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Mensagem por Admin Ter Abr 12, 2016 11:24 am

A faxina nos bancos portugueses é muito mais complexa do que uma esfregadela rápida para disfarçar. Os problemas são profundos, a economia nacional ajuda pouco, a da zona euro vacila e as leis de concorrência europeias são um convite expresso ao deixa andar, deixa rebentar - até ao dia em que implode um banco considerado sistémico aos olhos da UE e, então sim, num instante tudo muda para acomodar esses superiores interesses. O pânico continua a ser o incentivo que faz mexer a complacente Europa. Isso e o tamanho do freguês, além da influência de cada país nos centros de decisão onde se combinam as regras a aplicar.

Ainda assim, a ideia lançada por António Costa para juntar "o mono financeiro", é assim que o primeiro-ministro justamente lhe chama, num veículo capaz de acelerar o metabolismo bancário, talvez funcione se o plano for bem pensado e executado. Seria uma boa maneira de evitar problemas futuros com custos para os contribuintes (mais resgates) apesar de implicar forçosamente perdas imediatas para os acionistas e de a DG Comp europeia ser um obstáculo mais do que certo à iniciativa. Quanto ao risco moral de safar os bancos, talvez baste dizer que o risco material de os ver rebentar é pior para todos.

Neste fim de semana marcado por importantes notícias económico-financeiras, outra também merece ser sublinhada. Não só o novelo - ou a novela - BPI começa a desembrulhar-se ao fim de 15 meses de negociações infrutíferas, como trouxe em jeito de bónus um tema da maior relevância: a hipótese de um banco angolano ser cotado na bolsa nacional. Como sempre acontece nestes assuntos, logo que se conheceu esta possibilidade ouviram-se as habituais análises que apenas sublinham o risco de abrir as portas do mercado de capitais a companhias africanas.

Ora bem, convém perceber que a Bolsa de Lisboa quase não existe ou faz apenas fraca figura. As últimas OPV (Operação Pública de Venda) relevantes foram a da EDP Renováveis, há quase dez anos, e mais recentemente a dos CTT, esta com valores pequenos. O resto teve ainda menos expressão. De então para cá, a liquidez caiu a pique, a desvalorização dos títulos tem sido constante e os pequenos investidores, o chamado capitalismo popular, faz bem em manter-se à distância porque percebeu o fado enredo: acaba sempre mal, menos para algum capital...

O problema disto é que sem um mercado de capitais a funcionar, as empresas ficam dependentes do endividamento bancário, caro por definição, o que lhes retira capacidade para competir, até porque os juros continuam mais altos deste lado mais ocidental da UE, apesar do esforço do BCE para neutralizar a assimetria gritante.

Portanto, se a CMVM for exigente na análise dos processos de adesão, como deveria ser com todos os interessados, e se as empresas de Angola - não haverá mais do que um par delas - aceitarem plenamente as regras do jogo que implicam o cumprimento de normas e práticas de governança com standard europeu, então os riscos podem ser reduzidos a ponto de ser tornarem apetecíveis para os investidores. Perigo e risco haverá sempre, a bolsa não é um jogo de tabuleiro, a questão é saber se a supervisão faz o que lhe compete quando lhe compete e não quando o cadáver dá, digamos, à costa.

Além de poder ser útil para dar um sopro de vida ao moribundo PSI 20, a cotação do Banco de Fomento Angola ou, quem sabe, da Sonangol ajudaria essas empresas a evoluir, forçando todos à sua volta a ajustar-se a esses tempos. A integração económica, quando bem usada, é um acelerador de modernização e transparência, faz bem a todas as nações e aos seus povos, não apenas a uns poucos privilegiados.

Editorial
12 DE ABRIL DE 2016
00:01
André Macedo
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