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Supremacia Espanhola
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Supremacia Espanhola
A Espanha é o quarto país da Europa com mais artigos publicados por milhão de habitante na área das ciências e tecnologias do mar, depois do Reino Unido, Dinamarca e dos Países Baixos, que lideram o ‘ranking’. Em 2001, Portugal e Espanha tinham uma produção científica equivalente nesta área do conhecimento. Espanha é também o país com a maior percentagem de artigos científicos publicados em cooperação com equipas Portuguesas (2005 a 2014). No período compreendido entre 1974 a 1983, Portugal cooperava essencialmente com o Reino Unido e com a França, mas a partir de 2004 o panorama mudou e passamos a colaborar mais com ‘nuestros hermanos’ (dados da ‘Pordata’ e ‘Web-of-Science’).
Coincidentemente, (ou não), em 2014 Espanha era também o país da Europa detentor da frota de pesca com maior capacidade de armazenamento do pescado a bordo, duas vezes superior à do segundo país no ‘ranking’ (UK), bem como uma das três frotas com mais potência (kW) disponível na Europa. Por outro lado, a maior parte (75%) da pesca Europeia decorre no Atlântico Nordeste (área 27 da FAO), e com a extensão da plataforma, a ZEE Portuguesa ostentará a maior percentagem desta área. No período compreendido entre 2002 e 2012, Espanha e França foram também os países da zona Euro (EU-28) com as maiores produções provindas de aquicultura (segundo dados do Eurostat).
Parece-me óbvio pela leitura dos números acima expostos, que existe uma forte relação entre o desenvolvimento do conhecimento científico e o desenvolvimento dos setores produtivos. Parece-me igualmente óbvio, que existem diferenças significativas entre os países que ‘falam’ muito de mar e aqueles que o conquistam através do conhecimento, transformando os seus recursos numa parcela significativa da economia real. Mais óbvio ainda é o fato de que para aumentar a expressão de um determinado setor na economia, os países começam normalmente por aumentar significativamente os níveis de investimento no conhecimento, que poderão contribuir para inovar e (eventualmente), aumentar os níveis de produção. É certo que nem tudo o que se investiga, nem todo o conhecimento gerado é imediatamente transformado em economia, mas é preciso investir muito em conhecimento para viabilizarmos novas oportunidades, que nos possam colocar na liderança, tal como demonstra a supremacia de Espanha neste sector.
Neste modelo de cooperação Espanha-Portugal, e com o espírito de podermos vir a conhecer melhor ‘o mar que nos une’, a Plataforma Oceânica de Canárias (PLOCAN) e o Observatório Oceânico da Madeira (OOM), juntaram esforços com a Marinha Portuguesa, para levar a cabo uma missão científica entre a costa sul da Madeira e a Ilha de ‘Gran Canária’, circum-navegando as Ilhas Selvagens na rota. Esta travessia de cerca de 250 milhas náuticas (463 km), será concretizada com recurso a um planador oceânico, munido de tecnologia robótica autónoma, conhecido na gíria científica como ‘glider’. O ‘glider’ fará mergulhos entre a superfície e os 1000 metros de profundidade e os dados serão transmitidos via satélite para um servidor em terra várias vezes ao dia. Os dados serão úteis para conhecermos melhor as características físicas e biológicas das massas de água, que circulam por esta bacia oceânica.
O sucesso da missão depende de muitos fatores, tais como o estado do tempo, a possível interação com a vida marinha e/ou com embarcações à superfície, entre outros. No entanto, outras missões de longa distância e maior duração uniram Nova York (EUA) à Galiza e a Islândia às Canárias, com recurso à mesma tecnologia, mas sem uma agenda científica, propriamente dita. Um planador oceânico não é uma tecnologia “barata”, mas recolhe dados autonomamente com uma resolução espacial e com uma frequência dificilmente atingível com um navio oceanográfico. A missão levará 2 meses a completar (Abril e Maio 2016), mas se fizermos contas um navio oceanográfico custa cerca de 10 mil euros por dia, 60 dias de dados custariam pelo menos 600 mil euros, logo um ‘glider’ paga-se a si próprio se coletar um mês de dados em contínuo, para além do fato de ser reutilizável com um pequeno investimento na sua manutenção.
Escusado será dizer que o ‘glider’ é Espanhol, e a missão está enquadrada no âmbito de um projeto do H2020 (‘Atlantos’), mas esta campanha servirá de ensaio para uma proposta de projeto Interegional, protagonizada pelo OOM em parceria com a PLOCAN e com o Fundo Regional para a Ciência e Tecnologia (FRCT) dos Açores, com vista a desenvolver um sistema de previsão e monitorização na Macaronésia, combinando a utilização de gliders e modelos matemáticos. Um vislumbre de um sistema de monitorização e previsão oceânica do futuro, onde (tal como no espaço), as máquinas recolhem os dados no meio hostil (neste caso no mar), e o Homem foca toda a sua capacidade na análise e interpretação da informação que chega a terra, via satélite.
O sucesso desta missão, bem como a oportunidade de desenvolver projetos futuros neste âmbito, colocará as Ilhas da Macaronésia na vanguarda da monitorização oceânica com recurso a tecnologias robóticas, abrindo novas oportunidades para desenvolver a economia destas ilhas. Estamos geo-estrategicamente posicionados no Atlântico, potenciemos a nossa ultraperiferia como uma plataforma de oportunidade para o futuro!
Rui Caldeira, Investigador e Docente Universitário
Diário de Notícias da Madeira
Segunda, 11 de Abril de 2016
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