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Mundos paralelos
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Mundos paralelos
Estranho Mundo este que trata milhares de refugiados - homens, mulheres, crianças - como portadores da peste, os encurrala junto a fronteiras de arame farpado e os manda de volta para a guerra de onde fugiram. Uma realidade trágica a coabitar com esquemas de fraude fiscal, branqueamento de capitais, legitimados pelas grandes empresas de advogados que atuam à escala planetária.
São uma espécie de tremor de terra, como se ninguém ou quase ninguém tivesse escapado, as informações conhecidas nas últimas horas. Uma investigação de um grupo de jornalistas fez emergir um verdadeiro polvo com tentáculos em múltiplos países. Difícil encontrar, parece, entre os senhores de muito dinheiro, quem não tente ludibriar o Estado. Mais: representantes máximos de alguns estados, assegura a investigação, estão alegadamente envolvidos neste escândalo sem precedentes.
O que se soube agora deve fazer pensar. Sobretudo os cidadãos. Não tardaram vozes oficiais, vindas um pouco de todo lado, a lamentar e dizer que vão investigar. Mas já ouvimos isso tantas vezes. Demasiadas vezes para que consigamos acreditar na bondade dos lamentos. Contudo, se nada acontece, algo de muito grave está, de facto, a minar o explosivo Mundo em que vivemos.
No escândalo conhecido como "Panama Papers" estão lá (quase) todos. Artistas, jogadores de futebol, traficantes de armas e droga, referenciados em listas negras internacionais. Também políticos: chefes de Estado, atuais e ex-primeiros-ministros e alguns dos seus familiares. E este subgrupo é, talvez, o que provoca a grande náusea. Enquanto se entretém a escolher a offshore que melhor esconde os seus proveitos ilícitos, o povo perece à míngua, em muitas situações, do mais básico.
As campainhas soaram. As palavras ditas ontem por muitos dirigentes políticos terão de ter consequências. E a primeira, para além de todas as investigações sobre o crime a que estamos a assistir, será pôr termo aos paraísos fiscais. Depositar dinheiro em offshore, refira-se, não é por si só sinónimo de vigarice. Mas quem o faz tem, com certeza , o propósito de esconder algo.
A Mossack Fonseca é apenas uma entre muitas empresas de advocacia ao serviço na próspera área. E isso deve também fazer-nos pensar. Se uma só empresa provoca tal terramoto, o que será se, um dia, toda a verdade vier à superfície?
O "Panama Papers" mostra outra coisa importante para a manutenção da democracia, da sociedade livre: o jornalismo cumpre o seu papel, quando vai além da voragem da espuma dos dias.
PAULA FERREIRA, EDITORA-EXECUTIVA-ADJUNTA
05 Abril 2016 às 00:05
Jornal de Notícias
São uma espécie de tremor de terra, como se ninguém ou quase ninguém tivesse escapado, as informações conhecidas nas últimas horas. Uma investigação de um grupo de jornalistas fez emergir um verdadeiro polvo com tentáculos em múltiplos países. Difícil encontrar, parece, entre os senhores de muito dinheiro, quem não tente ludibriar o Estado. Mais: representantes máximos de alguns estados, assegura a investigação, estão alegadamente envolvidos neste escândalo sem precedentes.
O que se soube agora deve fazer pensar. Sobretudo os cidadãos. Não tardaram vozes oficiais, vindas um pouco de todo lado, a lamentar e dizer que vão investigar. Mas já ouvimos isso tantas vezes. Demasiadas vezes para que consigamos acreditar na bondade dos lamentos. Contudo, se nada acontece, algo de muito grave está, de facto, a minar o explosivo Mundo em que vivemos.
No escândalo conhecido como "Panama Papers" estão lá (quase) todos. Artistas, jogadores de futebol, traficantes de armas e droga, referenciados em listas negras internacionais. Também políticos: chefes de Estado, atuais e ex-primeiros-ministros e alguns dos seus familiares. E este subgrupo é, talvez, o que provoca a grande náusea. Enquanto se entretém a escolher a offshore que melhor esconde os seus proveitos ilícitos, o povo perece à míngua, em muitas situações, do mais básico.
As campainhas soaram. As palavras ditas ontem por muitos dirigentes políticos terão de ter consequências. E a primeira, para além de todas as investigações sobre o crime a que estamos a assistir, será pôr termo aos paraísos fiscais. Depositar dinheiro em offshore, refira-se, não é por si só sinónimo de vigarice. Mas quem o faz tem, com certeza , o propósito de esconder algo.
A Mossack Fonseca é apenas uma entre muitas empresas de advocacia ao serviço na próspera área. E isso deve também fazer-nos pensar. Se uma só empresa provoca tal terramoto, o que será se, um dia, toda a verdade vier à superfície?
O "Panama Papers" mostra outra coisa importante para a manutenção da democracia, da sociedade livre: o jornalismo cumpre o seu papel, quando vai além da voragem da espuma dos dias.
PAULA FERREIRA, EDITORA-EXECUTIVA-ADJUNTA
05 Abril 2016 às 00:05
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