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O que nos diz o ‘crash’ de Verão na bolsa chinesa
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O que nos diz o ‘crash’ de Verão na bolsa chinesa
Das primeiras impressões que tive quando vivia em Pequim foi a quantidade de pessoas empregadas numa mesma loja ou em pequenas obras. Nas geladarias Häagen-Dasz havia sempre mais funcionários do que clientes.
Das primeiras impressões que tive quando vivia em Pequim foi a quantidade de pessoas empregadas numa mesma loja ou em pequenas obras. Nas geladarias Häagen-Dasz havia sempre mais funcionários do que clientes.No supermercado do bairro, o Carrefour, trabalhava muito mais gente do que no equivalente em Portugal.
Para abrir uma vala na rua, a gestão municipal usava só força humana. Era assim em 2003 - e continua a ser assim.
O Partido Comunista Chinês tem um acordo tácito com a população: dá emprego e prosperidade em troca de poder autocrático. Oreceio do contágio entre instabilidade económica e política é grande. Ter a máquina a carburar é crucial.
Até 2008 a máquina chinesa carburou com a força das exportações e do investimento. Mas a crise do ‘subprime', e toda a onda de recessão e de austeridade que veio a seguir, levou os clientes ocidentais a comprarem menos. Num país já com muita capacidade instalada e muito crédito malparado, seria ideal tirar o pé do investimento e ter no consumo a alternativa. No entanto, e apesar da ascensão de uma nova classe média, o consumo não tem força para ser esse motor. É assim porque a classe média ainda é minoritária. E é assim porque, à falta de um Estado Social protector, essa classe média só pode confiar nas suas poupanças para estar segura na doença ou na velhice.
Sem poder contar com o consumo para suster o ritmo de crescimento desejado - que a elite política chinesa fixa em 7% -, as autoridades responderam carregando no investimento. Outra coisa que vi na China, quando voltei em 2005 e em 2010, foram ruas com prédios novos não ocupados. O investimento privado incentivado pela política monetária susteve o crescimento, mas à custa de mais construção em excesso e mais crédito malparado. Analistas da consultora asiática CLSA estimam que cerca de um quinto das casas construídas estarão vazias em 2016, um problema maior em cidades secundárias.
A má dívida foi parte da motivação política para atrair os chineses para a bolsa: as vastas poupanças da classe média ajudariam a financiar os balanços doentes de várias cotadas. Entre Novembro de 2014 e Junho deste ano, o índice de Xangai saltou de 1.699 para 4.128 pontos, uma bolha em contramão com a saúde das empresas e da economia. Este Verão dramático na bolsa chinesa significa a correcção deste excesso. Até aqui a queda foi "só" de 27% - há ainda muito por corrigir.
O ‘crash' da bolsa acordou o receio de nova recessão global. Oimpacto é negativo, mas desconfio que a China, apesar de ser a segunda maior economia do mundo, não tem tal nível de influência, sobretudo quando os EUA crescem a bom ritmo.
Mais interessante é o que ‘ crash' diz sobre os desafios estruturais que o poder chinês enfrenta: a necessidade de mudar um modelo económico esgotado; de criar um modelo social que não force tanta poupança dos particulares; de melhorar a governação opaca de bancos e de empresas; de deixar correr os ciclos económicos em vez de combatê-los com má política económica, alimentada pelo medo da instabilidade .
A forma como Pequim lidar com estes problemas complexos será importante para os 1,3 mil milhões de chineses, para a economia mundial - e para os alavancados grupos chineses que assumem, cada vez mais, uma posição proeminente na economia portuguesa. Tempos interessantes - e arriscados.
00:06 h
Bruno Faria Lopes
Económico
Das primeiras impressões que tive quando vivia em Pequim foi a quantidade de pessoas empregadas numa mesma loja ou em pequenas obras. Nas geladarias Häagen-Dasz havia sempre mais funcionários do que clientes.No supermercado do bairro, o Carrefour, trabalhava muito mais gente do que no equivalente em Portugal.
Para abrir uma vala na rua, a gestão municipal usava só força humana. Era assim em 2003 - e continua a ser assim.
O Partido Comunista Chinês tem um acordo tácito com a população: dá emprego e prosperidade em troca de poder autocrático. Oreceio do contágio entre instabilidade económica e política é grande. Ter a máquina a carburar é crucial.
Até 2008 a máquina chinesa carburou com a força das exportações e do investimento. Mas a crise do ‘subprime', e toda a onda de recessão e de austeridade que veio a seguir, levou os clientes ocidentais a comprarem menos. Num país já com muita capacidade instalada e muito crédito malparado, seria ideal tirar o pé do investimento e ter no consumo a alternativa. No entanto, e apesar da ascensão de uma nova classe média, o consumo não tem força para ser esse motor. É assim porque a classe média ainda é minoritária. E é assim porque, à falta de um Estado Social protector, essa classe média só pode confiar nas suas poupanças para estar segura na doença ou na velhice.
Sem poder contar com o consumo para suster o ritmo de crescimento desejado - que a elite política chinesa fixa em 7% -, as autoridades responderam carregando no investimento. Outra coisa que vi na China, quando voltei em 2005 e em 2010, foram ruas com prédios novos não ocupados. O investimento privado incentivado pela política monetária susteve o crescimento, mas à custa de mais construção em excesso e mais crédito malparado. Analistas da consultora asiática CLSA estimam que cerca de um quinto das casas construídas estarão vazias em 2016, um problema maior em cidades secundárias.
A má dívida foi parte da motivação política para atrair os chineses para a bolsa: as vastas poupanças da classe média ajudariam a financiar os balanços doentes de várias cotadas. Entre Novembro de 2014 e Junho deste ano, o índice de Xangai saltou de 1.699 para 4.128 pontos, uma bolha em contramão com a saúde das empresas e da economia. Este Verão dramático na bolsa chinesa significa a correcção deste excesso. Até aqui a queda foi "só" de 27% - há ainda muito por corrigir.
O ‘crash' da bolsa acordou o receio de nova recessão global. Oimpacto é negativo, mas desconfio que a China, apesar de ser a segunda maior economia do mundo, não tem tal nível de influência, sobretudo quando os EUA crescem a bom ritmo.
Mais interessante é o que ‘ crash' diz sobre os desafios estruturais que o poder chinês enfrenta: a necessidade de mudar um modelo económico esgotado; de criar um modelo social que não force tanta poupança dos particulares; de melhorar a governação opaca de bancos e de empresas; de deixar correr os ciclos económicos em vez de combatê-los com má política económica, alimentada pelo medo da instabilidade .
A forma como Pequim lidar com estes problemas complexos será importante para os 1,3 mil milhões de chineses, para a economia mundial - e para os alavancados grupos chineses que assumem, cada vez mais, uma posição proeminente na economia portuguesa. Tempos interessantes - e arriscados.
00:06 h
Bruno Faria Lopes
Económico
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