fala das medidas de valor e as converte para uma urgência em ser alguém antes sequer de saber ser. – Saber ser. A sabedoria mais importante que se pode desenvolver passa hoje para último na escala de importância das aprendizagens. Sim, antes do saber respeitar, antes do saber estar, antes do saber lutar por uma carreira está implícita a necessidade de saber quem somos. Esta necessidade quando não satisfeita num primeiro momento vai acabar por persegui-los constantemente até que os mesmos digam: chega. Mas como dizer chega quando nem fazemos ideia de que é um chega de que precisamos?

A doença do século é a urgência em crescer quando crescer é um processo que leva tempo e paciência – não para os que crescem, mas principalmente para os que devem acompanhar o crescimento. E crescer impinge-nos uma certa certeza de quem somos naquele momento (porque nunca o seremos para sempre: a constante mudança é, simultaneamente, a mais atroz e mais perfeita forma de provar a evolução) certeza essa que, acredite, não será nunca a imagem que a sociedade quer ter de nós. Ou deles. Sim, ainda me considero na procura, mas, novamente, qual de nós não considera?

A questão, caro leitor, é a forma como monopolizamos a nossa juventude para gerar seres que correspondam às nossas perspectivas. Dizemos-lhes, repetidamente, todos os dias, que têm que ser bons alunos, bons amigos, bons filhos, bons rapazes, boas raparigas. Que têm que calçar esta marca de calçado e caminhar com aquela marca de smartphone na mão para ter um certo status que nem nós percebemos muito bem, mas que lhes garante estes amigos e aquela imagem e, acima de tudo, a nossa fama de bons pais. No fundo, pouco nos importa que os nossos jovens não saibam que no outro lado do mundo uma criança morre de fome ou que um jovem com a sua idade tenha em mãos uma arma. No fundo, pouco nos importa se o seu crescimento se resume apenas a um momento no tempo em que vêm o telejornal e eles nos perguntam o que se passa e nós lhes respondemos “Não é nada connosco” ou “Não tens idade para perceber isso”. Mais tarde vamos comentar como esta geração é fútil e triste mas esquecemo-nos que nos cabia a nós ensiná-la a ser diferente. Acompanhá-la nessa diferença que passa por deixá-la crescer e crescer com ela.

Faz pouco tempo tinha uma conversa com uma cara amiga minha que tem a mesma idade que eu. Ela estuda em Lisboa e criou um grupo de amigos lá em que é acarinhada e, penso, compreendida. Isto não me causa qualquer impressão, o que me causou impressão foi a forma como ela falou de pobreza e riqueza como se ambos os conceitos e a sua materialização fossem relativos. Contava-me ela com a maior naturalidade que amigos dela gastavam entre 100 a 200 euros por noite e que agiam como se tivessem gasto entre 5 a 10 euros. Eu, que não fui educada assim, fiquei espantadíssima e só conseguia balbuciar: “Eles têm noção que há famílias a morrer de fome?” A resposta foi apenas: “Os pais deles podem.”

Queridos pais, como podem dar 200 euros aos vossos filhos para saírem numa noite mas não podem estar com eles e explicar-lhes que a vida dá voltas e um dia esses 200 euros podem não existir? Como podem não despender tempo a ensinar aos vossos filhos a importância do trabalho e a importância de se ser para além do trabalho, e do dinheiro, e do status e da imagem?

Quando a imagem não for a esperada, quando o dinheiro não lhes comprar essa imagem e essa imagem não for suficiente para o status, que restará aos nossos jovens? A tristeza crónica de não se conhecerem além do que os outros conhecem que nunca é o que os nossos jovens querem ser, mas o que a sociedade espera que eles sejam. Quando os nossos jovens deixarem de brincar aos adultos resta-lhes apenas serem reais adultos, coisa que, vou percebendo, pouco tem a ver com o que acham que é. Eu mesma tive uma surpresa nesse aspecto.

Caro leitor: estou preocupada. Fico realmente preocupada quando penso que tenho uma irmã de 10 anos e que ela vai crescer nesta sociedade em que as personalidades são como o fast-food e as figuras adoradas são feitas de plástico e máscaras dedutíveis no ordenado do mês. Fico realmente preocupada quando penso que educamos os jovens para se inserirem numa sociedade que os rebaixa e os encara como crianças nos aspectos importantes, mas que, livremente, os deixa ser adultos para com as questões mais básicas e insignificantes que no fundo não são assim tão insignificantes: elas hão sempre de os perseguir.

De uma recém adulta que vê hoje a sua juventude a fugir-lhe das mãos como pó no centro de um vendaval, recebam este humilde conselho: sejam inocentes até que possam. Sejam jovens até que possam, mas jovens na realidade e não jovens apenas para o que importa. Saibam aproveitar o momento em que podem ser de tudo um pouco e perceber, com calma, o que é que são realmente. Pais, avós, avôs, tios, tias, irmãos, irmãs, ajudem os vossos jovens nesta tarefa, nesta fase de vida. Sejam vocês a figura que eles admiram e mostrem-lhes o mundo com o cuidado e a claridade necessária, devagar, mas conscientemente. Acima de tudo não lhes imponham a ideia que a sociedade quer ter deles, não os atolem em rótulos e etiquetas, ideias pré-concebidas usadas apenas para os tornar mais um fantoche. Consigam dar-lhes uma saída, talvez não mais fácil ou passível de dor, mas mais fiel ao que eles realmente são.

No fundo foi apenas aí que falhámos com os nossos jovens – Ao tentar enfiá-los á força num molde onde eles não servem, mas onde fazem por servir. Vão cortando aqui e ali e um dia cortam as asas necessárias para a procura deles mesmos. - E quando derem por isso são recém-adultos, como eu, e o tempo de procura terminou.

Inês Valadas
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3 Abril 2016      09:42
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